A REALIDADE DA FOME

                “Quem inventou a fome são os que comem”. Assim a escritora Carolina Maria de Jesus um dia abordou esse tema. Assim a CNBB, pela terceira vez, recoloca o assunto em uma Campanha da Fraternidade a nível nacional, por entender que “é dever e também direito da Igreja lidar com essas questões”, que mais uma vez 58,1% da população brasileira vive em algum nível de Insegurança Alimentar e 15,5% (33 milhões) passam fome (Dados do II Inquérito  VIGISAN- 2022). “É como se todos os habitantes das sete maiores cidades do Brasil ou todos os peruanos passassem fome” (40).

                A desigualdade num país que se diz celeiro do mundo, além de contraditória, é vergonhosa, assustadora. “A progressiva crise econômica e o desmonte das políticas públicas explicam o recrudescimento da insegurança alimentar” (42), pondera o TB da CF, que dá um diagnóstico da causa: o não incentivo à agricultura familiar, que produziria mais alimentos para a mesa do brasileiro. “A presença do agronegócio, por um lado, gera receitas e aquece o mercado externo e a exportação dos produtos agrícolas… por outro lado, a presença das pequenas propriedades permite maior diversificação da produção agrícola… No Brasil, em geral, não se produz para comer. Produz-se para lucrar e exportar” (47).

                Feito o diagnóstico, vem o problema. Como inverter ou ao menos conciliar esse conceito produtivo com a necessidade dos que pouco ou nada produzem. “Exportamos o que não consumimos. Mas não consumismo porque o salário é miserável” (51). O disparate da nossa desigualdade é hoje o maior fator da divisão político-social que bem conhecemos. E amargamos como povo outrora unido. “É condenável que seres humanos sejam deixados morrendo de fome por causa da indiferença egoísta, com desperdícios alimentares e inúteis refinamentos gastronômicos; é moralmente condenável quem banqueteia enquanto o pobre espera inutilmente à porta” (58).

                Fome e sede andam juntas. A escassez dos recursos hídricos e seu mau uso pela prioridade dada à geração de energia, também condena nossos conceitos de progresso. Precisamos tratar essa questão com mais racionalidade. No Brasil não existe um dado confiável sobre a triste realidade dos moradores de rua, simplesmente porque não possuem domicílio e o censo não os contabiliza. Aqui a fome campeia livre e solta. Mas “a questão da fome e a questão da moradia andam sempre juntas” (64), porque “o processo da globalização da indiferença e a cultura do descarte se reinventam com novas formas de gerar a exclusão” (65), nos coloca o Texto-base. Aqui estão algumas pinceladas do que temos de precioso nessas reflexões. Bom mesmo seria sua leitura pessoal. Ela nos devolve o senso crítico.

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