Santa Teresa de Calcutá e a Misericórdia

    Há exatos setenta anos, no dia 10 de setembro de 1946, data que ficou marcada nos anais da história de Madre Teresa de Calcutá e de suas Missionárias da Caridade, conhecida como o “Dia da Inspiração”, durante o qual, em uma viagem de trem ao noviciado do Himalaia, Madre Teresa deparou-se com um irmão pobre de rua, que lhe disse: “Tenho sede”! A partir disso, ela afirmou ter tido a clareza de sua missão: dedicar toda sua vida aos mais pobres dos pobres. Exatamente neste dia 10 de setembro, com a missa do “Rio Celebra”, em nossa Catedral Metropolitana, celebraremos a canonização de Santa Teresa de Calcutá.
    Após um tirocínio espiritual, como tempo de discernimento, com o auxílio do Arcebispo de Calcutá e de sua madre superiora das Irmãs de Nossa Senhora de Loreto (outra denominação do Instituto Beatíssima Virgem Maria, hoje Congregação de Jesus), Irmã Teresa saiu de sua antiga congregação para dar início ao trabalho missionário nas ruas de Calcutá. Começou por reunir um grupo de cinco crianças, num bairro pobre, ao qual ensinava numa escola improvisada. Pouco a pouco, o grupo foi crescendo. Dez dias depois, eram cerca de cinquenta crianças.
    Em 07 de outubro de 1950, Madre Teresa funda as Missionárias da Caridade, particularmente pela adesão de suas ex-alunas, que formaram o início desta grande Congregação, que é a maior distribuidora da misericórdia de Deus em favor dos mais pobres, dos últimos dos últimos da sociedade. Nesse sentido, está atual a grande clarividência da Santa fundadora: “A maior doença do Ocidente hoje não é a lepra nem a tuberculose, é ser indesejado, não ser amado e ser abandonado. Nós podemos curar as doenças físicas com a medicina, mas a única cura para a solidão, para o desespero e para a desesperança é o amor. Há muitas pessoas no mundo que estão morrendo por falta de um pedaço de pão, mas há muito mais gente morrendo por falta de um pouco de amor. A pobreza no Ocidente é um tipo diferente de pobreza – não é só uma pobreza de solidão, mas também de espiritualidade. Há uma fome de amor e uma fome de Deus”. Realmente, Santa Teresa de Calcutá fez um diagnóstico do que passamos em nossa sociedade. Ela testemunhou, com a sua vida e com a sua obra, que devemos superar todas as diferenças de pensamentos, de ideologias, de raça, de religião para viver a cultura do encontro. E é este o espírito que a norteou – acolher as pessoas e amá-las. Nesse sentido, não fundou hospitais ou outro tipo de casa profissional, mas, sim, casas de acolhimento.
    Num tempo de contestações e de rivalidades dentro de nossas famílias, nos ambientes de trabalho e até nos ambientes de lazer, pelo acirramento da ideologia em detrimento de um pensamento comum em favor da unidade nacional e da busca de novas esperanças, é atualíssima a convocação da Santa de Calcutá: “Sejam gentis uns com os outros na sua casa. Sejam gentis com as pessoas. Eu acho que é melhor você errar na bondade do que fazer milagres com falta de bondade. Muitas vezes, uma só palavra, um olhar, um gesto rápido, e as trevas enchem o coração da pessoa que amamos”.
    Em nossa Arquidiocese, as Irmãs da Caridade estão presentes em três casas, ressaltando que a Casa de Bonsucesso foi fundada pessoalmente por Santa Teresa de Calcutá. As Irmãs da Caridade têm um trabalho maravilhoso de atendimento aos moradores de rua, aos que não têm o que comer e beber. E elas vivem inteiramente da caridade dos fiéis, não aceitando nenhuma doação do poder público. No mundo de hoje, esse cuidado com os mais pobres lembra às pessoas a importância de sermos humanos no dia a dia. A canonização traz ao mundo esse olhar de amar ao próximo. E os cariocas revivem a lembrança do carisma da Madre Teresa quando esteve aqui nesta cidade.
    Por isso, nesta data especial em que entregamos ao público uma imagem da Santa na esplanada de nossa Catedral e entoamos nosso “Te Deum Laudamus” pela sua canonização, quero convidar, particularmente, as Missionárias da Caridade, os consagrados e as consagradas, a população de rua, as pastorais ligadas ao Vicariato para a Caridade Social para serem os animadores, e também nos empenharmos, como sempre foi o agir de Santa Teresa de Calcutá, no atendimento religioso e social aos irmãos e irmãs que vivem nas ruas de nossa cidade, e que sejamos todos solidários e preocupados com estes nossos irmãos que são os preferidos de Jesus. Nessa missão que é de todos, essas pastorais são sinais e incentivo.
    Santa Teresa de Calcutá chamou a atenção do mundo, católico e não confessional, até inter-religioso, pedindo para não ficarmos indiferentes diante da pobreza, da solidão, da fome e do descaso humano. Ensina a Santa: “O que você está fazendo eu não posso fazer, o que eu estou fazendo você não pode fazer, mas, juntos, nós estamos fazendo uma coisa bonita para Deus, e esta é a grandeza do amor de Deus por nós – nos dar a oportunidade de ser santos pelas obras de amor que fazemos, porque a santidade não é um luxo para poucos. É um dever muito simples para você, para mim – você na sua posição, no seu trabalho, e eu e os outros, cada um de nós, no trabalho, na vida em que demos a nossa palavra de honra para Deus. Nós temos que transformar o nosso amor a Deus em ação viva”.
    Neste dia em que nossa Arquidiocese recebe a doação de uma imagem, feita na Albânia, e, com a intermediação desse governo, financiada por uma família muçulmana albanesa, nós reverenciamos a providência de Deus que isso nos concede. Ela é em tamanho natural e será entronizada nos jardins de nossa Sé Catedral Metropolitana.  A posição da estátua é tal que ficará olhando para a Catedral e para o Corcovado, onde está a imagem do Cristo Redentor.
    Queremos ter a mesma inspiração desta grande mulher e dizer ao Cristo Redentor: “Tenho sede” de dedicar a minha vida aos mais pobres dos pobres. Cada vez que contemplarmos os jardins da Catedral, olhemos para estes dois santos contemporâneos: São João Paulo II nos convida a não ter medo de abrir nossos corações para o Redentor. Madre Teresa, por sua vez, nos pede que não sejamos insensíveis a tantos dos nossos irmãos que têm sede e fome não só de bebida e de comida, mas de espiritualidade e de companhia espiritual. Sejamos inspirados por estes dois santos, cientes de que Santa Teresa nos ensina a partilhar o que temos, porque ao partilharmos nós vemos Jesus.
    Como Santa Teresa de Calcutá, possamos transformar seu pensamento e sua vida em oração diária: “Eu vejo Jesus em cada ser humano. Eu digo sim para mim mesma: este é Jesus com fome, eu tenho que alimentá-lo. Este é Jesus doente. Este tem lepra ou gangrena: eu tenho que levá-lo e cuidar dele. Eu sirvo porque eu amo Jesus”.
    Que o amor e o testemunho concreto de Santa Teresa de Calcutá nos anime a seguir o Senhor Jesus com gestos concretos de misericórdia. Isso é viver praticando obras de misericórdia. Isso consegue mudar o mundo. Assim nos ajude a Santa dos Pobres, a quem invocamos incessantes graças e bênçãos para a nossa cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, que precisa continuar solidária na busca da paz e do diálogo fraterno. Santa Teresa de Calcutá, rogai pelo Rio de Janeiro, Amém!

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