Porque temer?

             Em algum momento da vida você já sentiu medo? Tenho certeza que não só uma vez, mas várias. Qual foi a sua reação ao ter que lidar com este sentimento? O medo é a reação natural do ser humano ante algo que se apresenta como um perigo para nós. A Liturgia deste 12º domingo do Tempo Comum vai exatamente nos conduzir pelo caminho da confiança em Deus, confiança inabalável, resposta mais completa que o ser humano pode dar quando o medo bater à nossa porta.

             No Evangelho deste domingo (Mc 4, 35-31), a exortação de Jesus a termos confiança nele em nossos momentos de luta e tribulações vem renovar nossas esperanças e nos sustenta em nosso momento de fraqueza e temor. O relato acontece no final do dia, na chegada da noite. Noite, trevas, lugar da escuridão, lugar onde se encontram os perigos, o Evangelho parece nos situar temporalmente e ir preparando a cena que virá a seguir. Jesus e seus discípulos se encontram às margens do lago de Genesaré, o Mar da Galileia, cenário de tantas e tão importantes passagens do Evangelho, lugar de grandes encontros com Jesus, grandes discursos, grandes milagres, curas e conversões. Jesus apresenta um convite curioso aos seus: Vamos para o outro lado do mar, mesmo sendo noite. Os que são grandes conhecedores do ritmo dos lagos e marés, sabem que a noite não é o momento propício para as navegações. Mas Jesus parece lançar este desafio aos seus, que prontamente obedecem.

             Algo temeroso acontece: os navegantes são pegos de surpresa por uma tempestade em meio ao lago. Conta o Evangelho que “Começou a soprar uma ventania muito forte e as ondas se lançavam dentro da barca, de modo que a barca já começava a se encher.” O medo se estabelece, pois, um perigo real se apresenta aos barcos navegantes. Além da perspectiva real do fato narrado, não podemos deixar que olhar também para a perspectiva simbólica existente na Bíblia para o mar, sendo associado muitas vezes ao lugar do mal e das trevas. Os ventos e ondas que se abatem sobre os inimigos; o mal que tantas vezes se apresenta grandioso diante de nós. A primeira leitura (Jó 38, 1-8.11) e o salmo da Liturgia deste domingo (Sl 106) vão ressaltar exatamente esta realidade: Deus que no livro de Jó responde aos lamentos de Jó em meio à tempestade, mostrando assim sua onipotência. O Salmo responsorial mostra a Imagem da força das ondas e do mar, mas o Senhor que é mais forte do que tudo isso.

             No meio de toda esta agitação, o Evangelho destaca um fato curioso: o de que Jesus estava ali, em meio a todo esse alvoroço. E estava dormindo! Jesus estava na parte de trás, dormindo sobre um travesseiro. Antes de tudo, não podemos deixar de apreciar este detalhe que nos fala da humanidade de Jesus que sente sono, que dorme. Jesus nunca abandona os seus filhos. Jesus nunca nos abandona. Pode parecer ausente, mas ele está lá e no momento oportuno há de vir em nosso socorro, como acontece na passagem: Os discípulos o acordaram e disseram: “Mestre, estamos perecendo e tu não te importas?” Os discípulos são sinceros em apresentar seu desabafo com Jesus, que para algum pode soar como falta de respeito, mas que para Jesus seguramente soou como clamor de confiança. Sejamos sinceros com Deus. Sejamos sinceros em nossa oração e em nosso clamor. Falemos com Deus de nossas tristezas, de nossos medos, de que parece que Ele está distante. Não oramos para que Deus tenha conhecimento das nossas necessidades, mas oramos para que nós tenhamos conhecimento da necessidade que temos de Deus, do quanto dependemos dele.

             Jesus não tarda em vir ao socorro daqueles que clamam por sua ajuda: Ele se levantou e ordenou ao vento e ao mar: “Silêncio! Cala-te!” O vento cessou e houve uma grande calmaria. Grande manifestação do Poder de Deus vemos nesta cena, onde Cristo, sendo Onipotente, controla as forças na natureza; numa perspectiva simbólica, Cristo que silencia o mal, que demonstra a todos que o mal não tem a última Palavra, mas quem é a tem é o Amor e a Misericórdia de Deus. Nas tribulações, clamemos por Jesus. Quando a cruz parecer pesada demais para carregar, clamemos por Jesus. Quando não entendermos o que acontece conosco ou nossa caminhada parece uma caminhada no escuro, clamemos por Jesus, sabendo que tudo podemos naquele que nos fortalece.

             Após o ocorrido, Jesus aproveita da circunstância para ensinar e exortar, e dirige as seguintes palavras aos seus: Então Jesus perguntou aos discípulos: “Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?” Jesus olha nos olhos daqueles homens temerosos e lhes dá coragem, e lhes pede que esta coragem seja aumentada. Pede que a fé dos seus seja realmente uma fé que os leve a fazer a diferença em meio à vida e nos lugares onde se encontram. Sempre teremos medo, mas a fé nos ensina a deixar o medo para trás e nos guiar pela confiança no poder de Deus.

             É curioso notar que logo após a repreensão de Jesus, os discípulos voltam novamente a ter medo ao testemunhar o milagre que havia acontecido: Eles sentiram um grande medo e diziam uns aos outros: “Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?” Teremos medo, só não podemos deixar que este sentimento inato ao ser humano domine todos os momentos da nossa vida. Que nosso medo vire admiração e se transforme em confiança inabalável. Quanto mais medo tenhamos, mais fortes podemos nos tornar se colocamos esses medos nas mãos de Deus e deixemos que o Senhor, por meio do seu Espírito, os transforme em instrumento de confiança e santidade. Como nos recorda S. Paulo na segunda leitura (2 Cor 5, 14-17), a forma que realmente nos impulsiona é o Amor de Deus, de quem não devemos duvidar nunca!!!

             Lancemos ante o amor misericordioso de Jesus nossas dores nossos medos e os medos e dores de toda a humanidade. O Senhor está conosco, o Senhor está na Igreja, o Senhor está presente na barca da nossa vida. Nossas preocupações podem nos fazer pensar que Ele está ausente, que não cuida de nós. Por isso é necessário orar sempre e não desfalecer, para que jamais nos esqueçamos do amor e da misericórdia de Deus. Rezemos pelos doentes, rezemos pelos que sofrem e por todos os que passam por dificuldades. Deus abençoe e guarde a todos.

    DEIXE UMA RESPOSTA

    Please enter your comment!
    Please enter your name here