Planejando muros

    A racionalidade humana nos permite ações pensadas e planejadas, mesmo que por lapsos de segundos. Nada fazemos sem um projeto de sucesso, uma ação que delimite nosso espaço, contabilize nossos recursos ou avalie os recursos e espaços oponentes. Tudo em nossa vida é medido, calculado, bem pensado, planejado… Eis a graça maior da humanidade em sua aventura terrena, o discernimento na escolha dos caminhos. Eis o que nos diferencia dos animais!
    Essa faculdade estritamente humana é uma dádiva do Criador. Coloca- nos um grau acima de qualquer criatura, posto que a estas lhes foram dado o instinto da sobrevivência, conquanto a nós, além deste instinto, também o discernimento, essa capacidade de escolher o melhor caminho, a melhor ação. Assim fazemos da vida um contínuo planejamento em prol dum objetivo: chegar lá, vencer! Resta saber onde desejamos chegar, o que (ou quem) pretendemos vencer.
    Individualmente, cada qual tem seu sonho, seu projeto pessoal. Seja no campo profissional ou no projeto de realização humana que todos possuímos; seja no desenvolvimento psíquico religioso ou mesmo na satisfação de viver pura e simples, todos planejamos nossos passos em função de um objetivo. Lá está! A meta é esta. Como alcançá-la? Essa é a questão das questões. O planejamento torna-se uma faca de dois gumes, uma ameaça, quando não considera o bem comum. Pior ainda, quando transita pelas vielas da competitividade pura e simples, sem respeitar o espaço, as conquistas ou mesmo os méritos dos que trilham um mesmo caminho.  A lei do mais forte torna-se guardiã do individualismo e egoísmo. Essa é a lei do Cão, que tece e protege todas as artimanhas contrárias a qualquer princípio da fé cristã. Essa é pior das competitividades da raça humana, que explica hoje o egocentrismo social a destruir raças, países, culturas, crenças ou o próprio indivíduo. Onde impera o cada um pra si, Deus nunca será de todos, nem de ninguém.
    Não se compreende um planejamento de justiça, fraternidade e solidariedade humana com intenções de sucesso, sem respeito à Lei do Amor. Os muros do passado já provaram seu fracasso; por que reerguê-los? A fé de nossos pais em nada alterou seus ensinamentos e sua eficácia diante dos novos e audaciosos planejamentos e projetos protecionistas da modernidade. Então, por que não considerar eficazes e perfeitos os ensinamentos da fé de Abraão – ou de qualquer humano que levou a bom termo sua vitória existencial? “Então, onde está o motivo de se gloriar? Foi eliminado. Por qual lei? Pela lei das obras? Não, pela lei da fé. Pois, esta é a nossa tese: o homem se torna justo através da fé, independente da observância da Lei” (Rom 3, 27-28). A graça de compreender e adequar sua vida a um planejamento submisso à vontade de Deus, ah! Eis o segredo do sucesso verdadeiro… Eis o que falta aos estrategistas do mundo moderno! Sejam estes filhos de Abraão ou de Alá. De Jacó ou de Richard Dawkins. De Kennedy ou de Karl Max. De Buda ou de Francisco Xavier…
    Qualquer planejamento só será vitorioso se considerar e respeitar princípios básicos de respeito e fidelidade. Sabemos disso. O que não levamos a sério é que dentre esses princípios há necessidade de se respeitar uma lei. Essa faz toda a diferença. Essa, realmente, coloca a coletividade humana acima dos animais, ou seja: sem amor e respeito mútuo sempre fracassaremos. Os muros de Jerusalém que nos digam!

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