PERDOAR SEMPRE

    O apóstolo Pedro dirigiu-se a Jesus levando-lhe a seguinte questão: “Senhor, se meu irmão pecar contra mim, quantas vezes lhe devo perdoar”? Até sete vezes? (Mt 18.21-33). Ele entrevia o problema do pecado e do perdão como uma medida, uma lógica contável, até quantas vezes é concebível, conveniente? Quando, além da avaliação fixada pelo nosso modo de ver, pela sociedade, a pessoa será considerada como irreformável, pecadora, alguém que se deveria evitar? É certo que em toda relação nós podemos chegar a um ponto crítico de verdadeira saturação e isto se vive na vida conjugal, amigável ou ainda comunitária e até religiosa.  Trata-se do limite do possível. Era este o problema essencial de São Pedro. Ele não tinha ainda tido a experiência do perdão do Senhor a quem ele negaria três vezes, uma traição que em si era imperdoável, porque não era uma vez, mas três vezes e não uma pequena mentira, mas uma negação radical. Até chegar a esta experiência trágica ele não tinha ainda compreendido o problema, porque para ele perdoar é até quando se poderia dominar a ofensa. Não nos iludamos, pois é essa uma maneira corrente quando se aborda a questão da ofensa. Para nós perdoar é, de uma certa maneira, até quando se pode suportar a ofensa. Deste modo, o problema do perdão se torna assim uma questão de limites. Ora precisamente então Jesus lhe diz: “Não te digo sete vezes, mas até setenta vezes sete”. Sete vezes, número que propunha São Pedro, representa a perfeição da paciência humana, Jesus, porem vem introduzir aqui uma certa desmedida. O que devemos disso compreender é que o perdão se vive a fundo perdido, porquê o perdão nos faz viver ou antes nos faz reviver. Em seguida, a parábola que segue a resposta de Jesus a Pedro. O dia em que aquele que devia muito dinheiro e que normalmente iria ser vendido por não ter  podido reembolsar sua dívida, o dia em que este homem é perdoado de sua dívida, segundo alguns hermeneutas uma dívida colossal equivalente a muitas dezenas de milhões de euros, o perdão  do seu senhor o teria feito reviver. Mas, em seguida, quando viu um de seus companheiros devedores, ele pegando-o pelo pescoço o sufocava dizendo: “Paga-me o que deves”, a saber algumas centenas de euros, bem menor isto em comparação à dívida de que fora antes perdoada e, além disto, não mostrava então a mínima piedade. O que Jesus nos pede na questão do perdão não é mais que encará-lo sob o ângulo habitual de uma atitude serena, compassiva. Sim, é preciso perdoar e perdoar sem cessar numa anistia completa, pois não há nenhum limite ao perdão. O motivo, a parábola nos indica, se nós devemos perdoar é porque nós somos, nós mesmos, objeto do perdão divino e do próximo. Nós somos seres que precisam do perdão de Deus e dos semelhantes. Ora, se nós somos perdoados sem cessar, se nossa vida repousa continuamente no perdão do Senhor Onipotente, estaríamos perdidos sem a clemência divina. Porque nós somos perdoados, nós não podemos não viver profundamente sem ser impregnados inteiramente por este perdão celestial que deve, deste modo, sair de dentro de nosso coração, irradiado a ternura divina por toda parte. O perdão não é senão um dos aspectos do amor, um dos aspectos certamente dos mais difíceis a praticar, mas também um dos aspectos mais honrosos. Assim como nós amamos os outros, porque nós somos amados, do mesmo modo nós devemos viver o perdão com os outros porque nós somos perdoados. Nosso perdão deve ser sem fim, porque o objeto de perdão que nós somos ao olhar de Deus é também sem limites.  Assim sendo, o perdão é, realmente um dos elementos básicos de nossa vida de cristãos. Aliás Jesus nos ensinou a rezar: “Perdoai mossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”.  Perdoar é, assim, ultrapassar tudo o que é do homem, tudo o que é do instinto, da raça, da língua e ir além de si mesmo, se libertar. A condição essencial para que a comunidade cristã seja digna de encômios é que a medida de perdoar não conheça qualquer tipo de uma possível restrição. “Não deveis a ninguém coisa alguma a não ser o amor  de uns para a com os outros, pois quem ama o  próximo cumpriu a lei”, nos exorta São Paulo (Rom 1,8).   Devemos estar atentos porque nossa conduta não é sempre o que a bondade divina é para nós.  Para perdoar é preciso olhar para dentro e correr o risco de, até, perceber que  o que se sente ofendido, talvez também tenha alguma responsabilidade naquele ato. Qualquer coisa que aconteça na nossa vida é resultado de uma semente plantada em algum momento. Por isso, uma ofensa de um amigo acontece para equilibrar alguma ação passada, uma semente de má qualidade. Deste modo o amigo foi apenas um agente.  Cada caso deve ser cuidadosamente analisado e isto numa amplitude que Jesus exige de seus s seguidores.

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