Pensando inutilidades

     Como escreveu Zarast… ops, Fonseca, meu amigo e companheiro: “Existem (fui ao Banco Central em Brasília e peguei esses dados lá) 20 milhões jogados em lugares das casas brasileiras em moedinhas de 0,01. Existem outros 300 milhões em moedinhas de 0,10, 0,25, 0,50 e 1,00 em cofrinhos por aí. Se dinheiro é assim tão maltratado imagine “Palavras de Esperança”, “Liderar não é Subjugar” e outras coisitas mais”. Assim meu amigo tentava me consolar diante do desabafo que lhe fazia pela diminuição dos veículos que me publicam (fechamento de jornais e sites), além de um vírus inoportuno que apagou minha lista de contatos semanais.

    Dizia-lhe das dificuldades de levar adiante a mensagem cristã. Mas, citando Tiago (4,17), que nos lembra: “Se alguém souber fazer o bem e não o faz, comete pecado”, Fonseca ainda reforça: “Estamos destinados a ‘morrer no pau’. O madeiro é sinal de maldição. Somos todos malditos no Cristo. Nada de ilusão, meu irmão”.

    Eis, pois que a imagem daquelas moedinhas perdidas ganha força em minha disposição de continuar meu trabalho de formiguinha. Um traço de folha verde não alimenta ninguém, mas unidas na dispensa do formigueiro vai garantir a sobrevivência deste. O pólen que a abelhinha colhe no jardim é apenas pólen, mas depositado na colmeia se transforma em saboroso mel. A inutilidade de um trabalho que penso insignificante é que nos faz repensar nossa própria inutilidade, um trabalho quase fantasmagórico diante da grandiosidade que a Obra de Deus manifesta como desafio comum a todos. Se é pequeno ou insignificante aquilo que deixamos de fazer por não dimensionar o conjunto, a soma do pouco, é porque ainda não nos foi dada a graça de contemplar o milagre que Deus realiza em nós, através de nós e por nós cotidianamente. Deixemos, pois de ver fantasmas e contemplar somente a negritude dos fatos que nos rodeiam. A moedinha perdida foi objeto de muita alegria quando encontrada por alguém que lhe dava valor. Que varreu a casa, vasculhou entulhos, penetrou frestas misteriosas, sondou o ambiente apenas para retomar sua posse. Sim, esse alguém é Deus a nos valorizar sempre… É o Pai que nos ama!

    Nada de ilusão. Neste ano em que repensamos a importância do leigo na ação pastoral de sua Igreja, não lamentemos nossa aparente inutilidade. Somos, por primeiro, servos, possuidores de um serviço vital para a edificação de um mundo melhor. Maior é aquele que serve, nos disse o mestre. E a valor desse trabalho é que fará a fortuna, a riqueza maior que buscamos neste mundo. A cruz de Cristo, o madeiro que o imolou aos olhos dos homens, é para nós o sinal mais evidente da vitória que desejamos, quer queira ou não a humanidade descrente. Por mais insignificante que pensamos ser, fomos reabilitados na cruz.

    Às favas as dificuldades do caminho! As assombrações que nos assombram. A inutilidade que sentimos. Quem leu Seara Vermelha, grande obra do brasileiro Jorge, o Amado, deve ter se deparado com o diálogo do sertanejo com os mistérios e desafios que a sociedade lhe fazia. O que era, por exemplo, esse tal do comunismo que assombrava seu mundinho? Ou o que seria nosso cristianismo para os sertanejos da fé, os que pensamos ignorantes na prática da vontade divina? Isso tudo, aos olhos do pobre migrante (que somos todos nós nesse mundo) era como uma assombração. Seu interlocutor quis saber por quê. “Num vê o senhor que aparece uma luz na estrada e vão dizer pra gente que não chegue perto, que aquilo é assombração que mata a gente só de espiar. Mas tanto falam que a gente fica se roendo de vontade de espiar. Um dia não arrisiste, vai, chega lá e vê que é o pai da gente…”

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