Domingo de Ramos na Paixão do Senhor

    O domingo de Ramos é um dia em que a liturgia é dividida em dois momentos: primeiro, soleníssimo, é a bênção dos Ramos, fora da Igreja. Há a proclamação do Evangelho da entrada de Jesus em Jerusalém(cf. Mc 11,1-10). Neste Evangelho recordamos três simbolismos importantes: o cortejo, os ramos de oliveira e de palmeira (que guardados serão usados na quarta-feira de cinzas no ano seguinte) e o jumento. A procissão festiva recorda o caminhar dos discípulos que seguem as pegadas do Mestre e a acolhida de Jesus como rei, simbolizada pelo gesto de estender os mantos para que ele passasse. Os ramos é uma forma de aclamar Jesus como o Ungido, o Messias esperado. O jumento é simbolismo forte de oposição: Jesus adentra a cidade pelo lado leste, como Messias portador de paz e salvação, mas de forma humilde e não imponente. Isso num contraponto a Pilatos e o exército imperial que sempre entravam, solenemente, pelo lado oeste. É a “pax romana” de um lado, baseada pela violência e pela intimidação e por outro lado a paz do Messias, que confronta o império romano com humildade e serviço. A primeira parte da Santa Missa é um tom fundamental da semana santa: a humildade.

    A liturgia deste último Domingo da Quaresma convida-nos a contemplar esse Deus que, por amor, desceu ao nosso encontro, partilhou a nossa humanidade, fez-Se servo dos homens, deixou-Se matar para que o egoísmo e o pecado fossem vencidos. A cruz (que a liturgia deste domingo coloca no horizonte próximo de Jesus) apresenta-nos a lição suprema, o último passo desse caminho de vida nova que, em Jesus, Deus nos propõe: a doação da vida por amor.

    A primeira leitura (cf Is 50,4-7) apresenta-nos um profeta anônimo, chamado por Deus a testemunhar no meio das nações a Palavra da salvação. Apesar do sofrimento e da perseguição, o profeta confiou em Deus e concretizou, com teimosa fidelidade, os projetos de Deus. Os primeiros cristãos viram neste “servo” a figura de Jesus. A figura do servo impressiona pela sua firmeza e serenidade. Ele não se dobra à violência, mesmo sofrendo humilhações, ao contrário, ele se oferece, apresenta-se para isso. O reinado do servo (Jesus) contraria a maldade do mundo com o bem, com a justiça e com a mansidão.

    A segunda leitura (cf Fl 2,6-11) apresenta-nos o exemplo de Cristo. Ele prescindiu do orgulho e da arrogância, para escolher a obediência ao Pai e o serviço aos homens, até ao dom da vida. É esse mesmo caminho de vida que a Palavra de Deus nos propõe. O cristão é convidado a viver em comunidade, fazendo dessa experiência uma trajetória de esvaziamento de si mesmo a exemplo de Jesus, seu modelo. Perfazendo esse caminho interior, tomando para si o sentimento de Cristo, cada um se une e vence com ele, que não fez caso de ser igual a Deus, mas preferiu a humildade. O esvaziamento e a cruz são, pois, uma referência espiritual para a comunidade e para todos nós. Essas duas palavras vão acompanhar a nossa Semana Santa: a cruz e o esvaziamento nos deixam mais livre para o seguimento de Cristo.

    O Evangelho(cf. Mc 14,1-15,47) convida-nos a contemplar a paixão e morte de Jesus: é o momento supremo de uma vida feita dom e serviço, a fim de libertar os homens de tudo aquilo que gera egoísmo e escravidão. Na cruz, revela-se o amor de Deus – esse amor que não guarda nada para si, mas que se faz dom total.

    Os passos do pregador Jesus estão no trajeto de Jerusalém, palco da rejeição e da Paixão do Filho de Deus. O núcleo da vivência do Evangelho neste domingo de Ramos tem uma unidade em seus três blocos: o julgamento injusto diante de Pilatos, os açoites e escárnios de seus algozes, a crucificação e morte de Jesus.

    Primeiro bloco: Jesus é condenado injustamente e por motivos injustos. Pilatos é um juiz sem autonomia e sem autoridade. A multidão mesmo pergunta a Pilatos: “Mas qual mal ele fez? ”. Jesus é julgado por um poder corrompido, sem isenção e é trocado por um bandido, chamado Barrabás. Jesus, o servo sofredor, manso e sereno da maldade nada faz. Jesus, inocente, foi condenado para justificar a maldade de um poder injusto.

    Segundo bloco: Jesus é açoitado e escarnecido pelos seus algozes. Trata-se da rejeição humana. Mercenários, os soldados romanos, aproveitam para desprezar Jesus para desprezar os judeus, a quem odiavam. O sofrimento é o caminho seguro para a glorificação e a ressurreição. A confiança em Deus é que nos conduz à vitória e a libertação. Tiramos desse bloco uma bela lição: a glória humana é representada pela corrupção e maldade de Pilatos e dos algozes de Jesus. Nós ao contrário, como batizados, não aceitamos a maldade humana e a violência respondendo com rancor e vingança.

    Terceiro bloco: Jesus é crucificado e morto como malfeitor, fora da cidade. Rejeitado pelos passantes, escarnecido pelos judeus e pelas autoridades romanas e do templo de Jerusalém, Jesus tem as suas vestes repartidas, coloca-se a cruz que diz o motivo de sua condenação: INRI – Jesus Nazareno, Rei dos Judeus. Aquele que sofre na cruz sofre injustamente, mas não perde a consciência e nem a integridade. Jesus morre para vencer a maldade humana e a injustiça. Como Jesus, diante do sofrimento, da dor e da incompreensão, muitas vezes gritamos: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes? (Cf. Sl. 22).

    Jesus ao morrer abre para cada um de nós a seara da salvação eterna. Quando ele morre o véu do Templo, que resguardava o Santo dos Santos, rasga-se de alto a baixo, em duas partes. Não se trata de um tecido qualquer, mas de uma indumentária de proporções monumentais e de grossa espessura. O culto a Deus se desloca do centro – Templo de Jerusalém – para a periferia – Gólgota, o morro fora dos muros da urbe. É lá onde se realiza a vontade de Deus e onde brilha a glória do seu amor, da verdade e da inocência do seu Filho, a ponto de causar o reconhecimento de um pagão: “Verdadeiramente esse é o Filho de Deus! ”.

    Vamos repetir esta proclamação de fé: “Verdadeiramente esse é o Filho de Deus!”, e, em gestos concretos, sejamos generosos com a coleta da Campanha da Fraternidade que, de maneira honesta e séria, vai ajudar aos refugiados venezuelanos que estão chegando degradados em Rondônia.

    Boa Semana Santa! Não se esqueça da sua confissão e de uma piedosa participação nos mistérios centrais de nossa fé.

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