Padre libanês fala sobre o Estado Islâmico, a perseguição aos cristãos e as relações entre cristãos no Oriente Médio

PADRE SOUHAIL DIB ISSA, 44, sacerdote libanês e de família síria, ordenado na Síria aos 25 anos de idade, falou a Igor Andrade, – membro da Associação São Próspero, – sobre o panorama do cristianismo no Oriente Médio e os conflitos com os muçulmanos. É sempre útil e aconselhável que nos informemos a respeito de fatos tão complexos tendo como ponto de partida o testemunho de quem que viveu (e indiretamente ainda vive) estas realidades a partir de dentro, como experiência de vida, mais do que por meio de pesquisas e/ou estudos.

Em Poucas palavras, qual a história do cristianismo no Oriente Médio? Como era, como mudou e como está agora?

O cristianismo no Oriente Médio foi fundado pelo próprio Senhor Jesus Cristo e seus Santos Apóstolos, que começarem a pregar em Jerusalém e em todo o território da Síria (cf. At 11). O cristianismo crescia, com prodígios e sinais, até o século VII. Foi quando o dito “estado islâmico” (EI) invadiu o Oriente médio matando milhares de cristãos. Apenas os que declararam fé no Islã foram salvos da morte e transformados contra os cristãos que sobraram, graças a lei do imposto pago ao EI. Agora, os cristãos são muito poucos, lutando para sobreviver.

Como é a relação entre os cristãos e os muçulmanos?

Na verdade há dois tipos de muçulmanos. Há os fanáticos que nos consideram infiéis e perseguem os cristãos, e uma segunda parte, de “moderados”, que consideram os cristãos cidadãos de segundo grau.

O Sr. acha, a partir do que viu e viveu lá, que as perseguições sofridas pelos cristãos são por motivo religioso?

Sim. O motivo é cem por cento religioso.

O ‘estado islâmico’, localizado em Síria e Iraque, não cessa de inovar nos requintes de crueldade dos seus métodos. Recentemente, divulgou um vídeo que mostra quatro prisioneiros acusados de espionagem (um idoso) acorrentados e sendo lentamente queimados vivos

Há muitos cristãos que vivem, por causa da guerra, no exílio?

Se calcularmos as pessoas de todos os países árabes, como Palestina, Líbano, Síria, Jordânia, Iraque, Egito… São quase 20 milhões de cristãos exilados(!).

Há unidade entre católicos e ortodoxos na região?

Sim, com certeza. O que os une, primeiro, é o Cristo e Nossa Senhora, depois o fato de ser país árabe, a mesma cultura, mesmas tradições…

Pe. Souhail diz que no Oriente Médio a divisão entre cristãos católicos e ortodoxos não é tão “forte” como no Brasil, especialmente para o povo, que tem laços muito fortes de famílias mistas, que não veem problemas em participar da Liturgia ou de celebrações de casamentos em uma e outra Igreja; são frequentes também os casamentos mistos (entre católicos e ortodoxos) onde um padre católico vai à celebração ortodoxa e abençoa, ou um padre ortodoxo vai à celebração católica e participa desta. A exceção fica por conta da Comunhão: quando um católico vai a uma celebração ortodoxa, participa de tudo, mas não comunga; da mesma maneira fazem os ortodoxos.

Como está a fé deles? Na atual situação, o senhor acha que “o sangue dos mártires é semente de novos cristãos”?

Sim, porque a igreja foi construída sobre a fé dos primeiros mártires a partir dos santos Apóstolos, que morreram mártires. Essa foi sempre a fé da igreja.

Uma reação armada por parte dos cristãos seria uma alternativa para poupar vidas?

Com certeza, se nós cremos no Corpo místico de Jesus e que nós somos os membros deste Corpo santo. Se a sua mão está ferida, afeta todo o seu corpo, e o sangue derramado desta mão é o sangue do corpo todo.

A comunidade internacional faz pouco caso do genocídio dos cristãos?

Sim, faz pouco caso. (…) Ajudam aos muçulmanos mais do que aos cristãos perseguidos1. Aqui no Brasil o governo abriu a porta dos refugiados da Síria e vieram muitas famílias cristãs, mas o governo brasileiro não tem capacidade de mantê-los materialmente; nisso, até agora, nós não notamos nenhuma ajuda para essas famílias da parte de igreja.

Fonte: O Fiel Católico

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