O véu rasgado de cima a baixo

    A liturgia do domingo de Ramos nos introduziu bem no núcleo ou miolo do acontecimento inaudito e inefável, o mais elevado da nossa fé: o mistério da paixão, morte e ressurreição do Senhor Jesus. Da nossa parte cabe acolher, louvar e bendizer aquele que, sendo aclamado rei, não teve medo de assumir, como legítimo e verdadeiro servo, a experiência humana até a morte, e morte de cruz.

    Em substituição ao véu de separação ficou a ponte que liga os homens pecadores, perdoados pelo sangue de Jesus Cristo, e pelo próprio Deus. Deve-se perceber no véu uma profunda e misteriosa simbologia, em que Cristo é a razão – e não se encontra outra – como única via para se chegar ao Pai.

    Detenhamo-nos, por ocasião do mistério pascal, a partir do véu da cortina do santuário, que se rasgou de alto a baixo em duas partes, na suprema angústia, por ocasião da crucificação e morte de Jesus. Entendamo-la como o ápice, caminho da vida de nós, seguidores dos passos de Jesus de Nazaré, no sentido da simbologia do sacrifício interior, indo muito além do véu do templo, como sacrifício antigo, com a marca da exterioridade (cf. Ex 26, 31-35).

    Jamais prescindir do eixo salvífico, como nos assegura o apóstolo Paulo, na carta aos Filipenses: “Jesus Cristo, sendo de condição divina, não se apropriou dessa condição, mas, ao contrário, ele se esvaziou e assumiu a condição de servo obediente, até a morte, e morte de cruz”. E continua: “Foi por isso que Deus o exaltou e deu um nome que está acima de todo nome, de modo que, ao nome de Jesus, todo joelho se dobre no céu, na terra e abaixo da terra e toda língua confesse, de modo bem elevado, que Jesus Cristo é o Senhor para a glória de Deus Pai”.

    Com o véu rasgado de cima a baixo, aquele que cobria o espaço mais sagrado do templo, num clima de mais absoluto silêncio, tem-se a nítida e mais expressiva alegoria de que a separação entre Deus e o ser humano ficou para trás. Agora, com Jesus, nosso Rei, Mestre e Senhor, caminhamos na fé e na esperança de que não estamos mais enganados, mas que vamos ver e participar da novidade maior, sendo novas todas as coisas.

    Rasgar, sim, de cima a baixo, o véu malévolo, imprestável, improfícuo e deplorável do obscurantismo, da insciência e do negacionismo. Tudo a partir do contexto maravilhoso de ver que o Servo de Javé resiste ao sofrimento, mesmo em meio à desolação e ao abandono, por meio da obediência na fé, confiante até o fim na promessa do Pai! Sua fidelidade em persistir e não se desviar da missão nos enche de esperança, na certeza de não sermos jamais confundidos nem desiludidos. Amém!

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