Memória da Procissão do Encontro

    Celebramos, tradicionalmente, em tempos normais, na Quarta-feira da Semana Santa, a piedosa celebração da Procissão do Encontro. Neste ano só faremos memória à distância pois as procissões estão supressas. Mas vale a pena fazer refletir sobre esse fato da piedade popular. A Procissão do Encontro consiste no encontro de Nossa Senhora das Dores com o Senhor dos Passos. Normalmente, as mulheres saem de um ponto da paróquia com a imagem de Nossa Senhora das Dores e os homens de outro ponto, com o Senhor dos Passos. Ambas as imagens chegam juntas e se encontram em frente à Igreja Matriz. Após a procissão, quem preside faz um pequeno sermão (ou homilia) em frente ou dentro da Igreja.

    Esse ano, como dissemos, devido à pandemia da Covid-19, não será possível realizar essa bela procissão, mas podemos acompanhar de casa, pela televisão, rádio ou internet, que com certeza fará uma meditação sobre essa celebração. Ela prepara o nosso coração e o nosso espírito de oração para o Tríduo Pascal, que se inicia na Quinta-Feira Santa.

    Precisamos, nos dias de hoje, mesmo que sejam por filmes de anos anteriores, resgatar algumas celebrações, que fazem parte da devoção popular, sobretudo, as celebrações da Semana Santa. A Semana Santa culmina sempre no Tríduo Pascal, de Quinta-feira Santa ao domingo da Ressurreição. Mas ela se inicia no Domingo de Ramos, com a bênção dos Ramos, e devemos vivenciá-la a semana inteira. Na Segunda-Feira, temos o a Procissão do Depósito de Jesus, seguido do ofício de Trevas; na Terça-Feira, temos a Procissão do Encontro e, na Quarta-Feira Santa, a meditação das Sete Dores de Nossa Senhora, com o Sermão das Dores. De Quinta-feira em diante, iniciando-se com a Missa dos Santos Óleos na Catedral Metropolitana, as celebrações que já conhecemos.

    Por isso, nos dias de hoje, mais do que nunca precisamos resgatar essas celebrações e fazermos com que o povo tome gosto por elas e os ajude em sua espiritualidade durante a Semana Santa. Conforme foi dito, nesse ano devido à pandemia da Covid-19, não seria possível participar dessas celebrações, evitando aglomerações, mas podemos participar por meio da TV, Rádio e internet.

    Na procissão do Encontro, Nossa Senhora das Dores e Jesus dos Passos se entreolham, ou seja, trocam olhares, não dizem nada, mas um contempla o sofrimento do outro. Por outro lado, o coração se enche de gratidão, por estarem cumprindo a missão, na qual Deus os chamou.

    Podemos contemplar pelo olhar de Nossa Senhora, o olhar de muitas mães que perdem seus filhos para as drogas, para a violência ou perdem seus filhos por acidente de carro ou moto. Façamos uma prece por todas as mães que perderam seus filhos durante a pandemia da Covid-19, para que com a força da fé, revigorem as suas forças e continuem a sua caminhada aqui na terra, na certeza de que um dia todos nos reencontraremos na eternidade.

    Quando Jesus encontra com Maria sua Mãe, e as outras mulheres de Jerusalém, como podemos acompanhar na 8ª estação da Via Sacra, Jesus diz: “Mulheres de Jerusalém, não choreis por Mim; chorai antes por vós mesmas e pelos vossos filhos. Pois dias virão em que se dirá: “Felizes as estéreis, as entranhas que não tiveram filhos e os peitos que não amamentaram”. Jesus quer dizer que não deveriam chorar por Ele, pois Ele estava cumprindo a missão na qual Deus o chamou. Mas, antes deveriam chorar por aqueles que praticam a violência ou por aqueles que o mandaram matar. E deveriam chorar pelos tempos difíceis que estariam por vir.

    Portanto, somos convidados nessa procissão a contemplar as imagens de Jesus e de Nossa Senhora das Dores. Duas imagens que nos ensinam e deixam o nosso coração tomado de emoção. Primeiro, a Imagem de Cristo, que nos ensina a obediência filial a Deus, até a morte de Cruz. Se fez obediente ao Pai, por amor a nós e através da morte de Cruz, nos resgatou do pecado e com a Ressurreição nos dá a garantia da vida eterna e que a vida vence a morte. E ao contemplarmos a imagem de Nossa Senhora das Dores, podemos observar o olhar triste, o olhar de dor, como gostam os artistas de representar, mas ao mesmo tempo um olhar que se conforma à vontade do Pai.

    Peçamos ao Senhor, nessa piedosa memória da celebração da Procissão do Encontro, que o Senhor console o nosso Brasil e afaste dele todo o mal. Console as mães que perdem seus filhos para o crime e drogas. Console tantas famílias que vivem em situação de vulnerabilidade social e aquelas pessoas que são feridas em sua dignidade. Por fim, que o Senhor console todos que são vítimas de corrupção e extorsão. Enfim, que o Senhor console todos aqueles que agora choram, para que logo mais, possam ter a certeza de que vão sorrir.

    Que o nosso Brasil e a nossa cidade, principalmente, que agora está chorando devido à pandemia da Covid-19, logo possam sorrir, com a vacinação para toda a população. Que as pessoas possam ter mais Deus em seu coração e, consequentemente, mais amor ao próximo. É disso que precisamos para construir um mundo mais justo e fraterno. Para obtermos o “novo normal” depois da pandemia, não é somente com a vacina, mas sim, o que deve mudar é o coração das pessoas. Se certas atitudes não mudarem, continuaremos da mesma forma.

    Celebremos essa Semana Santa com o coração cheio de confiança, na certeza de que não ficaremos no calvário, mas que chegaremos à glória da Ressurreição. Que o choro e o sofrimento são passageiros, mas a alegria final é eterna.

    Que a Virgem Maria, a Mãe das Dores, interceda por nós junto ao seu Filho Jesus, nosso Redentor. Amém.

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