O Senhor é misericordioso

    Todo cristão deve ser apóstolo. Trata-se de uma exigência do próprio batismo. Caso não tenhamos o desejo de aproximar as pessoas de Deus, de levá-las às fontes da graça, de sofrer e rezar pela salvação delas, perguntemo-nos se realmente amamos a Deus e se estamos convencidos da fé que professamos e vivemos. A missionariedade é consequência do seguimento e do encontro com Jesus Cristo. Na verdade, se a nossa fé é operativa, evangelizar será uma consequência necessária. Deveríamos vibrar, alegrar-nos verdadeiramente por cada pessoa que entra ou que retorna à Igreja, essa comunidade de salvação.
    A fé é o melhor presente que se pode oferecer a alguém. Diante dos valores da fé, até a vida se relativiza. Todos os mártires de Cristo mostraram que isso é assim mesmo. Nós precisamos estar convencidos de que temos na Igreja a verdade, e de que podemos fazer um grande bem à humanidade ao oferecer-lhe Cristo, a Verdade (cfr. Jo 14,6). Por outro lado, saber-se na Casa da Verdade, que é a Igreja, não nos autoriza a ser intolerantes com as pessoas. É certo: a Igreja é “a coluna e sustentáculo da verdade” (1 Tm 3,15), mas nós não somos donos da verdade, mas os seus servidores, nem personificações da verdade. Ademais, a nossa vida não se modela sempre pela verdade que conhecemos, professamos e amamos… basta pensar nos nossos próprios pecados.
    Neste XXIV Domingo do Tempo Comum temos praticamente um dos domingos que se poderia chamar da misericórdia. Toda a liturgia é um convite ao retorno a Deus e a consciência de nossa realidade de infidelidade. O ponto culminante é também o centro do Evangelho de Lucas: o capítulo 15. Em Lc 15, 1-32, na introdução, os fariseus criticam Cristo porque “acolhe gente de má fama e come com eles…”. Esta crítica provoca a resposta de Jesus com as três parábolas da misericórdia, que ilustram a atitude misericordiosa de Deus para com os pecadores: a ovelha perdida; a moeda perdida; o filho pródigo (perdido que volta). Em todas elas dá importância muito particular à alegria daquele que encontra o que tinha perdido. O pastor, depois de encontrar a ovelha, “coloca-a nos ombros com alegria”, regressa a casa e convoca os amigos e vizinhos para que se alegrem com ele. A mulher, depois de ter procurado por todos os recantos da casa, ao encontrar a moeda perdida, faz a mesma coisa: “alegrai-vos comigo, porque achei a moeda perdida”! Muito mais faz o pai ao ver ao longe o filho que volta e que há tanto tempo tinha abandonado a casa paterna; não pensa em recriminá-lo, mas em fazer uma festa!
    O personagem central destas parábolas é o próprio Deus (que é PAI), que lança mão de todos os meios para recuperar os seus filhos feridos pelo pecado. “No seu grande amor pela humanidade, Deus vai atrás do homem, escreve Clemente de Alexandria, como a mãe voa sobre o passarinho quando este cai do ninho; e se a serpente começa a devorá-lo, esvoaça gemendo sobre os seus filhotes (Dt 32, 11). Assim Deus busca paternalmente a criatura, cura-a da sua queda, persegue a besta selvagem e recolhe o filho, animando-o a voltar, a voar para o ninho”.
    O pecado, tão detalhadamente descrito na parábola do filho pródigo, consiste na rebelião contra Deus, ou ao menos no esquecimento ou indiferença para com Ele e para com o seu amor, no desejo tolo de viver fora do amparo de Deus, de emigrar para uma terra distante, longe da casa paterna. Como se passa mal quando se está longe de Deus! “Onde se passará bem sem Cristo – pergunta Santo Agostinho –, ou quando se poderá passar mal com Ele”?
    “Correu-lhe ao encontro, abraçou-o e cobriu-o de beijos” (Lc 15, 20). Acolhe-o como filho imediatamente! Estas são as palavras da Bíblia: cobriu-o de beijos. Pode-se falar com mais calor humano? Pode-se descrever de maneira mais gráfica o amor paternal de Deus pelos homens? Perante um Deus que corre ao nosso encontro, não nos podemos calar, e temos que dizer-Lhe, como São Paulo: “Abbá, Pai” (Rm 8,15). Quer que Lhe chamemos de Pai, que saboreemos essa palavra, deixando a alma inundar-se de alegria.
    Essa parábola deve nos despertar para a beleza do Sacramento da Reconciliação (confissão). Na Confissão, através do sacerdote, o Senhor devolve-nos tudo o que perdemos por culpa própria: a graça e a dignidade de filhos de Deus. Cumula-nos da sua graça e, se o arrependimento é profundo, coloca-nos num lugar mais alto do que aquele em que estávamos anteriormente. Dentro do contexto do Ano Santo Jubilar da Misericórdia acorrer, com mais frequência, ao confessionário é estar em sintonia com a compaixão que Deus, pela ação da Igreja, nunca nega a cada um dos seus filhos.
    Portanto, o Senhor nos convida hoje a acolher, em Jesus, a misericórdia incansável de Deus para conosco, um Deus que não sossega até nos encontrar… Mas nos convida também a ser misericordiosos para com os outros. É triste quando experimentamos que somos pecadores, experimentamos a bondade acolhedora de Deus para com nossos pecados e, depois, somos duros, insensíveis e exigentes em relação aos irmãos.
    Que o Senhor nos dê um coração como o coração de Cristo, imagem do coração do Pai, capaz de acolher o perdão e a misericórdia de Deus e transbordar esse perdão e essa misericórdia para com os outros. Amém!

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