O QUE NÓS FIZEMOS?

     

    Está no ar a magia da revelação cristã, embrulhada como presente numa manjedoura de animais, num curral quase sempre fétido e improvisado. Está no ar o que deveria ser a maior e mais bela das festividades humanas; não mais o  é. O que fizemos do nosso Natal? A resposta exige tato e sensibilidade, que só a alma serena e devota de um poeta é capaz de nos dar com certeza e precisão: “É Natal, a partilha é possível, necessária, mudará tudo”. Obrigado, companheiro das desilusões e da esperança renovada. Natal é muito mais do que a festa da hipocrisia e do farisaísmo que a domina. É nossa oportunidade de redenção.

    Então, o que faremos? Por enquanto, na ala dos desentendidos estão muitos dos burrinhos dos nossos presépios ou das vaquinhas sonolentas e indiferentes ao milagre que acontece diante de seus olhos. Veem, mas não enxergam. Tristes estes, que fazem da noite divina um hiato do tempo, a ruminar sonolentamente seus dias e ignorar os sinais de um novo dia que vence as trevas e prepara nova aurora de vida e esperança. De burrinhos e vaquinhas de presépio temos muito.

    Mas há aqueles que se deixam representar pelos inesperados e curiosos visitantes de primeira hora, extasiados que estavam com o clarão de uma luz a iluminar aquela noite mágica. Diziam-se pastores, operários sempre atentos aos sinais de perigo e alerta contra as ameaças dos lobos e coiotes a rondar seus rebanhos. Onde estão estes agora? O que fizeram da magia daquela noite aureolada pelo solstício de uma revelação divina? Um deles trazia nos ombros uma ovelha perdida, desgarrada ou, quiçá, ferida no caminho. Aquela ovelha lhe representa?

    Perguntas por perguntas, já vemos o limiar dos reinados terrenos a caminho do berço improvisado. Trazem também presentes. Porém muito mais simbólicos do que os que oferecemos hoje, na onda do consumismo que dominou esse momento cristão. Ouro, ilusão do ouro! Incenso como nossas loas voláteis e passageiras! A mirra de nossos amargores, falácias, decepções! Eis o que temos para oferecer; eis tudo o que hoje depositamos no altar da fé que pensamos ter…

    Cadê o ouro verdadeiro, a riqueza maior que poderíamos colocar naquele berço casto e sagrado? Quem ali é capaz de oferecer seu único tesouro que nenhuma ferrugem ou ácido da indiferença mundana seja capaz de corroer, consumir? Quem se dispõe a oferecer a vida, o mais precioso dos tesouros que um dia recebemos de Deus?

    Mas há também o simbolismo do incenso, esse que é capaz de se elevar de nossos corações com o perfume casto e suave de nossa gratidão. Nossas orações ganham essa dimensão sagrada, quando elevada aos céus com a pureza e simplicidade de uma fé transformadora, saudável, reluzente como qualquer alma generosa e complacente. Saibamos incensar o menino que nasce diuturnamente em nossos corações, agraciados por sua presença.

    Por fim, saibamos também presenteá-lo com a mirra, a essência da profilaxia que nos cura e liberta de todo mal. O santo remédio do arrependimento e da purificação que nos prepara a alma para viver intensamente com a saúde espiritual de que tanto o mundo precisa. Quando soubermos valorizar esse espírito natalino com o respeito que ele merece, teremos a resposta aos dilemas e problemas que hoje temos. E a pergunta será: O que mais poderemos fazer?

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