O QUE NÃO DISSE O PAPA

                Nenhuma fala pontifícia provocou tanto alvoroço quanto a que se divulgou nesta semana, através de um filme lançado em Roma, que poderia conter suposta declaração do Papa em apoio aos casais homoafetivos. A imprensa deitou e rolou. Entre mentidos e desmentidos, supostas contextualizações de uma declaração, interpretações tendenciosas e ou realistas, traduções ao pé da letra, sem considerar o texto todo, etc, etc, ecoou mais forte o humilde silêncio do próprio Papa.

                 Afinal, homossexuais são ou não filhos de Deus, têm ou não direitos civis, merecem ou não bençãos eclesiásticas… E por aí vai… “Pessoas homossexuais têm o direito de estar em uma família”. Eis a frase atribuída ao santo padre, que completa: “Elas são filhas de Deus e têm o direito a uma família”. Ninguém pode negar, do ponto de vista cristão, esse direito alienável a todo e qualquer ser humano gerado por graça e amor divinos, fruto do milagre da criação. Não há como renega-lo por força do Amor que nos fez imagem e semelhança, semideuses num processo criativo. O que não aprofundamos foi a questão da referência familiar, que tendenciosamente muitos interpretaram como direito de “constituir” uma família. O Papa não usou esse verbo, não disse isso. Referia-se ao direito de apoio e compreensão dos próprios familiares.

                “Elas (as pessoas homossexuais) são filhas de Deus”. Quem não o é? Fomos gerados e plasmados no coração de Deus. Para o autor da mais bela encíclica sobre humanidade e fraternidade, aquela que nos lembra a maior virtude do gênero humano (Fratelli Tutti), seria grande incoerência dizer o contrário sobre determinado grupo ou povo, ou classe ou status social. Portanto, Francisco não disse nada a favor de qualquer exclusão, nem mesmo endossou possível repudio dos familiares de origem dum homossexual. Têm, sim, o direito a inserção familiar, ao amparo, à compreensão, à tolerância, ao apoio senão moral, pelo menos afetivo das próprias famílias consanguíneas. Não disse direitos familiares, como aqueles advindos de uma união conjugal.

                “O que temos de criar é uma lei de união civil”. Não há como confirmar aqui a integridade textual dessa frase. O que temos é uma preocupação típica do Papa com relação aos direitos de proteção legal de todo e qualquer cidadão. Todos iguais perante a lei dos homens é base de qualquer constituição justa e humana. Já a questão que rege a consciência e seus atributos, bem como direitos e deveres, está em consonância com nossos princípios de fé. Busca sempre sintonia com a perfeição, que não aceita desvios de conduta, sejam estes de caráter moral, ético ou comportamental. A consciência do que é certo ou errado dita normas e determina nossas escolhas. Portanto, o Papa não disse que eventual união civil tenha o mesmo valor da sacralidade da união religiosa, dispensada somente para a união entre um homem e uma mulher. Esta união abençoada continuará privilégio da constituição familiar para gerar vida… e vida em abundância!

                As deturpações e o alarde sensacionalista sobre esse assunto apenas confirmam o que é capaz de provocar uma mídia oportunista e sem compromisso claro com a verdade evangélica. O silêncio do Papa diz tudo. Diante das interpretações tendenciosas contra princípios imutáveis da fé, o próprio Cristo deixou sem resposta a mais capciosa das perguntas humanas: “Afinal, o que é a Verdade?”. O silêncio de Jesus culminou com sua condenação, execração pública e morte de cruz. Nada disso adiantou. O que o Papa disse ou deixou de dizer já não importa. Ridículo e vermos e ouvirmos gente nossa, até padres e lideranças comunitárias, erguerem a bandeira da crítica e algumas poucas da solidariedade fraterna, para julgarem, apoiarem ou condenarem palavras que Francisco não disse, não diria e não dirá nunca.

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