O prisioneiro judeu que fez um crucifixo em homenagem a um padre

O comandante judeu Gerald Flink dedicou a escultura ao padre Emil Kapaun, capelão de um campo de prisioneiros americano durante a Guerra da Coreia

Guerra da Coréia, 1950-1953. Embora nunca tenha conhecido o padre Emil Kapaun, o comandante Gerald Flink já tinha ouvido falar dele o suficiente para prestar-lhe uma homenagem pessoal pelo apoio espiritual, moral e físico que o sacerdote prestou aos soldados americanos durante o conflito.

Originário do Kansas, EUA, o padre Kapaun, tornou-se capelão do exército americano durante a Segunda Guerra Mundial. Em 1950, alistou-se no exército para defender a democrática Coreia do Sul, invadida pela comunista Coreia do Norte. Ele dedicou-se às funções de capelão, levando os sacramentos e o apoio espiritual aos soldados. Porém, sua devoção foi muito além disso: ele colocava em risco a própria vida para salvar seus companheiros.

Fr. Emil Kapaun, from Knights of Columbus
Padre Kapaun rezando com um soldado.

Capturado pelos comunistas, juntamente com outros militares, Pe. Kapaun foi feito prisioneiro no campo de Pyoktong, na Coreia do Norte, por sete meses, até sua morte.

Seja no campo de batalha ou na prisão, este humilde padre se tornou um farol de esperança e misericórdia para seus irmãos torturados. Ele os ensinava a cuidar uns dos outros e a perdoar. Nos seus últimos dias na terra, os soldados, com lágrimas nos olhos, o levaram para a “Casa da Morte”, um hospital onde a negligência era tanta que ninguém saía vivo de lá. Ao longo do caminho, os soldados ficaram surpresos quando o padre Kapaun se dirigiu aos guardas coreanos pedindo-lhes que o perdoassem por qualquer mal que pudesse ter feito a eles. Depois, levantou os braços para dar-lhes sua bênção.

Um “Alter Christus”

“No final de sua vida, o capelão levou os homens tão perto de Deus que ele aparecia em suas mentes e corações como um Alter Christus, outro Cristo”, disse Scott Carter, coordenador da causa de beatificação do padre Emil Kapaun.

Isso marcou não só soldados católicos, mas também os de outras religiões, como o comandante judeu Gerald Flink, prisioneiro de guerra, transferido de outro campo poucas semanas após a morte do padre. Ao chegar, Gerald Flink percebeu de imediato que o clima do acampamento era bem diferente do antigo, onde os homens lutavam e pensavam apenas em si mesmos.

Por outro lado, os homens do campo de prisioneiros do padre Kapaun, inspirados pela memória de seu capelão, cuidavam uns dos outros.

Muito marcado pelas histórias da vida do padre Kapaun, o comandante Gerald Flink decidiu esculpir um crucifixo, a fim de homenageá-lo e manter sua memória e seu espírito vivos no coração dos soldados.

Artista talentoso, ele primeiro fez suas próprias ferramentas com materiais que encontrou no campo. Em seguida, escolheu a madeira que os presos usavam como combustível. Ele, então, fez uma coroa de espinhos com velhos pedaços de fio de rádio. O resultado foi um belíssimo crucifixo de cerca de um metro de altura.

Alguns militares coreanos, comunistas militantes, eram um pouco hostis ao crucifixo, mas outros o olhavam com espanto e respeito.

Abertura da causa de beatificação

Não há indícios de que o comandante judeu Gerald Flink tenha se tornado cristão, mas ele demonstrou uma atração genuína pela fé cristã, graças à vida exemplar do padre Kapaun. No dia em que os prisioneiros americanos foram libertados, em 1953, eles levaram o crucifixo com eles e contaram a história do padre Kapaun para o mundo. É graças a esses presos que hoje está aberta a causa de sua beatificação.

Hoje, o crucifixo do comandante Gerald Flink, feito em homenagem ao padre Kapaun, está em exibição na Kapaun Catholic Mt. Carmel High School em Wichita, Kansas. Uma réplica está exposta na parede da Catedral da Imaculada Conceição em Wichita, Kansas, onde jazem os restos mortais do padre Kapaun.

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