O MILAGRE DOS PÃES

    Ao multiplicar os pães num lugar deserto e afastado Jesus não apenas demonstrou seu extraordinário poder, como também ofereceu a seus seguidores um gesto que levava a reflexões atinentes a outras passagens bíblicas (Mt 14,13-21).  Com efeito, trazia, por exemplo, à tona as cenas do maná que alimentava o povo no deserto, mostrando que a providência divina nunca deixa à mingua os que lhe pertencem. Lembrava também o milagre do profeta Elizeu que multiplicou pães para cem pessoas (2 Reis 4,43-44). Jesus inclusive se mostrava superior a estes servos de Deus, pois Moisés foi apenas uma testemunha da cena do maná e bem limitado foi o número de pessoas assistidas por Eliseu. Naquele momento Jesus visava também suscitar a fé nos moradores da Galiléia.  Estes não captavam a mensagem de seus milagres. Viam nele um poderoso messias, líder político, mas não o Filho de Deus, o salvador de toda a humanidade, o enviado do Pai. Conforme registrou São João no seu Evangelho a reação diante do milagre dos pães foi querer fazê-lo Rei. Entretanto outra era a intenção de Jesus com este prodígio, ou seja, suscitar a fé dos doze Apóstolos, inspirando-lhes sentimentos de comiseração para com os famintos, por todos que passassem por qualquer necessidade. Eis por que Ele lhes disse: “Dai-lhes vós mesmos de comer”. Jesus desejava inclusive fazer ver ao povo a fome da palavra de Deus, palavra que sustenta para a vida eterna. Já era uma preparação para que estes Apóstolos depois viessem alimentar seus seguidores com o pão eucarístico, pão vivo de seu Corpo que ressuscitaria imortal e impassível, mas presente para todas as gerações cristãs no Sacramento da Eucaristia, no qual se daria uma multiplicação muito mais admirável. Na véspera de sua Paixão, reunido com os Apóstolos no Cenáculo,outra  Jesus tomaria o pão, o partiria, o abençoaria e o daria aos Apóstolos, que assim repartiriam o pão em sua memória. Ali no deserto os discípulos, do que sobrou, totalizaram doze cestos cheios. Bela imagem do que se daria pelos séculos afora, pois nos sacrários das Igrejas sempre haveria o pão eucarístico que jamais faltaria a quem tivesse fé. Tal a felicidade dos que acreditassem no Reino messiânico que Ele viera instaurar nesta terra. Então se compreende melhor como a Eucaristia, o pão multiplicado, condensa para os cristãos toda a     história da salvação. A Eucaristia iluminaria a existência do verdadeiro seguidor de Cristo. Ele que demonstrou seu poder imenso alimentando no deserto mais de cinco mil pessoas, poderia também, ao tomar o pão no Cenáculo, dizer “Isto é o meu Corpo: isto é o meu Sangue”, dando em seguida uma ordem aos Apóstolos: “Fazei isto em minha memória”. Tratava-se de um memorial, de uma presença e de uma promessa de vida eterna. Antes, naquele  lugar deserto, diante de uma multidão que poderia passar fome, a estratégia dos Apóstolos era despedir os que ali se achavam. Para Jesus havia, porém, uma outra  solução e Ele afirma: “Eles não têm necessidade de ir embora”. É que Ele com sua onipotência haveria de providenciar o alimento para todos. Isto impelido Ele por sua compaixão, agindo conforme ditava seu coração amabilíssimo. Para os Apóstolos o problema era sério, mas Jesus não via problemas, limites. Ele contemplava uma multidão que atentamente ouvira sua palavra repleta de consolação, de esperança, de verdade. Promoveu então Jesus o festim da compaixão e ninguém ali haveria de passar fome. Esta seria a destruição da vida, mas ali estava o Senhor da vida e se dá então aquele ato miraculoso que ficaria para sempre na memória de seus discípulos através dos tempos, como, aliás, se dá conosco no dia de hoje. Felizes os corações que desejam estar assim com Jesus, que O procuram, em que O vêem sob os acidentes do pão e do vinho e, depois, passa a a irradira esta felicidade por toda parte. É que no encontro com Cristo no Sacrifício Eucarístico da santa Missa não apenas Ele alimenta a todos com sua Palavra, mas a muitos, que para isto se prepararam, alimenta também com o seu Corpo, Sangue Alma e Divindade na hora da Comunhão. Num e noutro caso, revelando-se um Deus de ternura e de misericórdia, lento à impaciência, cheio de amor e de verdade.

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