O libertador

    A primeira leitura do terceiro domingo da Quaresma nos traz à memória o grande relato da libertação do Egito. Lá os israelitas viviam na escravidão, mas chega o momento em que o Senhor vê a opressão que o povo sofria, ouve as suas queixas e os liberta dessa situação para levá-los à terra prometida, à terra que emana leite e mel. Quem é esse libertador?  Como Moisés deve responder quando seu povo lhe perguntar quem é que o envia? “Eu sou o que sou” Deus é o que é e em seu ser está o fundamento do nosso próprio ser, de nossa liberdade, de nossa vida. Somos suas criaturas. E Ele quer a vida para nós, a vida plena, a vida em liberdade. Para o povo oprimido pela escravidão, abriu-se um horizonte de esperança. Deus, o Deus de seus pais, o Deus da vida aproximava-se deles. Moisés era o seu profeta. Oferecia-lhes a liberdade e um futuro novo em terra nova.
    Mas, o que fazemos com essa libertação que Deus nos oferece? O fato de que Deus nos liberta não significa que automaticamente alcancemos a liberdade. Não basta abrir a porta da cela ao preso. Ele precisa se levantar e deixar a prisão por seus próprios pés. Deve assumir sua parte em sua própria libertação. Como disse Jesus, “se não se converterem, todos perecerão”. Mas precisamos colocar esta palavra em conexão com a parábola final. Nela podemos compreender a imensa misericórdia de Deus, que sempre estende a sua mão salvadora, libertadora para nós. O proprietário levava já três anos gastando tempo e dinheiro em uma vinha que não dava fruto. Quer cortá-la, arrancá-la e, assim, ocupar o terreno com outra cultura. Mas o vinhateiro quer continuar tentando. Acha que ainda pode conseguir que dê fruto. É questão de paciência e trabalho, a mesma paciência que Deus continua tendo conosco, até que sejamos capazes de viver como homens e mulheres livres e responsáveis.
    Quaresma não é tempo para nos sentirmos desesperados e desanimados. É certo que, ao olhar para as nossas vidas, descobrimos estar desperdiçando a herança valiosa que recebemos de nossos pais, que não vivemos como deveríamos a fé cristã que nos transmitiram. Talvez percebamos que, em muitos aspectos, nossa vida deixa muito a desejar. Mas não é menos certo que temos um Libertador que continua sempre a nos estender a mão para que consigamos deixar nossa prisão, para que caminhemos em liberdade, para que vivamos plenamente. As leituras do terceiro domingo da Quaresma são motivo de esperança. Confirmam-nos, mais uma vez, que Deus não abandona seu povo, mesmo que em muitas ocasiões, a vida se torna tão difícil que assim nos pareça.

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