O FIM DO MUNDO

                Quem inventou a possibilidade do fim do mundo não foi o medo e a insegurança humana em seus dias de crises existenciais, mas o próprio Cristo em sua despedida terrena. Eis que Ele acena aos homens em sua ascensão aos céus, aventando esse assunto e se dizendo companheiro de nossa jornada até o fim, o final dos tempos. “Estarei convosco sempre!”, é sua promessa. Para os exegetas, o anúncio de Cristo em sua despedida terrena é muito mais que uma força de expressão, um adeus momentâneo. É a prova cabal e real de que tudo converge para o cerne da Criação, que tem em Cristo seu maior mistério, a razão de ser, de existir, que dá sentido à existência humana. Fomos plasmados no coração do Pai e a Ele voltaremos através das promessas do seu Filho, sob a ação e unção do seu Espírito. Eis o tripé que sustenta e dá razão a tudo o que somos, vemos e sentimos neste mundo. Um dia tudo acaba e só nos restará o retorno ao Pai, fonte e origem desse tudo, desse universo que pensamos possuir! Eis tudo!

                Mas não é só de ilusões que nossa vida é feita. Há uma realidade muito maior e mais ampla que esse mundo tangível, essa matéria impactante a moldar nossas vidas, a construir sonhos e acumular ambições. Somos mais que um conjunto de células ou um universo de átomos radioativos ou não. O fluxo e refluxo do coração humano é o mais simples exemplo desse pulsar de vida que a autoridade divina nos possibilitou experimentar neste mundo, ou seja: a vida é um constante fluxo e refluxo que flui do coração de Deus. Uma diástole e sístole espiritual. Quem foge dessa realidade torna-se o sangue derramado, que se esvai do coração, das veias dilaceradas do Redentor humano e se perde no chão da triste realidade terrena… Essa linguagem figurada não é mera pregação dogmática, mas prerrogativa da fé cristã: “Ninguém vai ao Pai senão por mim”. Eis o caminho, a verdade e a vida do refluxo existencial. Nossa passagem terrena tem um retorno definido, uma rota a seguir. O mundo que ocupamos é o veículo, o instrumento momentâneo desse retorno. Quem se perde pelo caminho é aquele que foge dessa sintonia que as veias da fé cristã apontam como verdade imutável e essencial proclamada por Cristo: “Toda autoridade me foi dada no céu e sobre a terra. Portanto, ide e fazei discípulos meus todos os povos” (Mt 28,18-19).

                Aqui reside a autoridade da Igreja sobre os destinos humanos. Não é uma simples retórica de força e poder, à luz dos conceitos políticos que usurpam as definições de autoridade ou governo dos povos. A autoridade concedida à Igreja no mundo engloba “todos os povos”, aos quais sua mensagem de fé e esperança se estende apontando a cruz como sinal e estandarte de redenção, de libertação das correntes que porventura nos prendam, nos imobilizam, nos sufocam neste mundo. A ação da Igreja diante dessa realidade é uma ação moderadora, capaz de anunciar um novo caminho denunciando os desvios que “derramam” o sangue dos injustiçados, dos inocentes, dos espoliados desse ensinamento de fé. “Ide e fazei discípulos” é muito mais que um imperativo institucional, uma ação dogmática; é uma necessidade de preservação. Uma ação de coerência com a vida, essa que ora ocupamos momentaneamente, mas que um dia devolveremos aos pés da cruz de Cristo, aquele que caminha conosco. “Sim, ele pôs tudo sob os seus pés e fez dele, que está acima de tudo, a cabeça da Igreja” (Ef 1,22). Sim,  o fim do mundo será para todos os que se desviarem desse caminho de fé e esperança imutáveis, indestrutíveis, imortais…

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