O Direito humano: Direito à vida

    Cuidar com gestos e procedimentos que geram amparo e alívio ao doente.

    A vida é um dom de Deus, e a ele cabe o poder de dá-la e tirá-la. Ao que se chama erroneamente de morte doce (eutanásia), nada mais é do que uma ideia irracional e eticamente reprovável. O verdadeiro direito humano é o direito da vida, e essa vida humana, como nos diz o Papa Francisco é “sagrada, válida e inviolável, e como tal, deve ser amada, defendida e cuidada”.

    O momento da enfermidade é sempre um período de fragilidade e, muitas vezes, de solidão, em que a pessoa faz a dolorosa experiência da sua incapacidade, dos seus limites e também da finitude da vida. Embora seja sofrimento, o ensinamento cristão diz que, especialmente o sofrimento dos últimos momentos da vida, tem um lugar especial nos planos salvíficos de Deus; é de fato participar da Paixão de Cristo e a união com o sacrifício redentor que Ele ofereceu em obediência a vontade do Pai. Ou seja, aos enfermos, aceitar voluntariamente ao menos uma parte do sofrimento próprio de uma maneira consciente, e associá-lo ao sofrimento de Cristo crucificado (cf. Mt 27, 34).

    A expressão morrer com dignidade (eutanásia) na verdade é bem resumida na Encíclica Evangelium Vitae como uma ação/omissão que, por sua natureza e nas intenções, provoca a morte objetivando a eliminação do sofrimento. Do ponto de vista moral, a eutanásia é totalmente condenável, pois possui o fato de desviar a morte de seu curso natural antecipando a morte. E, levando em conta o que diz o Código de Ética Médica de 1931: “…um dos propósitos mais sublimes da Medicina é sempre conservar e prolongar a vida”. O enfermo tem o direito de prosseguir e aguardar o curso natural da vida. Por isso, não cabe a médicos, enfermos, nem a quem por direito são responsáveis deles, decidir quando e como se deve morrer.

    Em cada visita realizada aos enfermos, é levada a misericórdia, mas ela não se realiza com palavras bonitas ou frases de efeito, ela é concreta e precisa ser exercitada. Nenhum equipamento eletrônico substitui um sorriso que devolve a alegria, um abraço que conforta, uma palavra que tranquiliza, uma oração que aumenta a fé, um olhar que dá esperança, um ouvido que escuta as dores e os medos. É o conforto e a assistência espiritual que devemos levar aos nossos irmãos, apoiando a cada um em seu momento de fragilidade. No leito de dor encontraremos o próprio Cristo sofredor: “Estive doente e me visitastes” (cf. Mt 25, 36). As pessoas doentes devem ser amparadas para que possam levar uma vida tão normal quanto possível.

    Por fim, como diz o Papa Francisco, a grande tentação hoje é de “brincar com a vida”, é um pecado contra Deus, o criador de todas as coisas. A morte não deve ser vista erroneamente, ela é um dom de Deus, e a morte é inevitável, e nem sempre representa o fracasso de um médico, fracasso é a morte desumanizada. Legítimo não é antecipar a morte, legítimo é morrer dignamente. A morte é o fim da nossa existência na terra, mas a passagem para vida imortal, e todos devem estar preparados para esse evento à luz dos valores humanos e à luz da fé. E para os que trabalham com a saúde, devem usar de todos os esforços defendendo a vida.

    “Todas as vezes que fizestes isso a um dos meus irmãos, foi a mim que o fizestes”. (Mt 25, 40). Comprometida com os valores cristãos da solidariedade e humanização, a Pró Saúde realiza um conjunto de ações para valorizar o dom da vida em cada um dos seus mais de um milhão de atendimentos mensais. Entre elas, está a implantação da Pastoral da Saúde em todas as unidades gerenciadas nos 12 Estados brasileiros nos quais está presente. A Pró-Saúde, que tem em sua origem de fundação a Igreja Católica, preza por manter esse conceito de fé e amor ao próximo, que norteia nosso trabalho desde sempre.

     

    Dom Antonio Carlos Altieri, SDB

    Arcebispo Emérito de Passo Fundo, RS

    DEIXE UMA RESPOSTA

    Please enter your comment!
    Please enter your name here