O bom samaritano

    A expressão incorporou-se à nossa língua. Não sabemos sequer se houve o samaritano da parábola. Mas hoje chamamos de bom samaritano a qualquer pessoa de bom coração que ajude aos seus irmãos sem nada pedir em troca.. Não há melhor coisa que se encontrar um bom samaritano quando alguém anda perdido pelos caminhos da vida, sem rumo e, talvez, ferido e surrado. Até é possível que nos surpreenda sua generosidade ilimitada, o carinho gratuito que recebemos, tão acostumados que estamos a pagar por tudo que recebemos.
    Mas a parábola de Jesus vai mais além, pois o samaritano não é apenas alguém que parou para atender aquele homem abandonado e ferido à beira do caminho. Na sua parábola, Jesus coloca o samaritano em relação com outros personagens bem conhecidos do povo judeu: um sacerdote e um levita. Os dois são representantes da religião oficial judaica. Os dois oficiam no templo e são mediadores entre Deus e os homens. Supunha-se que os sacerdotes e levitas tivessem um acesso a Deus do qual eram privados os demais crentes – o mesmo que, hoje, muitos cristãos pensam ainda de sacerdotes e religiosos. O samaritano, segundo a perspectiva judaica, pertencia praticamente ao oposto da escala religiosa. Era um povo que havia misturado a religião judaica com outras crenças estranhas. Era um traidor da fé verdadeira, um povo impuro.
    Por isso, ganha muito mais importância o fato de que Jesus contraponha na parábola os representantes oficiais da religião – um sacerdote e um levita – a um samaritano, pecador e impuro. E, o mais grave, que seja precisamente o samaritano quem se saia melhor, quem se comporta como Deus quer; aproxima-se do próximo desamparado e abandonado. Dito de outra maneira, aquele que se faz próximo de seu irmão necessitado, seja ele quem for.
    Na realidade, Jesus está reconstruindo nossa relação com Deus. Muito mais importante do que o culto oficial e litúrgico do templo é a aproximação ao irmão necessitado. Muito mais valioso que oferecer sacrifícios e orações é adorar a Deus no irmão ou irmã que sofre, seja qual for o motivo. Jesus não era um dos sacerdotes dos judeus, mas profeta. Afasta-se do templo e nos convida a viver nossa relação com Deus no encontro diário, habitual, na rua com nossos irmãos e irmãs. É lá o lugar onde se estabelece nossa relação com Deus. Somente se formos capazes de amar assim poderemos dizer que amamos a Deus. Porque, como escreve São João, o que diz que ama a Deus e não ama seu irmão é um mentiroso.

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