O antigo e o novo

    Há uma distância enorme entre a primeira leitura e o evangelho do terceiro domingo do Tempo Comum. A primeira leitura relata um momento da história de Israel em que, depois do retorno do exílio, o povo ouve a proclamação da lei. É a lei de Deus. São as normas que Deus deu aos seus pais, no passado e que devem ser obedecidas a todo instante. Em troca, o povo terá a vida. Se o povo foi vencido por seus inimigos e consequentemente desterrado, foi devido ao fato de não ter obedecido a essas normas como deveria.
    No evangelho, encontramos uma situação bem diferente. Jesus voltou para sua cidade natal após longo período de ausência. Já havia iniciado sua vida pública e sua fama havia chegado a seus contemporâneos. Sente-se enviado por Deus para pregar o seu Reino. Estamos ante uma nova proclamação da lei? Jesus irá dar normas novas que sejam contrárias às que, desde a antiguidade, o povo havia recebido? Possivelmente, seus conterrâneos se faziam também essas perguntas. Por isso, quando entra na sinagoga, é convidado para fazer uma leitura dos profetas e a que lhes fale.
    Jesus, de maneira surpreendente, escolhe um texto que não fala nem de normas nem de leis. Fala muito mais dele mesmo e de sua missão. Jesus se serve de um texto do profeta Isaias para explicar a seus contemporâneos, e também para nós, qual é o conteúdo de sua missão, por que está pregando pelas aldeias e caminhos da Galileia. Jesus acredita-se dominado, possuído pelo Espírito de Deus. Esse Espírito não faz dele alguém superior aos demais. Não o torna um rei que, como os demais reis da terra, faz valer sua autoridade para dominar, oprimir, aniquilar as pessoas injustamente e escravizar. Ele foi enviado para anunciar a Boa-Nova aos pobres, libertar os cativos e devolver a visão aos cegos. Eis sua missão. Não se rata, portanto, de que Deus, por meio dele, nos vá dar normas novas, talvez mais fáceis, ou, quem sabe, mais difíceis, a que devemos obedecer. De maneira alguma. Jesus nos fala de um Deus que nos traz a salvação, quer que sejamos livres, que deixemos de sofrer, que sejamos felizes. Essa é a missão de Jesus. Nós, que hoje formamos uma comunidade, somos os encarregados de levar essa Boa-Nova aos que sofrem, aos oprimidos, aos cativos e aos pobres, para que todos conheçam o Deus que nos ama e nos salva.

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