O amor do pai

    O centro da mensagem do quarto domingo da Páscoa se situa na segunda leitura. João nos faz perceber o imenso amor que Deus tem por nós. Trata-se de um amor que se realiza na autêntica relação entre nós e Deus. Não apenas nos chama de “filhos de Deus”. Realmente somos. Esta é a grande transformação produzida em nós como consequência da manifestação de Jesus. Este é o ponto central que a mensagem deste domingo nos faz levar em conta. Somos filhos de Deus e, como diz a segunda leitura, ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Isto é, ainda nem nós mesmos somos capazes de perceber o verdadeiro significado dessa afirmação. O certo é que já não devemos e não podemos mais enxergar Deus como um senhor feudal a quem devemos temer. Nosso Deus é um Pai, um “Abá”, como era do agrado de Jesus dizer na sua língua, “Papai”. Trata-se de um relacionamento de grande proximidade, de enorme confiança, porque dele, do nosso “Abá”, apenas podemos esperar coisas boas.
    Jesus é o nosso irmão mais velho. Veio para nos reunir em uma família e para nos fazer conhecer esse acontecimento fundamental de nossas vidas: somos filhos. Por nós, seus irmãos, viveu aqui cada dia, o dia inteiro, a vida toda. Por isso emprega a imagem do Bom Pastor. Da mesma maneira que o Pastor dá a vida por suas ovelhas, Ele deu sua vida por nós. A imagem do pastor se refere a Jesus. Fala-nos do seu modo de se comportar conosco. Como o pastor cuida amorosamente de cada uma das ovelhas de seu rebanho, especialmente das mais fracas, de igual forma, Jesus cuida de nós.
    Mas isto não significa que devemos dizer que somos como ovelhas. Nós somos “filhos”. Mas não é só isto. Somos “filhos de Deus”. Como filhos, somos herdeiros. Deus nos deseja adultos, responsáveis, capazes de agir livremente, de tomar decisões e assumir nossos próprios riscos. Como um bom pai, sofrerá com os nossos equívocos e erros, mas não nos castigará. Melhor: Ele nos oferecerá bons conselhos e nos incentivará a tentar uma vez mais. Porque o que Deus quer é que cresçamos, que não sejamos eternamente infantis, mas filhos maduros com os quais possa dialogar em um mesmo nível.
    Essas mensagens nos fazem tomar consciência do amor com que Deus nos ama. É um amor que nos transforma em filhos. É um amor que levou Jesus a dar a vida por nós – tal como um pastor com suas ovelhas. É um amor que nos ajuda a crescer, que nos leva a ser livres e adultos – irmãos de nossos irmãos. É um amor que nos faz nos sentirmos membros da família e responsáveis por cada um dos que vivem conosco. É isto que nos torna verdadeiramente filhos de Deus.