O bom pastor

    Ao dizer “eu sou o bom pastor”, Jesus se põe em pé de igualdade com o Deus libertador do Êxodo, que assim se deu a conhecer a Moisés: “Eu sou aquele que sou”, e desse modo que ser lembrado de geração em geração. Jesus bom pastor é, portanto, a memória e a presença viva do Deus que conduz o povo para fora de tudo o que oprime e diminui a vida. Com ele, iniciamos novo e definitivo êxodo rumo à vida em plenitude que Deus quer para todos.
    Os versículos 11 a 13 opõem o pastor, que é Jesus, aos mercenários, que são as lideranças político-religiosas do seu tempo e de todas as épocas. Mais, ainda, hoje há falsos pastores que agem como saduceus, fariseus ou falsos mestres da lei. Diante de Jesus bom pastor, não há meio termo: ou estamos a serviço do povo até o fim, dando a vida por ele, e assim nos assemelhamos a Jesus, ou somos mercenários e exploradores, coniventes com as situações e estruturas que geram a morte da nossa gente.
    Os versículos 14 a 16 desenvolvem o tema da relação pastor-ovelhas, alargando os horizontes até atingirem dimensões universais: “Tenho outras ovelhas que não são deste redil. Também a elas eu devo conduzir; ouvirão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor.” A relação pastor-ovelhas é sintetizada pelo mútuo conhecimento. Para o povo da Bíblia, conhecer se traduz em experiência e presença, ao mesmo tempo. Conhecer Jesus. Portanto, é experimentá-lo como presença que liberta e dá a vida.
    Os versículos finais falam da relação existente entre Jesus e o Pai. A vida de Jesus foi uma contínua manifestação da vontade e do amor de Deus para com a humanidade e a suprema prova desse amor se deu na “hora” de Jesus (sua paixão, morte e glorificação), quando entregou a vida para retomá-la na ressurreição.
    Como bispo sempre amei meus padres, em primeiro lugar, com amor de Pai e ternura de mãe. O mesmo fiz para com todos os fiéis indistintamente. O Bom Pastor não é aquele que pune, como um inquisidor. Fiquei comovido quando um jovem arcebispo me disse nesta semana em Aparecida: o verdadeiro Bom Pastor é aquele que ama, que escuta, que perdoa, que dá carinho. Por isso devemos perceber a confiança que Jesus tem com o Pai e que nós também devemos ter. O seu sacrifício não teve a intenção de cobrar posteriormente o prêmio. Ele tinha certeza de que triunfaria. Cumpriu a vontade do Pai confiante no seu amor de Pai. É essa a confiança que Deus quer de nós.