NATIVIDADE DE MARIA

    No dia 8 de setembro celebramos a festa da Natividade de Nossa Senhora. Como quase todas as principais solenidades de Maria, a Natividade também é de origem oriental. Na Igreja latina, iniciou-se com o Papa Sérgio I no final do século VII. Originalmente era para ser a festa da dedicação da atual basílica de Sant’Ana em Jerusalém. A tradição oral indicava aquele lugar como a sede da humilde moradia de São Joaquim e Santa Ana da descendência de Davi.

    É necessário procurar neste culto da Natividade de Maria uma verdade profunda: a vinda do homem-Deus na terra foi por muito tempo preparada pelo Pai durante os séculos.

    A personalidade divina do Salvador supera infinitamente tudo o que a humanidade pode gerar, mas a história da humanidade foi como um nascimento lento e difícil das condições necessárias para a encarnação do Filho de Deus na História.

    A devoção cristã, portanto, queria venerar as pessoas e eventos que prepararam o nascimento de Cristo no nível humano e no nível da graça: sua mãe, o nascimento dela, sua concepção, seus Pais e seus antepassados. Acreditar nos preparativos da encarnação significa acreditar na realidade da encarnação e reconhecer a necessidade da colaboração humana na implementação da salvação do mundo. A verdadeira devoção a Maria sempre se remete a Jesus Cristo.

    A celebração honra o nascimento da Mãe de Deus, mas o verdadeiro significado a propósito deste evento é a encarnação da Palavra na história. De fato, Maria nasce, é amamentada e criada para ser a Mãe do Rei dos séculos, Mãe de Deus.

    Portanto, toda a criação irá cantar de alegria, exultar e participar da alegria deste dia solene. Este é realmente o dia em que o Criador do universo construiu seu templo, hoje o dia em que, para um projeto estupendo, a criatura se torna a morada escolhida do seu Criador.

    A genealogia é inspirada no primeiro livro das Crônicas, (Cf. Cr 1.34; 2,1-15; 3,1-18); e ao livro de Rute (cf. Rt 4, 18-22. Para o judeu, a história é expressa em termos de gênese, que significa de geração. Na Bíblia há apenas uma história: a de uma promessa feita por Deus a Abraão, Pai dos crentes (cf. Is 51,1-2), que ocorreu no tempo do Rei Davi (cf. Is 9,6; 11,1-9) e foi cumprida em Jesus Cristo (cf. Gl 3, 28-29).

    O primeiro verso dessa passagem é o título da genealogia, ela também pode ser o título de todo o evangelho ao mesmo tempo. A expressão livro de gênese lembra o título do primeiro livro da Bíblia e sugere posteriormente que o evangelho é a história da nova criação. O evangelista São João se coloca na mesma linha, colocando no início do seu evangelho as palavras no princípio tiradas diretamente do livro de Gênesis. (cf. Gn 1,1).

    O filho de Davi, Jesus cumpriu as promessas que Deus havia feito através dos profetas (cf. 2 Sm 7: 1, Is 7: 14ss). Como o filho de Abraão perfeitamente percebemos a promessa feita ao líder do Povo de Deus: “Em ti serão benditas todas as famílias da terra eu vos farei frutificar pois nações e reis sairão de ti.” (cf. Gn 17: 6, cf. Gal 3: 8-29).

    A genealogia destaca a continuidade entre a história de Israel e missão de Jesus e nos prepara para compreender o Evangelho, segundo a qual a Igreja fundada por Jesus é o verdadeiro Israel de Deus e herdeiro de todas as suas promessas (cf. Mt 1, 16-18).

    A menção de mulheres na árvore da família de Jesus, é algo quase incomum no gênero de genealogia, destina-se, talvez, para preparar a presença decisiva e exclusiva de uma mulher, Maria, com o nascimento do Salvador.

    De acordo com a sucessão de gerações anteriores, deveríamos ler assim: Jacó gerou José e José gerou Jesus. Lemos em vez disso: Jacó gerou José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, chamado Cristo. O verbo no original na voz passiva “foi gerado” (em sentido grego) expressa a ação de Deus, que será chamado explicitamente na seguinte passagem: “Aquilo que nela foi gerado é do Espírito Santo”, (cf. Mt 1,20).

    Na genealogia de Jesus Cristo, Mateus nos dá uma visão teológica da sucessão de gerações, agora, essa concepção continua apresentando o papel e a missão de José do ponto de vista do plano de Deus, José é um homem justo. Mateus destaca a identidade messiânica de Jesus afirmando sua descendência em Davi, a quem Deus havia prometido a um descendente que reinaria eternamente na casa de Jacó (cf. Lc 1.33; 2 Sm 7,16).

    O nome de Jesus significa “Deus salva”, a promessa de salvação contida no nome de Jesus é apresentada em termos espirituais como salvação dos pecados (cf. v. 21). Também para Lucas, a salvação trazida por Jesus consiste na remissão dos pecados (cf. Lc 1,17). Nestas palavras, há a clara rejeição de um messianismo terreno. Jesus não veio para conquistar o reino de Israel ou libertar sua nação da dominação estrangeira. A singularidade da aparência do anjo consiste no fato de que ocorre em um sonho. Mateus talvez apresente José de acordo com o modelo do patriarca José, vice-rei do Egito (cf. Gn 37,5ss).

    O importante é que a aparição do anjo deixa claro que a diretriz vem de Deus, aqui encontramos a primeira citação do Antigo Testamento. Isto é precedido pela fórmula introdutória: “Tudo isso aconteceu para cumprir o que foi dito pelo Senhor através do profeta”. Com essa expressão, Mateus quer nos dar a ideia do cumprimento das intenções de Deus contidas nas Escrituras. É importante notar que Deus falou através do profeta.

    Jesus identificado como o Emanuel, Deus conosco, é uma razão central para o Evangelho de Mateus. Esta citação de Isaías forma uma inclusão com a última sentença do evangelho: “Eu estou contigo todos os dias até o fim do mundo” (cf. Mt 28,20).

    A Natividade da Virgem Maria não é um aniversário como muitos outros, é a comemoração de uma grande personalidade na história, é o nascimento da Virgem Maria que é celebrado em vista do grande acontecimento salvífico: a vinda do Messias, Jesus Cristo, Nosso Senhor.   Maria é uma personalidade singular e de grande relevância histórica, porém ela sempre remete a Jesus.

    Desde o primeiro momento da vida ela é totalmente disponível e transparente para Deus, ela é como um ícone radiante da bondade divina. Maria, com a totalidade de sua pessoa, é uma mensagem viva de Deus. Maria não pertence ao passado, ela é contemporânea a todas as gerações que a chamarão bem-aventurada. Com seu presente permanente em escutar a voz de Deus por meio do anjo, Maria transcende a história e está sempre presente na história.

    A Virgem Maria nos diz de seu amor e sua disponibilidade ao Projeto de salvação.  A vida de Maria desde a sua natividade, do seu SIM guardam para nós um testemunho eloquente e corajoso, pois em Maria o grande anúncio da Encarnação se tornou resposta concreta e decidida, foi uma realidade transformadora: “Eis aqui a serva do Senhor”. A Palavra se tornou carne em Maria. Maria, serva de Deus, tornou-se a “porta” pela qual Deus pôde entrar neste mundo.

    De fato, não apenas a “porta” tornou-se a “morada” do Senhor, “casa viva”, onde o Criador do mundo realmente viveu. Maria ofereceu sua carne para que o Filho de Deus se tornasse como nós. E aqui vem à mente a palavra com a qual, de acordo com a Carta aos Hebreus, Cristo começou sua vida humana dizendo ao Pai: “não quer sacrifícios nem ofertas, mas um corpo que você preparou para mim […]. Então eu disse: Eis que venho, ó Deus, para fazer a tua vontade “(cf. Hb 10, 5-7).

    Maria em tudo fez a vontade de Deus, tornando-se Mãe do Redentor: o verbo de Deus nela se fez carne – na verdade aqui há o encontro entre Deus e o homem, a união do céu e a terra, Deus o Criador e sua criatura. Deus se torna homem, Maria se torna casa viva do Senhor, templo ou morada onde habita o Altíssimo. E onde Deus habita, todos nós estamos em casa; onde Cristo habita, seus irmãos e irmãs não são estrangeiros.

    São Francisco de Assis ao se referir a Virgem Mãe de Deus, gostava de chamá-la “Senhora Pobrezinha” virgem feito Igreja, uma igreja templo de portas sempre aberta a nos acolher. A mãe de Cristo é também nossa Mãe, Mãe de todos os que constituem a família de Jesus Cristo, com Cristo e com a Mãe, constituem a Sagrada Família de Deus neste Mundo.

    Maria abriu a sua vida e a sua casa para nós porque, abrindo-se a Deus, abriu-se a toda humanidade. Ela oferece-nos a sua casa como o lar comum da única família de Deus. A fé nos dá um lar neste mundo, nos une em uma família. Pela fé somos todos irmãos e irmãs em Cristo, portanto, uma única família. A Casa de Nazaré não é uma relíquia do passado, ela nos fala no presente e nos provoca uma reflexão. Devemos nos perguntar se estamos realmente abertos ao Senhor se queremos oferecer-lhe a nossa vida para que seja morada em nós.

    A Casa de Nazaré conserva sempre um simbolismo muito precioso, ela é uma casa aberta, portanto, é como um convite, como um abraço aberto.  A casa de Nazaré esconde outra mensagem. Até agora, temos dito que Deus não é um Deus abstrato, puramente espiritual, ou uma presença distante de nós. Deus tem uma história de aliança e fidelidade para com o seu povo, uma história palpável. A fé nos faz habitar, mas também nos faz caminhar, e nesta perspectiva, a família de Nazaré mantém um importante ensinamento para todos nós.

    Inspirados em Maria a Mãe de Deus, toda a nossa ação pastoral, na força Espírito Santo, deve ser um anúncio de paz que vem de Deus. Maria, cuja Natividade celebramos. A beleza que salva e que faz da Igreja o ícone da Trindade na terra, este é o lugar de reconciliação e paz.

    Neste dia em que a Igreja recorda a natividade de Maria, mãe de Jesus, filha de Joaquim e Ana, também entre os santos, peçamos a Virgem que interceda por nós e nos acompanhe na caminhada de fé. Que sejamos fieis a nossa missão de ser e fazer discípulos de Jesus Cristo todos os Povos da terra, assim como fez Maria desde Belém até o Calvário.  Maria acolheu o plano divino e Sua vontade, ela em tudo foi totalmente disponível, fez-se a serva do Senhor, inteiramente aberta a sua vontade. Celebrando a Natividade de Maria, recordemos Santo Agostinho: “O Altíssimo fundou esta cidade para nascer, da mesma forma que criou sua mãe para nascer dela”.

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