NÃO FAÇAM A GUERRA

                Mais uma vez, estamos presenciando a idiotice humana agir acima de sua maior virtude: a razão. Uma guerra sintetiza o lado irracional dos animais que somos. Alguém já disse: é colocar jovens inocentes se matando por ideais de velhos ignorantes, insensatos, decrépitos, idiotas mesmo. O sentimento primeiro de uma raça minimamente inteligente é o da preservação da espécie, nunca sua autodestruição. Pois bem, uma guerra, por mais justificável que possa ser, nunca será perdoável.

                O presente confronto entre Rússia e Ucrânia é o estopim aceso de uma guerra generalizada que o mundo teme e que já nos levou à derrocada mundial por duas vezes. Uma terceira, com o poderio bélico e o arsenal destrutivo que nossa ignorância estocou e aprimorou tecnologicamente, poderá significar nosso extermínio como raça humana. Isso todos bem o sabemos. Essa é a maior da insensatez que a ciência tecnológica ajudada pela “sabedoria” humana construiu para si mesma: orgulhar-se do poder destruidor que possui. Prefiro o confronto com o vírus endêmico ao brilho ofuscante de uma ogiva nuclear. Aquele (o vírus) pelo menos justifica nossa capacidade de amar, pois nos dá oportunidades de exercitar a solidariedade e unir-se no combate de um inimigo comum. Ao passo que uma guerra nos deixa sem muitas alternativas senão aumentar nosso ódio contra aqueles que nos agridem.

                Muitos aplaudem a guerra. Ocupam suas poltronas bem almofadadas, estouram suas pipocas, abrem seus licores e doses alcoólicas para brindarem à morte diante do avanço de suas guarnições favoritas. O fazem como se ocupassem salas cinematográficas ou estádios romanos de gladiadores. Ou campeonatos esportivos. A vida dos combatentes ganha os valores proporcionais às suas apostas de favoritismo. Aos derrotados restam-lhes asco e desprezo. Nada mais do que isso!

                Torcida do Diabo, isso sim. Longe da realidade dos combatentes estão os senhores da guerra. Protegidos em seus guetos, brindados em seus gabinetes, isolados na retaguarda dos que lutam sob o comando de suas vontades, vaidades e cegueira autoritária, são os primeiros a se acovardarem se o inimigo avançar sobre territórios que imaginam seus. Aqui o ponto crucial. Território é tudo numa guerra, seja este no aspecto primeiro dos sinônimos que lhes damos, seja no significado amplo dos ideais, sonhos, objetivos que “justifiquem” uma guerra, o “território” pelo qual se luta. Qual deles é o estopim da insanidade atual?  Petróleo, gás natural, jazida nuclear, água? Ou pura ideologia política? Tudo insignificante, se analisado à luz dos poderes transitórios que governam o destino humano. Porque maior poder vem de Deus, “procede do Pai que dá a luz ao homem e que tudo criou”. Porque “nenhum poder lhe seria dado se não viesse do Pai”. Aqueles que se arrotam no poder de declarar uma guerra, automaticamente, instantaneamente, perde o poder que pensa possuir.

                “Não elogies ninguém antes de ouvi-lo falar”, nos diz hoje Eclesiástico. Se sua fala declara caos, desordem, morte, fuja deste! Porque simplesmente “não se colhem figos de espinheiros, nem se apanham uvas de plantas espinhosas. O homem bom tira coisas boas do bom tesouro do seu coração, mas o homem mau tira do seu mal coisas más, porque a boca fala daquilo de que o coração está cheio” (Lc 6, 44,45) Já estava escrito. Maktub!

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