Na perspectiva do novo

    Você já tentou varrer seu lixo contra o vento ou remar seu barco contra as ondas? Não dá. Da mesma forma traçar uma meta e caminhar contrária a ela. Viagem tranquila é aquela planejada e com rumos bem definidos desde seu início. Mesmo cientes de que a curvatura terrestre nos dá possibilidades de retornar sempre ao ponto de partida, de que todos os caminhos levam a Roma, a precaução e desejo de alcançar com segurança nossos objetivos nos induzem a traçar planos, roteiros de viagem. Assim a vida.
    Nessa perspectiva, traçamos também objetivos de vida. Acontece serem estes maiores e muitas vezes mais fantasiosos ou idilicamente utópicos que nossa autonomia ou capacidade existencial. Em outras palavras: sonhamos além dos horizontes possíveis e imagináveis em nossas vidas. Isso não é totalmente negativo, pois quando viajamos a passeio gostamos de contemplar e imaginar além do horizonte que percorremos. Nossas vistas estão sempre vasculhando o desconhecido. Viajam mais rápidas que nossos pés. Chegam sempre primeiro… Nossos sonhos contemplam a realidade e alcançam-na mentalmente antes que dela possamos usufruir. Mesmo que nossos passos se tornem lentos e nossos meios de transporte não sejam tão eficazes quanto desejaríamos, nossos pensamentos e nossa visão viajam sempre à frente de nós mesmos.
    Eis, pois, que não é totalmente má essa construção de metas que todo ser humano traça em sua existência. Sem elas, perdemos o sentido da vida. Sem elas, limitamos nossa capacidade de sonhar, de amar, de produzir. Sem elas, mofamos, atrofiamos o corpo e a alma. Quem mata os próprios sonhos ou encurta os passos rumo aos objetivos que possui, suicida-se espiritualmente, intelectualmente. Já não vive, vegeta. Comete contra si próprio o mais vil dos crimes humanos, aquele que atenta contra sua integridade e sua dignidade de filhos de Deus. Portanto, sonhar e traçar metas em nossas vidas é também honrar e agradar ao Criador. Honrar a Deus sobre todas as coisas! Eis, pois como, de repente, nos damos conta de que o primeiro grande mandamento da nossa fé faz parte de nossos planos existenciais, está presente em nossos sonhos e ambições de vida.
    Mas nem só de sonhos é feita a vida. Caminhamos juntos, viajamos conjuntamente, rumos a um ideal comum. Então o sonho de um não pode ser o pesadelo do outro. A felicidade que buscamos não suplanta, nem diminui, nem compete com a felicidade daquele que está ao nosso lado, que possui os mesmos lampejos de felicidade, os mesmos direitos da alegria no comboio que ocupamos. Por isso a necessidade de equipararmos nossas metas, dividirmos nossas forças, traçarmos um objetivo comum, para que nossa alegria seja perfeita, nosso amor não seja egoísta. Esse tipo de amor não existe. Amor próprio justificável só aquele que nos fortalece espiritualmente, para valorizar o outro como a nós mesmos. Assim estaremos melhor compreendendo nossos objetivos comuns. O ideal cristão aponta um sonho divino; o mesmo que Jesus resumiu em seu sonho missionário, sua razão de viver entre nós. Não só honrar a Deus com tudo o que temos, somos e sonhamos, mas igualmente ao próximo. Fazer de nossos objetivos de vida um sonho comum, um plano de viagem perfeito como aquele que um dia traçamos para nós mesmos. Porque os objetivos que a humanidade refaz periodicamente, anualmente, só serão perfeitos quando enquadrados na Boa Nova da perspectiva cristã. “Eis que faço nova todas as coisas” (Ap 21-5). O Espírito de Deus nos convida a recriarmos um mundo novo, a partir da renovação de nossos ideais. Eis um bom sonho.

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