Moda e fé: a “teologia do estilo”

Nossa identidade não é encontrada em nossa aparência, mas em como fomos feitos. Mas somos chamados a nos vestir de uma maneira que reflita como Deus nos criou

“Roupas e moda são coisas materiais”, eu disse severamente para mim mesma enquanto alternava entre as páginas do site do Fashion Institute of Technology e da Universidade Ave Maria. Eu tinha 17 anos e estava sentada no meu quarto cheio de revistas de moda. “Uma boa menina católica deveria frequentar uma boa escola católica, certo?”

Fé e estilo sempre coexistiram em minha vida, mas foi só quando tive que pensar no meu futuro que senti que eles poderiam se opor. Minha paixão pela autoexpressão por meio de coisas materiais me tornou materialista? Senti um impulso para aprofundar minha compreensão da fé católica, então frequentei a Universidade Ave Maria, na Flórida.

Essa decisão acabou sendo providencial, pois no primeiro ano me inscrevi em uma turma que mudou minha vida. Em última análise, isso me impulsionou a escrever um livro sobre a intersecção entre a teologia católica e o estilo pessoal.

A aula chamava-se Teologia do Corpo e era baseada nos ensinamentos de São João Paulo II. O Dr. Michael Waldstein, que ministrou a aula, era um especialista no assunto e traduziu as audiências do Papa às quartas-feiras. Ele descreveu a pessoa humana de uma forma que eu nunca tinha ouvido antes. A Teologia do Corpo não era apenas o guia católico para a castidade, o sexo e o casamento; era a antropologia definitiva da pessoa humana.

Em sua aula, o Dr. Waldstein citou São João Paulo II: “A estrutura do corpo [do homem] é tal que lhe permite ser o autor da atividade genuinamente humana. Nesta atividade o corpo expressa a pessoa.”

O corpo expressa a pessoa

Waldstein explicou ainda as palavras de São João Paulo II: “O corpo manifesta a alma”. Ele explicou que o corpo e a alma eram inseparáveis: “Este ‘corpo’ revela a ‘Alma viva’ que o Homem se tornou quando Deus-Javé soprou vida nele.” Nossos corpos não são apenas vasos carnais ou distrações para chegar ao céu. Nossos corpos manifestam nossas almas.

Quanto mais eu pensava sobre isso, mais fazia sentido. Considere um sorriso, lágrimas, risadas. Essas expressões se materializam no corpo, comunicando nossa humanidade. Uma simples expressão pode revelar a nossa emoção mais profunda. A materialidade do corpo comunica não-verbalmente quem somos num nível micro como indivíduos, mas também num nível macro como seres criados à imagem de Deus. São João Paulo II revelou que a materialidade do corpo é necessária para a expressão da alma.

Um pensamento surgiu em minha mente: “Se o corpo manifesta a alma, então as coisas que vestimos podem ajudar nessa manifestação”. Percebi que se a natureza física do corpo é tão significativa na expressão da pessoa humana, a forma como vestimos o nosso corpo também deve ser importante.

Tornando visível o invisível

Uma linha da Teologia do Corpo se destacou para mim em particular. São João Paulo II disse: “O corpo, de fato, e somente o corpo, é capaz de tornar visível o que é invisível: o espiritual e o divino”. Não pude deixar de ver a correlação com o estilo pessoal. Como o corpo manifesta a alma e a alma se expressa através dos nossos corpos, as coisas que escolhemos vestir podem comunicar a beleza invisível da alma, ao mesmo tempo que dignificam a beleza visível do corpo.

Imagens explodiram em minha mente: looks de cores vibrantes, tecidos suntuosos e silhuetas marcantes. Tudo adornando o corpo, auxiliando na expressão da alma. Eu estava cheia de um desejo de prestar reverência ao meu corpo – de dignificá-lo com as roupas que vestia e de escolher itens que enfatizassem a beleza da minha alma. Podemos ver de forma tangível a beleza das formas, tecidos, cores, texturas e muito mais, mas o mais importante é que a beleza intangível da pessoa humana brilha em tudo isso.

Em nível teológico, percebi que as coisas que vestimos são um sinal visível da relação entre o interno e o externo, a relação inseparável entre corpo e alma. Quando nos vestimos para celebrar a nossa unidade corpo-alma, estamos celebrando o fato de termos sido feitos à imagem do próprio Deus, o que é uma ferramenta incrível para a evangelização e o crescimento pessoal e espiritual. Não só crescemos na compreensão da nossa identidade como filhos de Deus, mas convidamos aqueles que nos rodeiam a reconhecer a mesma coisa em si mesmos.

Um retorno ao mundo da moda

Determinada a explorar ainda mais o significado do estilo pessoal e da expressão da pessoa humana, comecei novamente a seguir carreira na moda. Por fim, tornei-me editora de estilo da Verily Magazine, na cidade de Nova York.

À medida que meu estilo pessoal se desenvolvia, mais eu crescia no conhecimento de meu valor próprio. Quanto mais eu me vestia para expressar a unidade do meu corpo e da minha alma através da dignificação do meu corpo e da escolha de itens bonitos que refletissem a beleza da minha alma, mais eu entendia quem eu era aos olhos de Deus. Em última análise, não importava o que eu vestisse — eu sabia que era amada incondicionalmente pelo Criador simplesmente porque Ele me criou.

Nossa identidade não é encontrada em nossa aparência, mas sim em como fomos feitos. Mas acredito que somos chamados a nos vestir de uma maneira que reflita como Ele nos criou. Estilo não tem a ver com as roupas em si, mas com a celebração da criação de Deus através do uso da autoexpressão da indumentária como uma ferramenta para compreender a profundidade de nossa personalidade e o amor do Pai que nos trouxe à existência à Sua imagem.


Lillian Fallon é uma escritora católica apaixonada por ajudar as mulheres a expressarem sua irrepetibilidade por meio de um estilo pessoal. Ela lançou recentemente o livro  Theology of Style: Expressing The Unique and Unrepeatable You através da Ascension PressLillian trabalhou como editora de estilo na cidade de Nova York antes de finalmente ingressar na marca de moda católica Litany NYC. Ela atualmente mora na Pensilvânia com seu gato malhado laranja, Tito. Você pode segui-la no Instagram @lillian_fallon.

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