Lembranças do pai

    Na exortação apostólica pós-sinodal “Sobre o Amor na Família” (Amoris Laetitia) o papa Francisco escreveu: “Não faz bem a ninguém perder a consciência de ser filho. Em cada pessoa, mesmo quando se torna adulta ou idosa, quando passa também a ser progenitora ou desempenha funções de responsabilidade, por baixo de tudo isso permanece a identidade de filho. Todos somos filhos. E isto recorda-nos sempre que a vida não no-la demos sozinhos, mas recebemo-la. O grande dom da vida é o primeiro presente que recebemos” (nº 188).
    O papa continua refletindo sobre o quarto mandamento bíblico de honrar pai e mãe. Este mandamento, “com efeito, contém algo de sagrado, algo de divino, algo que está na raiz de todos os tipos de respeito entre os homens… Uma sociedade de filhos que não honram os pais é uma sociedade sem honra” (nº 189).
    Esta reflexão faz-me recordar do pai, que no dia 28 de agosto completa dois anos de falecimento. Um pai, como todos os pais, tinha suas virtudes e suas limitações. Um pai que amava e cuidava da família que constituiu. Entre as suas virtudes recordo que era um pai presente. Sempre muito discreto, tímido, de poucas palavras e sem gestos extraordinários. Fazia-se presente em todos os momentos da vida dos filhos, desde os pequenos até os maiores. Passava a mensagem que estava vigilante, que caminhava com os filhos, se alegrava com as vitórias e padecia nos sofrimentos.
    Outra recordação era sua retidão e honestidade. Lembro-me somente de um castigo mais rigoroso aplicado à minha irmã. Na cozinha, num armário, ficava um copo onde colocávamos os trocos depois das pequenas compras no armazém. O dinheiro ficava visível, sem chave e administrado pelos pais. Um dia minha irmã, que tinha uns nove anos, pegou dinheiro sem pedir e gastou com algum doce. Recebeu o castigo até admitir este pequeno ato de desonestidade. Certamente, o pai tinha consciência que corrigindo os pequenos atos ilícitos estava preparando os filhos para a vida, para serem honestos e justos em outras situações e oportunidades. Fez os filhos verem que más ações, mesmo pequenas, têm consequências. Foi firme na correção fazendo minha irmã reconhecer o erro e pedir perdão.
    Neste domingo dos pais, trago estas lembranças minhas, para não perdermos a consciência de sermos filhos. Cada um nós tem as suas lembranças paternas. Muitas delas provocam saudades e agradecimento, outras provocam dor e ressentimento. Também é uma oportunidade de reconciliação e de perdão porque nem todas as recordações são gratificantes. Carregar mágoas dos pais não convém, por isso o perdão e a reconciliação é a libertação e a paz.
    Desejo cumprimentar a todos os pais desejando que tenham a sabedoria na sua missão paterna, a felicidade pelas conquistas dos filhos, a coragem para corrigirem com amor e firmeza quando necessário, a humildade para reconhecerem e assumirem os erros, a fortaleza de ânimo para enfrentamento do cotidiano e a alegria da paternidade. E, finalmente, a bênção de Deus.

    Dom Rodolfo Luís Weber
    Arcebispo de Passo Fundo
    12 de agosto de 2016

    DEIXE UMA RESPOSTA

    Please enter your comment!
    Please enter your name here