LEIGO NO ASSUNTO

                Uma forma de omissão corriqueira é dizer-se leigo em determinado assunto. Assim fugimos pela tangente, sem maiores comprometimentos. Entretanto, leigo também é todo cristão batizado, que não exerce função clerical. O pior é que, por conta do indiferentismo religioso, muitos leigos assumem na prática sua condição de ignorância na fé, tornando-se estranhos ao assunto com o qual deveriam se identificar.

                Pensando nisso, tempos atrás a Igreja tentou dissociar essa característica negligente de muitos batizados, reforçando sua identidade cristã, além da denominação laical pura e simples. Optou pela definição “cristãos leigos”. Não colou. O remendo piorou o soneto. Pois muitos cristãos continuaram indiferentes a seus deveres e práticas religiosas e, leigos mesmos; estranhos ao assunto pelo qual deveriam ser conhecidos no mundo secular. Uma coisa puxa a outra. Então, o que vemos é o secularismo do mundo traçar o destino da humanidade, isentando-a de maiores compromissos com os mistérios e dogmas de qualquer instituição religiosa. Muitos caem na descrença, na negação da fé que um dia receberam, por total ignorância ou vivência espiritual mais aprofundada na experiência com Deus.

                Essa é a mais terrível das ameaças que o leigo cristão mal evangelizado, por influência do paganismo e das distorções religiosas hoje em voga, pode sofrer contra sua fé.  Mas nem tudo está perdido. O que vemos florescer na Igreja, hoje, é uma geração de leigos mais comprometidos com sua fé e, consequentemente, com a própria Igreja. Buscam um aprendizado e uma vivência maiores. É a tal da qualidade, antes da quantidade, da qual nos falou Bento XVI no início de seu pontificado.

                O leigo verdadeiramente cristão traz consigo três instrumentos de uso contínuo: uma alavanca, uma chave e uma luz. A alavanca poderia ser definida como vontade. Sem vontade própria, sem disposição para encarar os desafios que o mundo secular apresenta contra sua fé, sem um mínimo de interesse pela própria doutrina que diz professar, não chegará a lugar algum. Continuará um leigo na plena concepção da palavra. Já a chave, o segredo para bem desempenhar seu papel de agente de transformação no meio em que se faz presente, chama-se trabalho. “Quem põe a mão no arado, não olha para traz” – desafia Jesus. Portanto, é função, sim, de qualquer cristão, trabalhar a messe do Senhor com sua presença, seus próprios recursos, sua ação no mundo e na sociedade. O trabalho evangelizador do leigo é tão ou às vezes mais precioso quanto o de qualquer clérigo ou religiosa.

                Já o terceiro instrumento – a luz – de nada vale sem a alavanca (vontade) e a chave (trabalho). Que luz é essa? Jesus deu-nos uma pista ao nos fazer o maior dos seus elogios ao povo de Deus. “Vós sois a luz do mundo!” Ora, a luz de que somos portadores nada mais é do que a fé que defendemos. Eis, pois, a fé, nosso terceiro e mais precioso instrumento de trabalho, a chave que nos abre as portas dos segredos celestiais! Quem valoriza em sua vida esses três instrumentos encontra forças para testemunhar sua fé, mesmo diante das adversidades que leigos no assunto teimam em proporcionar aos seguidores do nazareno. “Não tema, pequenino rebanho”, pois a fé que nos move, move também as montanhas da ignorância de muitos.

                O cristão leigo só não pode ser inseguro. Temos, pois, um tripé que nos diferencia: uma alavanca, uma chave e uma luz. Com vontade, trabalho e fé faremos jus ao título de cristãos, pois que este, acima de todos os demais, é o título maior que nos identifica no mundo como portadores de uma Verdade. Essa preciosidade cristã nos foi confiada, para que o mundo seja salvo. E isso é de nossa inteira responsabilidade.

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