Cerca de 60 mil peregrinos de 120 países estiveram em Roma para participar do Jubileu das Famílias, Crianças, Avós e Idosos, que foi celebrado de 30 de maio a 1º de junho. A iniciativa, parte das celebrações do Jubileu Ordinário de 2025, reuniu três gerações — pais, filhos e avós — para um dos principais eventos do Ano Santo 2025.
Como parte da programação, no domingo, 1º de junho, o Papa Leão XIV presidiu a Santa Missa na Praça São Pedro, ocasião em que se celebrou também a Solenidade da Ascensão do Senhor. Partindo do Evangelho proposto na liturgia, que nos mostra Jesus rezando por nós na Última Ceia (cfr. Jo 17, 20), Leão XIV fez sua homilia concentrando-se na unidade – maior bem que possa ser desejado -, cujo dom devemos pedir ao Senhor:
Cristo pede, com efeito, que todos sejamos “um só”. Trata-se do maior bem que possa ser desejado, porque esta união universal realiza entre as criaturas a comunhão eterna de amor em que se identifica o próprio Deus, como Pai que dá a vida, Filho que a recebe e Espírito que a partilha.
A unidade pela qual Jesus reza é, portanto – prosseguiu o Papa – uma comunhão fundada no mesmo amor com que Deus ama, do qual provêm a vida e a salvação. E, como tal é, primeiramente, um dom que Jesus vem trazer. É, pois, a partir do seu coração de homem que o Filho de Deus se dirige ao Pai dizendo: “Eu neles e Tu em mim, para que eles cheguem à perfeição da unidade e assim o mundo reconheça que Tu me enviaste e que os amaste a eles como a mim”.
Ouçamos com admiração estas palavras: Jesus está a revelar-nos que Deus nos ama como ama a si mesmo. O Pai não nos ama menos do que ama o seu Filho Único, isto é, infinitamente. Deus não ama menos, porque ama antes, ama por primeiro! O próprio Cristo testemunha isso quando diz que o Pai o amou «antes da criação do mundo» (v. 24). E é exatamente assim: na sua misericórdia, Deus sempre quis atrair todos os homens para si, e é a sua vida, entregue por nós em Cristo, que nos faz um, que nos une uns aos outros.
Leão XIV afirmou que ouvir hoje esse Evangelho, durante o Jubileu das Famílias, das Crianças, dos Avós e dos Idosos, enche-nos de alegria. Todos nós vivemos graças a uma relação, ou seja, a um vínculo livre e libertador de humanidade e de cuidado recíproco.
Assista a missa na íntegra:
Seminário promovido pelo Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida
Após o Jubileu das Famílias teve início nesta segunda-feira, 2 de junho, o Seminário “Evangelizar com as famílias de hoje e de amanhã. Desafios eclesiológicos e pastorais”, na sede do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, organizador do evento, situada no bairro Trastevere, em Roma. O encontro prossegue até terça-feira, 3 de junho.
O Papa Leão XIV enviou uma mensagem especial aos participantes:
“A profunda questão do infinito, inscrita no coração de cada homem, confere aos pais e mães de família a tarefa de conscientizar seus filhos sobre a Paternidade de Deus”, ressalta Leão XIV, “segundo o que escreveu Santo Agostinho” nas Confissões: «Assim como em Ti temos a fonte da vida, assim também na Tua luz veremos a luz».
Busca pela espiritualidade
De acordo com o Papa, “o nosso tempo é marcado por uma crescente busca pela espiritualidade, especialmente entre os jovens, que desejam relações autênticas e mestres de vida. Por isso, é importante que a comunidade cristã saiba lançar um olhar distante, tornando-se guardiã, diante dos desafios do mundo, do anseio de fé que habita o coração de cada um”.
Segundo Leão XIV, “é particularmente urgente, neste esforço, dedicar especial atenção às famílias que, por vários motivos, estão espiritualmente mais distantes: aquelas que não se sentem envolvidas, que dizem não estar interessadas, ou que se sentem excluídas dos percursos comuns, mas que, no entanto, gostariam de ser de alguma forma parte de uma comunidade, na qual crescer e com a qual caminhar”. “Quantas pessoas, hoje, ignoram o convite para encontrar Deus”, ressalta.
Modelos ilusórios de vida
“Infelizmente, diante dessa necessidade, uma “privatização” cada vez mais difundida da fé impede, muitas vezes, esses irmãos e irmãs de conhecer a riqueza e os dons da Igreja, lugar de graça, fraternidade e amor”, escreve ainda o Papa, ressaltando que “muitos acabam se apoiando em falsos apoios que, não suportando o peso de suas necessidades mais profundas, os fazem deslizar novamente, distanciando-os de Deus e fazendo-os naufragar num mar de solicitações mundanas”.
Entre eles, encontram-se pais e mães, crianças, jovens e adolescentes, por vezes alienados por modelos ilusórios de vida, onde não há espaço para a fé, para cuja difusão contribui, em grande medida, o uso distorcido de meios potencialmente bons em si mesmos, como as redes sociais, mas nocivos quando transformados em veículos de mensagens enganosas.
Segundo o Papa, “o que move a Igreja em seu esforço pastoral e missionário é o desejo de ir ‘pescar’ esta humanidade para salvá-la das águas do mal e da morte através do encontro com Cristo”.
Compreender a beleza da vocação ao amor
A seguir, o Pontífice ressalta que os jovens que hoje “escolhem a convivência em vez do matrimônio cristão”, talvez “precisem de alguém que lhes mostre de maneira concreta e compreensível, sobretudo com o exemplo de vida, o que é o dom da graça sacramental e qual a força que dela provém”. Alguém “que os ajude a compreender “a beleza e a grandeza da vocação ao amor e ao serviço da vida” que Deus concede aos esposos”.
Leão XIV recorda que “muitos pais, na educação dos filhos na fé, precisam de comunidades que os apoiem na criação de condições para que possam encontrar Jesus, «lugares onde se realiza aquela comunhão de amor que encontra a sua fonte última no próprio Deus»”. “A fé é, primeiramente, uma resposta a um olhar de amor, e o maior erro que podemos cometer como cristãos é, nas palavras de Santo Agostinho, «pretender que a graça de Cristo consista no seu exemplo e não no dom da sua pessoa»”.
Quantas vezes, num passado talvez não tão distante, esquecemos esta verdade e apresentamos a vida cristã principalmente como um conjunto de preceitos a serem respeitados, substituindo a experiência maravilhosa do encontro com Jesus, Deus que se doa a nós, por uma religião moralista, pesada, pouco atraente e, de certa forma, inviável na concretude da vida quotidiana.
Tornando-se “pescadores de famílias”
Segundo o Papa, “neste contexto, cabe antes de tudo aos Bispos, sucessores dos Apóstolos e Pastores do rebanho de Cristo, lançar a rede ao mar, tornando-se “pescadores de famílias”. Os leigos são chamados a se comprometerem nesta missão, tornando-se, junto com os Ministros ordenados, “pescadores” de casais, de jovens, crianças, mulheres e homens de todas as idades e condições, para que todos possam encontrar Aquele que é o único que pode salvar. De fato, cada um de nós, no Batismo, é constituído Sacerdote, Rei e Profeta para os irmãos, e se torna “pedra viva” para a construção do edifício de Deus «na comunhão fraterna, na harmonia do Espírito, na convivência das diversidades»”.
Leão XIV convida a entender como “caminhar com essas famílias e como ajudá-las a encontrar a fé, tornando-se “pescadores” de outras famílias”, famílias “feridas de muitas maneiras”, a “se abrir, quando necessário, a novos critérios de avaliação e a diferentes modos de agir, porque cada geração é diferente da outra e apresenta os seus desafios, sonhos e interrogações”. “Mas, em meio a tantas mudanças, Jesus Cristo permanece «o mesmo ontem, hoje e sempre». Portanto, se queremos ajudar as famílias a viverem caminhos alegres de comunhão e a serem sementes de fé umas para as outras, é necessário que, antes de tudo, cultivemos e renovemos a nossa identidade de fiéis”, conclui o Papa.
Com informações de Mariangela Jaguraba e Raimundo de Lima/ Vatican News