Fraternidade e superação da violência III

    É necessário destacar que o objetivo principal da Campanha da Fraternidade é a superação da violência e não a violência em si. O ponto de partida é a realidade atual com toda a sua dramaticidade. Depois de ver a realidade – segundo a metodologia ver-julgar-agir – é preciso julgar a realidade. Com qual ponto de vista interpreto e vejo a realidade da violência? Como Igreja, partimos do olhar de Deus, expresso nas Escrituras, e da moral cristã. Por excelência Jesus Cristo é uma pessoa não violenta e nele se supera toda violência. Mas, hoje recordo alguns ensinamentos da Igreja Católica, nas palavras dos últimos papas.

    São João XXIII publicou, em 11/04/1963, a encíclica “Pacem in Terris” (Paz na terra) num período em que aumentavam as tensões entre os Estados Unidos e a União Soviética, entre o bloco comunista e capitalista. Em 1945 tinha terminada oficialmente a 2ª Guerra Mundial e havia tensões suficientes para iniciar uma nova. Escreve o papa João XXIII: “A violência só e sempre destrói; só excita paixões, nunca as aplaca; só acumula ódio e ruínas e não a fraternidade e a reconciliação… A todos os homens de boa vontade incumbe a tarefa de restaurar as relações de convivência humana na base da verdade, justiça, amor e liberdade” (nº 161-162).

    No dia 08 de dezembro de 1967, o papa Paulo VI propôs o “Dia Mundial da Paz”. “A proposta de dedicar à paz o primeiro dia do novo ano não tem a pretensão de ser qualificada como exclusivamente nossa, religiosa ou católica. Antes, seria para desejar que ela encontrasse a adesão de todos os verdadeiros amigos da paz”, dizia, em sua mensagem. Também destacava que a superação da violência precisa de um “espírito novo”, “um novo modo de pensar o homem e seus deveres e o seu destino”. Além disso manifesta a sua convicção: “do Evangelho pode brotar a paz, não para tornar os homens fracos e moles, mas para substituir nas suas almas os impulsos de violência, de prepotência, pelas virtudes viris da razão e do coração dum humanismo verdadeiro”.

    A partir desta data todos os papas tem enviado uma mensagem para a celebração do Dia Mundial da Paz, no primeiro dia do ano, refletindo e destacando elementos essências da construção de novas relações. Nestas 51 mensagens são abordados diversos temas conclamando “os verdadeiros amigos da paz”.

    São João Paulo II, em 1986, destaca a estreita relação entre paz e justiça: “Ainda que não haja conflito armado como tal, em ato, onde há injustiças existe realmente uma causa e um fator potencial de conflito. Em todo o caso, uma situação de paz, no pleno sentido do valor da expressão não pode coexistir com a injustiça”.

    Bento XVI, em 2009, fala da dignidade humana e dos direitos humanos. “Somos todos convocados a fazer o possível para apartar da sociedade não só a tragédia da guerra, mas também qualquer violação dos direitos humanos, a começar do indiscutível direito à vida, de que a pessoa é depositária desde a sua concepção. Na violação do direito à vida de cada ser humano está contida também em germe a inaudita violência da guerra”.

    O Papa Francisco, na mensagem de 2014, fala da importância da fraternidade, pois todos somos irmãos: “Na realidade, a fraternidade é uma dimensão essencial do homem, sendo ele um ser relacional. A consciência viva desta dimensão relacional leva-nos a ver e tratar cada pessoa como uma verdadeira irmã e um verdadeiro irmão; sem tal consciência, torna-se impossível a construção de uma sociedade justa, duma paz firme e duradoura”.

     

     

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