Francisco: somos uma só família, todos devem ter água e alimento

O Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, juntamente com a Comissão Vaticana Covid-19, publicou um vídeo que reúne alguns dos convites e apelos do Papa à comunidade internacional para erradicar as causas da fome e tutelar a dignidade das pessoas e do planeta

Alessandro De Carolis – Vatican News

A reunião de vários discursos do Papa Francisco nos quais repete sempre o caloroso apelo: a fome no mundo é um problema de todos, derrotá-la é um imperativo moral global, todavia jamais será um objetivo verdadeiramente alcançável se a luta contra a fome não incluir também a proteção do meio ambiente e, sobretudo, se a “família humana” continuar a ter filhos legítimos e ilegítimos, alguns com excesso de alimentos disponíveis e muitos outros com a barriga vazia. O vídeo, produzido pelo Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral e pela Comissão Vaticana Covid-19, é um compêndio do magistério do Papa sobre o assunto, divulgado durante a pré-cúpula da ONU sobre sistemas alimentares, que se concluiu ontem (28/07).

Produzir e consumir de maneira diferente

As sequências do vídeo mostram trechos de vários discursos do Papa ao longo dos anos, mas o que é mais marcante é a fluidez que os faz parecer considerações de um único discurso, uma demonstração da consistência com que Francisco abordou os “nós” de uma questão tão complexa como a mudança dos sistemas alimentares. Foi em novembro de 2014 quando ele declarou na sede da FAO que “o direito à alimentação só será garantido se estivermos preocupados com seu verdadeiro sujeito, ou seja, a pessoa que sofre os efeitos da fome e da desnutrição”. Com a consequência, disse, de sermos chamados – mas aqui o conceito foi expresso em 2017, novamente na sede da FAO – “a propor uma mudança no estilo de vida, no uso dos recursos, nos critérios de produção e também no consumo”.

O tormento da escassez de alimentos

Portanto para o Papa, “não é suficiente produzir alimentos, mas também é importante assegurar que os sistemas alimentares sejam sustentáveis e ofereçam dietas saudáveis e acessíveis a todos” (Mensagem para o Dia da Alimentação 2020). A partir desse discurso vem uma citação de João Paulo II e do seu “paradoxo da abundância” enunciado em 1992 na Conferência Internacional sobre Nutrição, um paradoxo para o qual – resume Francisco – “há alimentos para todos, mas nem todos podem comer” (Mensagem em vídeo para a Expo de Ideias – fevereiro 2015). E morrer de fome é uma das piores maneiras de se ser despojado da dignidade: “Quantas mães e pais ainda hoje – perguntava-se Francisco na audiência geral de 27 de março de 2019 – vão dormir com o tormento de não ter pão suficiente para seus filhos no dia seguinte”.

O cuidado é a mudança de rumo

O vídeo conclui com um apelo, onde Francisco nos lembra que “os nossos irmãos e irmãs mais pobres e a nossa mãe terra gemem pelos danos e injustiças que causamos e reclamam outro rumo. Reclamam de nós uma conversão, uma mudança de rumo: cuidar também da terra, da criação. (Audiência Geral 16 de setembro de 2020). A isto se segue uma oração que, em certo sentido, amplia uma passagem do Pai Nosso: “Pai, faz com que para nós e para todos, hoje, haja o pão necessário”. E “pão” significa água, medicamentos, casa, trabalho… Pedir o necessário para viver”. (Audiência geral 27 de março de 2019), concluindo com o slogan da Campanha lançada pela Cáritas em 2013 e que Francisco, Papa há poucos meses, faz sua na audiência geral de 11 dezembro de 2013: “Uma só família humana, alimentos para todos”.

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