FONTE E ORIGEM DE TODA LUZ

    Estamos celebrando neste final de semana, que seria o 4º Domingo do tempo comum, a festa da |Apresentação do Senhor. Esse evento marca um tempo bastante importante dentro da Liturgia. No passado, essa festa era a conclusão do tempo do Natal e já apontava o início do período de preparação para a Páscoa, com a septuagésima. Após o Vaticano II, o ambiente permanece o mesmo, mas dentro do Tempo Comum. No caso deste domingo, esta festa prevalece sobre a celebração do 4º Domingo do Tempo Comum. Trata-se da chamada festa das Luzes, onde relacionada a esta celebra-se também Nossa Senhora das Luz, Nossa Senhora da Candelária e Nossa Senhora de Belém, dando a esta festa uma conotação Mariana. É uma festa que dentro da Liturgia e da Teologia tem sua importância e tem um enorme valor dentro da religiosidade popular, trazendo consigo a experiência da Luz que nasce no Natal, da luz que ressuscita na Páscoa, lembrando a importância de brilhar sobre nós a Luz do Senhor.

    Nesta festa, onde se recorda o dia em que Cristo é apresentado no Templo de Jerusalém e sobre Ele é proferido o louvor de Simeão, afirmando que o menino é Luz das Nações, a celebração se inicia com a bênção das velas, que simbolizam que Cristo é a Luz das Nações. A exortação inicial apresentada no Missal recorda exatamente isso: Há 40 (simbolismo do número) dias celebrávamos com alegria o Natal do Senhor. Hoje chegou o dia em que Jesus foi apresentado ao Templo por Maria e José. Conformava-se assim à Lei do Antigo Testamento, mas na verdade vinha ao encontro do seu povo fiel. Impulsionados pelo Espírito santo, o velho Simeão e a profetisa Ana foram também ao templo. Iluminados pelo mesmo Espírito, reconheceram o seu Senhor naquela criança e o anunciaram com júbilo. Também nós, reunidos pelo Espírito Santo, vamos nos dirigir à Casa de Deus, ao encontro de Cristo. Nós o encontraremos e reconheceremos na fração do pão, enquanto esperamos a sua vinda gloriosa.

    O Antigo Testamento afirmava que todo primogênito masculino deveria ser apresentado no Templo, no quadragésimo dia e deveria ser consagrado ao Senhor. Simeão e Ana reconhecem que aquela criança é especial e momentaneamente a anunciam, bendizendo a Deus. Jesus cumpre a tradição dos antigos, mas também vem ao encontro do seu povo. Portanto, a liturgia nos conduz para que vivamos melhor cada dia de nossa vida de fé e a vivermos melhor o mistério da Encarnação e as consequências deste em nossas vidas. O tema da luz volta novamente a se apresentar a nós, tema este que se mostra como luz para iluminar as nações.

    O Evangelho deste domingo (Lc 2,22-40), afirma que: Quando se completaram os dias para a purificação da mãe e do filho, conforme a Lei de Moisés, Maria e José levaram Jesus a Jerusalém, a fim de apresentá-lo ao Senhor. Conforme está escrito na Lei do Senhor: “Todo primogênito do sexo masculino deve ser consagrado ao Senhor.” Foram também oferecer o sacrifício – um par de rolas ou dois pombinhos – como está ordenado na Lei do Senhor (Lc 2, 22-24).

    Os mais pobres ofereciam este sacrifício com o objetivo de resgatar a consagração feita ao Senhor do primogênito. Ao se cumprir o pedido de Levítico, vemos se cumprir a Palavra do Senhor dirigida por meio de Simeão, em que mostra Cristo com o Luz e que veio visitar o seu povo.

    Vale lembrar que era grande a expectativa do Senhor que viria para salvar e resgatar o seu povo. A 1º Leitura (Ml 3,1-4), proclama:

    Assim diz o Senhor: Eis que envio meu anjo, e ele há de preparar o caminho para mim; logo chegará ao seu templo o Dominador,

    que tentais encontrar, e o anjo da aliança, que desejais. Ei-lo que vem, diz o Senhor dos exércitos; e quem poderá fazer-lhe frente, no dia de sua chegada? E quem poderá resistir-lhe, quando ele aparecer? Ele é como o fogo da forja e como a barrela dos lavadeiros; e estará a postos, como para fazer derreter e purificar a prata: assim ele purificará os filhos de Levi e os refinará como ouro e como prata, e eles poderão assim fazer oferendas justas ao Senhor. Será então aceitável ao Senhor a oblação de Judá e de Jerusalém, como nos primeiros tempos e nos anos antigos.

    O Senhor Dominador que virá em seu Templo, segundo apresentado na profecia, é o que vemos se cumprir nessa festividade, fazendo eco do que Malaquias havia colocado: Aquele que vem para salvar, lavar, purificar. Vem não somente para ser purificado no Templo, mas para purificar a humanidade, embora nem Jesus nem sua mãe precisassem dessa purificação. Ele vem para purificar, trazer uma nova vida para todos.

    No fundo, a festa fala de uma luz que vem para todos e que vem trazer uma nova vida para aqueles que necessitam passar da morte para a vida em Cristo.

    Voltando ainda ao Evangelho, este nos fala que:

    Em Jerusalém, havia um homem chamado Simeão, o qual era justo e piedoso, e esperava a consolação do povo de Israel. O Espírito Santo estava com ele e lhe havia anunciado que não morreria antes de ver o Messias que vem do Senhor. Movido pelo Espírito, Simeão veio ao Templo. Quando os pais trouxeram o menino Jesus para cumprir o que a Lei ordenava, Simeão tomou o menino nos braços e bendisse a Deus: “Agora, Senhor, conforme a tua promessa, podes deixar teu servo partir em paz; porque meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos: luz para iluminar as nações e glória do teu povo Israel.”

    A profecia de Simeão dá sentido ao gesto realizado pela Sagrada Família: a luz que vem iluminar as Nações. A expectativa de toda a humanidade em relação à vinda do Messias agora se concretiza. Deus está no meio de nós! Estava pela Palavra, estava pelos profetas, mas de maneira especialíssima está por meio de seu Filho, já que o Verbo se encarnou! Continua presente no meio de nós como Senhor Ressuscitado, a quem somos chamados a acolher e enxergar. E o Evangelho prossegue:

    O pai e a mãe de Jesus estavam admirados com o que diziam a respeito dele. Simeão os abençoou e disse a Maria, a mãe de Jesus: “Este menino vai ser causa tanto de queda como de reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição. Assim serão revelados os pensamentos de muitos corações. Quanto a ti, uma espada te traspassará a alma.”

    Assim como foi colocado na prece de Simeão a centralidade da figura de Cristo como Luz para todos os povos, a figura da Virgem Maria, a Senhora das Dores é aqui apresentada e colocada em relação ao seu Filho em sua obra redentora. E o Evangelho prossegue:

    Havia também uma profetisa, chamada Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Era de idade muito avançada; quando jovem, tinha sido casada e vivera sete anos com o marido. Depois ficara viúva, e agora já estava com oitenta e quatro anos. Não saía do Templo, dia e noite servindo a Deus com jejuns e orações. Ana chegou nesse momento e pôs-se a louvar a Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém. (Lc 2, 33-39).

    Também Ana fala esta criança que vem se apresentar no Templo, como aquele que há de ser o libertador do povo de Israel, e o faz tornando-se semelhante a nós, em em relação como o que vai nos dizer a Carta aos Hebreus (Hb 2,14-18), proclamada na segunda leitura:  Por isso devia fazer-se em tudo semelhante aos irmãos, para se tornar um sumo-sacerdote misericordioso e digno de confiança nas coisas referentes a Deus, a fim de expiar os pecados do povo. Pois, tendo ele próprio sofrido ao ser tentado, é capaz de socorrer os que agora sofrem a tentação (Hb 2, 17-18).

    Assim como na dinâmica da revelação Deus fala aos homens com palavras humanas, de forma que os homens possam compreender, assim também a festa de hoje nos recorda a dinâmica da Redenção: Cristo que vai ao Templo para assim ir ao encontro do povo, fazendo-se semelhante a nós em tudo, menos no pecado! O tempo de uma nova proximidade de Deus e de uma nova forma de se relacionar com Ele chegou!

    Jesus participou da mesma condição, para assim destruir, com a sua morte, aquele que tinha o poder da morte, isto é, o diabo, e libertar os que, por medo da morte, estavam a vida toda sujeitos à escravidão. Pois, afinal, não veio ocupar-se com os anjos, mas com a descendência de Abraão (Hb 2, 14-15).

    O anúncio da Luz que veio iluminar todas as nações veio para que possamos viver com esta presença do Senhor hoje me nossas vidas e em nossa caminhada. E assim conclui o Evangelho da Festa de hoje: Depois de cumprirem tudo, conforme a Lei do Senhor, voltaram à Galileia, para Nazaré, sua cidade. O menino crescia e tornava-se forte, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava com ele (Lc 2, 40).

    Sobre o mistério hoje celebrado, assim nos recorda o catecismo da Igreja Católica (n. 529): A apresentação de Jesus no templo mostra-O como Primogénito que pertence ao Senhor. Com Simeão e Ana, é toda a expectativa de Israel que vem ao encontro do seu Salvador (a tradição bizantina designa por encontro este acontecimento). Jesus é reconhecido como o Messias tão longamente esperado, “luz das nações” e “glória de Israel”, mas também como “sinal de contradição”. A espada de dor, predita a Maria, anuncia essa outra oblação, perfeita e única, da cruz, que trará a salvação que Deus “preparou diante de todos os povos”.

    Enquanto Maria meditava essas coisas guardando-as em seu coração, Cristo realiza seu projeto de Salvação vivendo uma vida simples e oculta, na obediência da família de Nazaré. Sobre o mistério da vida oculta de Cristo, nos recorda ainda o Catecismo (531-532): Durante a maior parte da sua vida, Jesus partilhou a condição da imensa maioria dos homens: uma vida quotidiana sem grandeza aparente, vida de trabalho manual, vida religiosa judaica sujeita à Lei de Deus, vida na comunidade. De todo este período, é-nos revelado que Jesus era “submisso” a seus pais e que “ia crescendo em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens” (Lc 2, 52).  A submissão de Jesus à sua Mãe e ao seu pai legal foi o cumprimento perfeito do quarto mandamento. É a imagem temporal da sua obediência filial ao Pai Celeste. A submissão diária de Jesus a José e a Maria anunciava e antecipava a submissão de Quinta-Feira Santa: “Não se faça a minha vontade” (Lc 22, 42). A obediência de Cristo, no quotidiano da vida oculta, inaugurava já a recuperação daquilo que a desobediência de Adão tinha destruído.

    Participemos com alegria desta festa da Candelária, da Luz, e vivamos inteiramente abertos a esta luz que é Cristo Jesus em nossas vidas.

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