Famílias para Jesus, Maria e José!

    O Deus que se vestiu de menino frágil e se apresentou aos homens no presépio de Belém encontrou abrigo numa família humana, a família de José e de Maria, dois jovens esposos de Nazaré, uma aldeia situada nas colinas da Galileia. Neste domingo, ainda em contexto de celebração do Natal do Senhor, dentro da sua oitava, a liturgia convida-nos a olhar para essa Sagrada Família; e propõe-nos que a vejamos como exemplo e modelo das nossas comunidades familiares. Deus se faz presente no meio de nós no seio de uma família simples e pobre, mas confiante no amor que a une.

    O Evangelho – Lc 2,22-40 – leva-nos, com a Sagrada Família, até ao Templo de Jerusalém, onde Jesus vai ser apresentado a Deus, conforme a Lei judaica determinava (cf. Nm 18,15-16). Aqui temos o encontro com o piedoso Simeão e a profetisa Ana. Num primeiro momento, o autor apresenta a Família de Nazaré como família observante da Lei, inserida na ordem social. Simeão, iluminado pelo Espírito, reconhece no menino o Messias, luz que ilumina as nações e sinal de contradição. A profetiza e a piedosa Ana, por sua vez, reconhece nele o libertador do povo, que espera por dias melhores. A criança acolhida com amor torna-se forte, cheia de alegria e otimismo. A Sagrada Família ilumine as nossas famílias, especialmente as que atravessam dificuldades, e as ajude a viver a harmonia, a concórdia e a paz. O quadro, profundamente interpelador, mostra uma família fiel e crente, que escuta a Palavra de Deus, que procura concretizá-la na vida e que consagra a Deus os seus membros. Maria e José, ao apresentarem Jesus, dão um verdadeiro testemunho de temor a Deus e desejaram que seu filho faça o mesmo.

    A segunda leitura – Cl 3,12-21 – sublinha a dimensão do amor que deve brotar dos gestos dos que vivem “em Cristo” e aceitaram o convite para ser “Homem Novo”. Esse amor deve atingir, de forma muito especial, todos os que conosco partilham o espaço familiar e deve traduzir-se em atitudes de compreensão, de bondade, de respeito, de partilha, de serviço. Esta leitura é o código comunitário e familiar, isto é, o autor apresenta algumas propostas para a boa convivência na comunidade e na família. A comunidade é convidada a constituir um só corpo em Cristo, superando as barreiras étnicas, religiosas e sociais. Famílias unidas, fraternas e generosas geram comunidades santas. O amor recíproco deve estar presente tanto na comunidade como na família.

    A primeira leitura – Eclo 3,3-7.14-17a – apresenta, de forma muito prática, algumas atitudes que os filhos devem ter para com os pais… É uma forma de concretizar esse amor de que fala a segunda leitura. Este é um verdadeiro ato de fé de Abraão, que confia na Palavra do Senhor e, por meio dessa confiança, mesmo na velhice, recebe por graça de Deus o dom da descendência. A partir de Abraão, o pai na fé, é constituída a família dos crentes em Deus, que somos todos nós, tão numerosa como as estrelas do céu. O texto desenvolve o quarto mandamento da Lei de Deus: amar os pais. Honrar e respeitar os pais, socorrê-los e cuidar deles na velhice é cumprir a vontade de Deus. O verbo “honrar”, repetido várias vezes, significa obedecer, respeitar, ajudar e dar afeto. São regras da sabedoria judaica para a vida familiar. A vivência do quarto mandamento da Lei de Deus traz benefícios aos filhos: favorece a vida, expia pecados, alegra e alcança resposta às orações.

    A exemplo de Abraão, peçamos a Deus que nossas famílias sejam solidificadas por meio da fé e da confiança no Senhor, a fim de que mesmo diante das incertezas da vida, tenhamos a firme convicção de que nossa vida está nas mãos do Todo-Poderoso.

    Que a nossa vida familiar seja marcada pelo contato permanente com o sagrado, pela oração, pela leitura e pela meditação das Escrituras, a fim de que os filhos, a exemplo dos pais, manifestem o desejo de sempre estarem unidos a Deus, por meio da vivência dos Sacramentos e da participação na vida comunitária-eclesial.

    Hoje queremos rezar por todas as famílias do mundo – especialmente aquelas que necessitam de cuidados e orações. Deus abençoe todas as nossas famílias!

     

    + Anuar Battisti

    Arcebispo Emérito de Maringá, PR

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