Experiência do deserto interior

    A transfiguração do Filho de Deus na Montanha Sagrada, no segundo domingo da Quaresma, faz-nos pensar e compreender sempre e cada vez mais no sentido da páscoa eterna. Nossa vida aqui é um longo caminho a percorrer, mas temos a certeza de que nesse mistério inexprimível percebemos nossa origem e destino, a páscoa definitiva, nossa gloriosa e eterna transfiguração.
    O Papa Francisco, na Praça de São Pedro no horário do meio-dia (21/02/2016), diante de milhares de fiéis, apresentou uma avaliação pessoal de sua viagem apostólica ao México, tendo em mente o sonho de Deus, dando a entender que naquele país, de um modo antecipado, passou pela experiência da transfiguração.
    Dentro do contexto da transfiguração de Jesus, no Monte Sagrado, recordo-me do profeta Elias, na forte experiência do seu deserto, que foi uma vida marcada por enormes limites e sofrimentos, sem sentido, a ponto de achar que tudo estava perdido e concluído, tendo que fugir e morrer, com uma única saída: pensar só em comer e dormir.
    Deus, porém, se manifestou nele, deixando-lhe marcas de um deserto interior, rico de suas graças, sendo confortado pelo anjo, que lhe trouxe alimento na hora certa, mas um alimento que lhe sustentaria na longa caminhada a percorrer, até o Horeb, o monte de Deus, que o transfiguraria (cf. 1 Rs 19, 1-12).
    Acende-se no profeta Elias o farol da fé e da esperança, no encontro com Deus que quer vê-lo transfigurado, a ponto de ficar consumido e ardendo em zelo pelo amor do Senhor. Portanto, a experiência do deserto interior o marcou profundamente, tornando-se grande, tão grande e importante que os sábios de seu tempo afirmaram que Elias não havia morrido, mas havia sido arrebatado por Deus, como tão bem nos assegura o Livro Sagrado: “Eis o que se deu no dia em que o Senhor arrebatou Elias ao céu num turbilhão” (cf. 2 Rs 2, 1).
    Somos chamados a escolher, a colocarmo-nos diante do nosso bom Deus, a exemplo do profeta Elias e de incontáveis santas criaturas de Deus, com registro na história do povo de Deus, a partir da experiência de sua presença, seja pelo trabalho ou pela oração, mostrando ao mundo que vale a pena contemplar-vos na sua bondade e ternura, tendo diante dos olhos o Monte Carmelo, ou a Montanha Sagrada, na sua mais elevada expressão: a Jerusalém celeste.
    A sábia ligação do Santo Padre, o Papa Francisco, entre o Evangelho do domingo da Transfiguração e a viagem em terras mexicanas, mostrou a presença bondosa de Deus naquela realidade por ele vivenciada: “Jesus nos mostrou a luz de sua glória através do Corpo da sua Igreja, do seu Povo santo que vive naquela terra; um corpo muitas vezes ferido, um Povo muitas vezes oprimido, desprezado, violado em sua dignidade. Mas os diferentes encontros vividos no México foram cheios de luz: a luz da fé que transfigura os rostos e aclara o caminho”. Amém!

     

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