Vigésimo oitavo domingo do tempo comum

    O episódio da purificação do sírio Naamã, um pagão, pelo profeta Eliseu, já foi evocado por Jesus no início do terceiro evangelho, para responder às objeções dos nazarenos de por que Jesus não havia realizado em sua própria pátria os atos de poder realizados em Cafarnaum: “Certamente, ireis me citar o provérbio “Médico, cura-te a ti mesmo”. Tudo o que ouvimos dizer que fizeste em Cafarnaum, faze-o também aqui, em tua pátria”. Mas a falta de fé impedia os conterrâneos de Jesus de acolhê-lo como dom de Deus e de ver em sua pessoa a irrupção da vida de Deus em favor de toda a humanidade. O que eles pensavam saber de Deus os cegava. Desse modo Nazaré passará a ser o protótipo de Israel, que rejeita a salvação no modo como ela é oferecida por Deus ao seu povo, na plenitude do tempo.  Essa rejeição será utilizada, no Novo Testamento, como um dos argumentos para afirmar a abertura da salvação aos pagãos.
    O evangelho deste domingo trata da cura por Jesus de dez leprosos(Cf. Lc 17,11-19), entre os quais, um samaritano, um estrangeiro, o único que retorna a Jesus para agradecer. Nós já conhecemos a situação dos leprosos e como, mesmo do ponto de vista religioso, eles eram desprezados e excluídos da graça de Deus. O Levítico descreve a situação com detalhes: “O leproso portador desta enfermidade trará suas vestes rasgadas e seus cabelos sem pentear, cobrirá o bigode e clamará: Impuro! Impuro! morará à parte: sua habitação será fora do acampamento.” A lepra era tida como castigo de Deus e somente Deus podia libertar a pessoa de tal enfermidade. Há outra purificação de um leproso, em Lucas 5,12-14, com o mesmo alcance messiânico. Dez era o número dos leprosos que gritam implorando compaixão. Não há qualquer gesto, ao contrário da história de Eliseu, somente a palavra de Jesus foi suficiente para purificá-los. É uma palavra que é e comunica o Sopro de Deus, que faz viver; palavra eficaz, pois, “enquanto estavam a caminho, foram purificados”. Dez é um número que simboliza a totalidade de um povo. Todo um povo é visitado pela graça de Deus. No entanto, dos dez, somente um retorna para agradecer; os outros nove não souberam reconhecer o tempo da graça e da salvação. A cura da lepra é um dos sinais dos tempos messiânicos, a salvação da qual Jesus é portador e oferta a todos. Mas, se os dez foram beneficiados pela palavra do Senhor, por que somente o samaritano reconheceu e retornou para agradecer?  “Não foram dez os curados? E os outros nove, onde estão?” Somente o samaritano, considerado herético pelos judeus, é que retornou cumprindo a missão de Israel. O texto interpela o leitor do Evangelho: quão difícil é reconhecer o Reino de Deus que se aproxima. O que é necessário faze ou cultivar para que não percamos a oportunidade de reconhecer o tempo em que somos visitados?
    Não obstante nós mesmos, “Deus permanece fiel, mesmo quando nós lhe somos infiéis, pois não pode negar-se a si mesmo”.

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