Eu sou a voz que clama no deserto

    Estamos no segundo domingo do Advento e caminhando na Campanha para a Evangelização – ide, sem medo, para servir. Advento! Tempo de se preparar para acolher o Senhor que vem, veio e virá! Por mais escuro que esteja o horizonte à nossa frente, precisamos acreditar que dias melhores virão, pois Deus é fiel e não abandona seu povo. Nesse segundo domingo do Advento, São João Batista aparece como uma voz no deserto, fazendo um apelo à conversão, para preparar o caminho do Senhor!

    João Batista define-se como uma “voz que clama no deserto: preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas” (Lc 3,4). Esta voz proclama a palavra, mas em tal caso a Palavra de Deus precede, enquanto é ela mesma que desce sobre João, filho de Zacarias, no deserto (Lc 3,2). Portanto, ele tem um grande papel a desempenhar, mas sempre em função de Cristo. Santo Agostinho comenta: “João é a voz. Do Senhor, ao contrário, afirma-se: “No princípio era o Verbo” (Jo 1,1).

    “João é a voz que passa, Cristo é a Palavra eterna que era no princípio. Se à voz tirarmos a palavra, o que permanece? Um som vago. A voz sem palavra atinge o ouvido, mas não edifica o coração”. Quanto a nós, hoje temos a tarefa de ouvir aquela voz para conceder a Jesus, Palavra que nos salva, espaço e acolhimento no coração. Neste Tempo de Advento, preparemo-nos para ver, com os olhos da fé, na Gruta humilde de Belém, a salvação de Deus (Lc 3, 6).

    Na linda pregação de João Batista (Lc 3, 1-6), acodem-me à mente as palavras do Profeta Isaías: “Uma voz exclama: abri no deserto um caminho para o Senhor […]. Que todo vale seja aterrado, que toda montanha e colina sejam abaixadas… Subi a uma alta montanha, para anunciar a boa nova a Sião. Elevai com força a voz…, dizei às cidades de Judá: ‘Eis o vosso Deus!’” (Is 40, 1-5.9-11).

    João Batista nos oferece um esplêndido exemplo de proclamação do Evangelho. O que o Batista compreendeu a respeito de Jesus é que se trata de alguém de que ele não é sequer digno de aproximar-se para desatar-lhe as sandálias; que é “o mais forte”, aquele que batizará no Espírito Santo e que desafiará, por assim dizer, o mundo a ferro e fogo!

    João Batista teve a capacidade de fazer sentir Cristo “perto”, às portas (Jo 1,26), como alguém que está “no meio” dos homens e não como uma abstração mental; como alguém que já tem na mão a pá (Mt 3,12) e se apresenta para atuar o juízo, por isso não há mais tempo a perder. A força de seu anúncio estava em sua humildade (Jo 3,30): Importa que ele cresça e eu diminua, em sua austeridade e em sua coerência.

    Necessitamos de anúncios inspirados e corajosos, como os de Isaías e de João Batista. Diante deles o mundo não poderia ficar insensível, como acontece quando se fala de Jesus Cristo só com sabedoria de palavras, com livros que não acabam mais, mas sem a força e sem a coerência de vida.

    Toda a essência da vida de João, desde o seio materno, esteve subordinada à essa missão! João Batista se entrega totalmente nessa missão, dedicando-se a ela, não por gosto pessoal, mas por ter sido concebido para isso. E vai realizar a sua missão até o fim, até dar a vida, no cumprimento da sua vocação.

    Foram muitos os que conheceram Jesus graças ao trabalho apostólico do Batista. Os primeiros discípulos seguiram Jesus por indicação expressa dele e muitos outros se prepararam interiormente para segui-lo, graças à sua pregação.

    É bela a vocação de João Batista! A vocação abarca a vida inteira e leva a fazer girar tudo em torno da missão divina. Cada homem, no seu lugar e dentro das suas próprias circunstâncias, tem uma vocação dada por Deus — para que ela se cumpra, dependem outras coisas queridas pela vontade divina!

    “Eu sou a voz que clama no deserto!” João Batista não é mais do que a voz, a voz que anuncia Jesus. Essa é a sua missão, a sua vida, a sua personalidade. Todo o seu ser está definido em função de Jesus, como teria que acontecer na nossa vida, na vida de qualquer cristão. O importante da nossa vida é Jesus!

    À medida que Cristo vai se manifestando, João procura ficar em segundo plano, ir desaparecendo. Dizia São Gregório: “João Batista perseverou na santidade porque se conservou humilde no seu coração”.

    Como precursor, indica-nos o caminho que devemos seguir! Na ação apostólica pessoal — enquanto preparamos os nossos amigos para que encontrem o Senhor —, devemos procurar não ser o centro. O importante é que Cristo seja anunciado, conhecido e amado.

    Sem humildade, não poderíamos aproximar os nossos amigos de Deus. E então a nossa vida ficaria vazia. Não somos apenas precursores! Somos também testemunhas de Cristo. Recebemos, com a graça batismal e a Crisma, o honroso dever de confessar a fé em Cristo, com as nossas ações e com a nossa palavra.  Que tipo de testemunhas nós somos? Como é o nosso testemunho cristão entre os nossos colegas, na família?

    Temos que dar testemunho e, ao mesmo tempo, apontar aos outros o caminho. “Também conduzir-nos de tal maneira que, ao ver-nos, os outros possam dizer: este é cristão porque não odeia, porque sabe compreender, porque não é fanático, porque está acima dos instintos, porque é sacrificado, porque manifesta sentimento de paz, porque ama” (É Cristo que passa, nº 122).

    Nesse Tempo do Advento, encontramos muitas pessoas olhando em outra direção, de onde não virá ninguém; ou onde outros estão debruçados sobre os bens materiais, como se fossem o seu último fim. Mas eles jamais satisfarão o seu coração! Cabe a nós apontar-lhes o caminho. A todos! Diz-nos Santo Agostinho: “Sabeis o que cada um de nós tem que fazer em casa, com o amigo, com o vizinho, com os dependentes, com o superior, com o inferior. Não queirais, pois, viver tranquilos até conquistá-los para Cristo, porque vós fostes conquistados por Cristo”.

    A nossa família, os amigos, os colegas de trabalho, as pessoas que vemos com frequência, devem ser os primeiros a beneficiar-se do nosso amor por Deus. Com o exemplo e com a oração, devemos chegar até mesmo àqueles com quem não temos ocasião de falar habitualmente, porém, não devemos nos esquecer que é a graça de Deus, não as nossas forças humanas, que consegue levar as almas ao Senhor!

    Na sociedade consumista, na qual somos tentados a procurar a alegria nas coisas, João Batista ensina-nos a viver de maneira essencial, a fim de que o Natal seja vivido não só como uma festa exterior, mas como a festa do Filho de Deus que veio trazer aos homens a paz, a vida e a alegria verdadeira.

    Deus quer servir-se de nós para preparar os homens de hoje para a vinda de Cristo no Natal desse ano. À intercessão materna de Maria, Virgem do Advento, confiemos o nosso caminho ao encontro do Senhor que vem, permanecendo prontos para o receber no coração e na vida inteira, o Emanuel, o Deus-conosco.

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