Eu, porém, vos digo…

             Temos a graça de celebrarmos neste final de semana o sexto domingo do Tempo Comum. A primeira leitura (cf. Eclo 15,15-21) deixa claro que cada pessoa é sujeito de sua felicidade ou desgraça, à medida que faz opções a favor da vida ou a favor da morte. Deus deixa toda liberdade de escolha às pessoas, mas aponta, ao mesmo tempo, o único caminho certo: “Escolha, pois, a vida…” (cf. Dt 30,19). É, portanto, responsável pela própria vida! São Paulo em sua carta, lida na segunda leitura da missa, chamou os cristãos de Corinto (cf. 1Cor 2,6-10) de pessoas maduras na fé, porque se abriram à novidade de Jesus Cristo crucificado. A maturidade na fé começa quando se entende o mistério da encarnação, morte e ressurreição de Jesus. A sabedoria da qual fala Paulo é o projeto de Deus, ‘‘uma sabedoria misteriosa, escondida, que Ele reservou antes dos séculos para a nossa glória.” (cf. 1Cor 2,7) As comunidades de Corinto são destinatárias dessa sabedoria, porque, em sua pobreza, escolheram o projeto de Deus já anunciado pelos profetas. O mesmo Deus, que caminhou no passado com seu povo, está presente agora na comunidade que aceitou Jesus crucificado, revelando seu projeto por meio do Espírito.

              O texto do Evangelho escolhido para este domingo é a continuação do sermão da montanha ou um desdobramento das bem-aventuranças (cf. Mt 5,17-37). Ele afirma que Jesus não veio para destruir o Antigo Testamento, mas para cumprir, pois Ele respeitou as leis e as instituições de seu povo, e sempre as interpretou na perspectiva da promoção da vida e do bem comum. Na segunda parte do Evangelho, Jesus explica de maneira mais profunda, quatro exemplos do Antigo Testamento. Jesus nos alerta que não basta observar leis para ser justo. É preciso observá-las de maneira pessoal, conscientes daquilo que se está fazendo, a fim de realizar o bem ao qual a lei visa. A justiça não depende da observância da lei. É na intenção profunda do coração que se decide a atitude mais verdadeira e mais radical do homem. É para aí que devemos dirigir a atenção e a escolha. Não basta, portanto, não matar, mas é necessário não se irritar. Não basta não cometer adultério; é preciso não desejar a mulher dos outros. Não basta lavar as mãos antes das refeições, mas é necessário purificar o coração. Não basta erguer monumentos aos profetas, mas é preciso não os calar, matando-os. Não basta o sacrifício, pois, de nada serve o ato de culto, se não se põe na própria vida moral e justiça, a misericórdia e a fé. Não basta multiplicar palavras nas orações, mas é necessário ter fé na bondade de Deus. Qual é mesmo a proposta de Jesus para nós? Nossas relações favorecem a justiça que conduz à vida para todos?

              O Senhor diz no Evangelho (cf. Mt 5, 17-37) que Ele não veio destruir a antiga Lei, mas dar-lhe a sua plenitude; restaura, aperfeiçoa, e eleva a uma ordem superior os preceitos do Antigo Testamento. Somos convidados a refletir sobre qual deve ser a atitude do cristão diante da Lei de Deus e as implicações que a mesma tem nas nossas opções de vida. Jesus não veio abolir a lei, mas levá-la à perfeição. Depois de ter anunciado os grandes princípios da nova lei, nas bem-aventuranças, Jesus as desenvolve, aprofundando o espírito dos mandamentos dados ao povo de Deus por Moisés. Trata-se de cumprir não apenas materialmente os mandamentos, mas de dar-lhes o verdadeiro espírito de justiça e de amor. Daí as palavras de Jesus: “Ouvistes o que foi dito aos antigos; Eu, porém, vos digo” (Mt 5, 17-37). Isso em relação à vida, à felicidade ao amor conjugal e à verdade. Não basta, por exemplo, não matar; é preciso também evitar palavras de desamor, de ressentimento ou de desprezo para com o próximo. Não basta privar-se dos atos materiais contra a lei; é preciso eliminar também os maus pensamentos e os maus desejos, porque quem os consente, já pecou no “seu coração” (cf. Mt 5, 28): já assassinou o seu irmão ou cometeu adultério.

              Quanto à verdade, diz Jesus: “Seja o vosso sim, sim, e o vosso não, não” (cf. Mt 5, 37). O cristão é chamado a ser transparente, simples. O contrário seria cheio de dobras, complicado. Não é só não jurar em falso, mas viver de tal modo a verdade, que não se precise jurar de modo algum. Fazer tudo em nome do Senhor, no Senhor.

              “Ouvistes o que foi dito aos antigos… Mas eu vos digo” (cf. Mt 5,21-22). Somente Jesus que é Deus pode fazer essas alterações nas tradições dadas por Deus no Antigo Testamento. Jesus é Deus! É incrível como algumas comunidades ainda hoje insistem em alguns preceitos antigos, mas que foram totalmente abolidos pela realidade autenticamente cristã: “ninguém, pois, vos critique por causa de comida ou bebida, ou espécies de festas ou de luas novas ou de sábados. Tudo isto não é mais que sombra do que devia vir.

                Contudo, meus irmãos e irmãs, “a realidade é Cristo” (cf. Cl 2,16-17). Enquanto se insistem nessas “sombras da realidade”, é possível que coisas mais importantes sejam descuradas como aquelas que o Senhor nos diz no Evangelho de hoje: viver a caridade para com todos, guardar o coração puro e casto, viver na verdade em todo momento.

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