Este é o meu filho amado

    Segundo domingo da Quaresma 

            Celebramos neste final de semana o segundo domingo da Quaresma. Domingo passado, que foi o primeiro domingo da Quaresma, meditamos sobre as tentações de Jesus no deserto depois de 40 dias de jejum. O Senhor no deserto, lutando contra o diabo, convida-nos ao combate espiritual, próprio do deserto quaresmal. Sim, porque é isso que o tempo santo que estamos vivendo deseja ser: tempo de retiro no deserto do coração para combater nossos demônios interiores e, pela oração, a penitência, a caridade fraterna, a escuta da Palavra de Deus e a reconciliação sacramental, caminharmos para a santa Páscoa.

             Na liturgia deste atual segundo domingo, ladeado por Moisés e Elias, que, em sua época, também enfrentaram durante quarenta dias suas experiências no monte para experimentarem o fulgor da glória de Deus, Jesus nos mostra qual a finalidade do nosso caminho quaresmal, ele nos revela onde nos leva nosso combate espiritual.

             Na primeira leitura – Gn 12,1-4a – Abraão acreditou no Deus único – acreditou na sua Palavra e saiu andando pelas terras do Oriente! Imitemos a fé de Abraão e Deus nos irá mostrando o caminho na medida que fizermos estrada na confiança em Deus que nos falou por Jesus Cristo!

    Na segunda leitura – 2Tim 1,8b-10 – Deus nos chamou com uma vocação santa, para a vida eterna de filhos de Deus. Vocação gratuita à vida divina em Jesus Cristo e por Jesus Cristo. Mas, o que significa isso para nós que somos carnais e machucados pelo pecado de nossos pais?

    No Evangelho – Mt 17,1-9 – ao olharmos um pouco o contexto do Evangelho da Transfiguração, observamos que Jesus tinha anunciado aos seus que “é necessário que o Filho do homem padeça muitas coisas, seja rejeitado pelos anciãos, pelos príncipes dos sacerdotes e pelos escribas. É necessário que seja levado à morte e ressuscite ao terceiro dia” (Lc 9,22; cf. Mt 16,21); que ele tinha falado também que se alguém o quisesse seguir que tomasse a cruz (cf. Mt 16,24); por outro lado, alguns discípulos esperavam um messias político que vencesse pela força de um exército dominador o poder dos romanos, de cujo jugo desejavam ver-se livres.

             Detenhamo-nos um pouco no Tabor do Evangelho hodierno. Ele é prenúncio, uma misteriosa antecipação da ressurreição. Com sua bendita Transfiguração, Jesus deseja preparar o seus para as dores da paixão – do mesmo modo que a Igreja nos deseja alentar e motivar para as renúncias e observâncias quaresmais. Por isso mesmo, Pedro, Tiago e João, o três que estão no Tabor são os mesmos que estarão no Jardim das Oliveiras. Por isso também o Evangelho de hoje termina com uma alusão à ressurreição de Jesus dentre os mortos e, o relato da transfiguração em Lucas afirma que “Jesus falava de sua partida que iria consumar-se em Jerusalém” (9,30). Eis: Moisés e Elias, a Lei e os Profetas dão testemunho da paixão do Senhor: tudo estava no misterioso desígnio de Deus! Após a ressurreição, isso ficará claro: “Não era preciso que o Cristo sofresse tudo isso e entrasse em sua glória?’ E começando por Moisés e por todos os Profetas, interpretou-lhes em todas as Escrituras o que a ele dizia respeito” (Lc 34,26-27). Eis que mistério: a Lei (Moisés) e os Profetas (Elias) dão testemunho de Jesus e aparecem iluminados por ele. Somente nele, na luz da sua cruz e ressurreição, o Antigo Testamento encontra sua plenitude e sua luz!

             A transfiguração do Senhor é um consolo. De fato, dizia São Leão Magno que “o fim principal da transfiguração foi desterrar das almas dos discípulos o escândalo da Cruz”; trata-se de uma “gota de mel” no meio dos sofrimentos. A transfiguração ficou tão gravada na mente dos três apóstolos que estavam com Jesus que anos mais tarde São Pedro lembrar-se-ia deste fato na sua segunda epístola: “Este é o meu filho muito amado, em quem tenho posto todo o meu afeto”. Esta mesma voz que vinha do céu nós a ouvimos quando estávamos com ele no monte santo” (2 Ped 1,17-18).  Ele, Jesus, continua dando-nos o consolo – quando necessário – para podermos continuar caminhando e para que nunca desistamos. É preciso que façamos muitos atos de esperança, uma virtude muito importante para todos os membros desse estado da Igreja que nós chamamos de “militante”. Somos os que combatem e somos combatidos, a nossa força vem do Senhor, nele nós esperamos.

             Os discípulos da transfiguração são os mesmos do Monte das Oliveiras, os da alegria são também os da agonia. É preciso acompanhar o Senhor em suas alegrias e em suas dores. As alegrias preparam-nos para o sofrimento e o sofrimento por e com Jesus dá-nos alegria. Os discípulos, que estavam desanimados diante do Mistério da Cruz, são consolados por Jesus na transfiguração e preparados para os acontecimentos vindouros, como, por exemplo, o terrível sofrimento que Ele padecerá no Getsêmani. Vale a pena segui-lo? Certamente.

             O Evangelho da Transfiguração foi utilizado pelo Papa Francisco em sua mensagem para a quaresma deste ano e que incluiu também a sinodalidade. Este domingo nos diz que temos que viver “totalmente no céu e totalmente na terra”. Isso significa que enquanto temos a cabeça e o coração totalmente em Deus, os nossos pés estão bem apoiados na terra e tendo os pés em terra firme, em meio das nossas ocupações, não nos esqueçamos do Senhor. “Corações ao alto”, diz o sacerdote em cada Santa Missa. Nós respondemos dizendo que “o nosso coração está em Deus”. Mas, o nosso coração está realmente em Deus? Não somente durante a Missa, mas também noutros momentos, nas vinte e quatro horas do dia.

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