Estado Islâmico: é este o nome que devemos dar a esses terroristas?

Para entendermos um pouco melhor os bandidos que estão tentando controlar o norte da Síria e do Iraque, nós temos que observar que eles próprios consideram que aquilo que estão fazendo é algo “islâmico”. Mas a nossa tentativa de entender a autocompreensão desse grupo não significa que estejamos concedendo a eles o reconhecimento e a credibilidade, especialmente religiosa, que eles desejam.

 

O amontoado de nomes que encontramos na mídia em referência a este grupo indica que esses bandidos não estão conseguindo consolidar o prestígio que desejam na sua pretensão de falar em nome do islã nem na sua pretensão de ser um novo Estado no cenário internacional. Muçulmanos e não muçulmanos desprezam e até ridicularizam a ideia de que eles representem a religião do islã ou algum Estado verdadeiro, para nem falar de um império nascente.

 

Vamos tentar entender um pouco melhor a confusão de nomes que são dados a esse grupo.

 

ISIS: Estado Islâmico no Iraque e no Sham (ou, muitas vezes, erroneamente chamado de Estado Islâmico no Iraque e na Síria). “Sham” é o termo em árabe que se refere ao Levante, que é uma região do Oriente Médio mais ampla do que apenas o Estado moderno da Síria. Eu admito que me divirto com o nome “ISIS” tal como ele é lido (“Ísis” é o nome de uma deusa pagã): acho irônico um bando de radicais islâmicos terem criado um “Estado” cujo nome acabou homenageando uma deusa pagã de uma era politeísta, ou seja, algo que, teoricamente, é o que eles querem combater com a “guerra santa” em nome do Deus único.

 

ISIL: Estado Islâmico do Iraque e do Levante. É exatamente o mesmo caso do termo acima, já que Levante é a tradução da palavra árabe “Sham”.

 

EI: Estado Islâmico. Este é o nome que esses bandidos preferem, mas os muçulmanos moderados rejeitam a ideia de que aquilo tudo seja “islâmico” mesmo. Além disso, não há uma única alma na comunidade internacional que reconheça esse grupo como um “Estado” de fato. Acho que alguns meios de comunicação foram muito sábios ao se referirem a esse grupo terrorista como “o autodenominado Estado Islâmico”. Outros veículos, como a Associated Presso, os chamam de “o grupo Estado Islâmico”, deixando claro que se trata precisamente de apenas um grupo e nada mais.

 

DAESH: Esta é a transcrição da sigla árabe do nome ISIS. A Associated Press publicou que os combatentes odeiam ser reduzidos a uma sigla e que até ameaçaram de morte as pessoas que usam esta sigla no território que eles controlam. Vemos nisto um lembrete da natureza totalitária do seu projeto: eles estão obcecados com a tentativa de controlar a linguagem para conseguirem, algum dia, controlar o pensamento. Eles sentem que precisam controlar as línguas porque sabem que não podem conquistar os corações.

 

Este fato me faz lembrar da minha experiência como estudante de graduação na Karl-Marx-University, em Leipzig, na antiga Alemanha Oriental, onde estudei em 1986-1987, durante o meu segundo ano de intercâmbio como acadêmica da Universidade de Stanford. Optei por dar ao meu currículo uma experiência direta do marxismo-leninismo. Alguns dos estudantes em Leipzig, como os habitualmente rebeldes poloneses, e eu entre eles, se referiam às aulas de marxismo-leninismo como apenas “ML”, já que repetir o tempo todo “Marxismus-Leninismus”, em alemão, é um tanto longo nas conversas do dia-a-dia. Mas alguns dos estudantes leais a essa ideologia se ofendiam com isso e consideravam que o uso da sigla “ML” era um insulto. Eles queriam enfiar nas nossas cabeças que o núcleo da coisa toda eram Marx e Lênin, mediante a repetição constante dos nomes deles. Mas, vivendo numa ditadura, você quer saborear cada instante possível de rebelião, não importa o quanto esse instante possa parecer insignificante. Nós cismamos com aquele “ML”. E eu tiro o meu chapéu, hoje, para quem reduz os bandidos do autoproclamado Estado Islâmico à mera sigla Daesh.

 

Califado: Os controladores daquele território que cobre partes da Síria e do Iraque declararam ter criado um califado. Ou talvez “o” Califado Islâmico, já que eles pretendem subjugar o mundo inteiro à sua autoridade. A irmã Maureen Fiedler, SL, em sua informativa entrevista sobre o significado disso tudo, apelidou o califado de “fantasia”.

 

Califalso: Um amigo meu, muito inteligente, me sugeriu este nome, que é o melhor que eu já vi até agora.

Talvez melhor ainda fosse chamá-los de Daesh Califalso…

 

Fonte: Aleteia