O contexto social no qual nestes dias vive o brasileiro está a exigir uma análise profunda dos atuais acontecimentos políticos. Houve, sem sombra de dúvidas, uma ruptura brusca entre o que fora proclamado nas promessas eleitorais da atual Presente e a realidade com a qual o cidadão passou a conviver. A fala do Planalto não convence a ninguém ao declarar a necessidade de “certos ajustes” na economia. Desde o início então já se sabia que o contribuinte iria pagar a conta. Por outro lado, embora Dilma Roussef seja avessa a qualquer forma de totalitarismo, mesmo porque foi ela mesma vítima do regime antidemocrático, ela se esqueceu de que o fenômeno político cai sob uma categoria assimétrica. Tendo governado quatro anos este país, ela acentuou, após a posse, no segundo mandato, a assimetria “mando e acatamento às ordens dadas”, “autoridade e submissão”, “decisão e execução”. Mesmo num regime democrático não há como escapar a estas realidades, mas é preciso que haja um consenso da parte dos representantes dos partidos da base aliada do governo. Daí os contratempos que estão parcialmente controlados com as reuniões promovidas pela Chefa de Estado, além de sua maior aproximação com a população. Nem se pode negar a atuação imediata e arguta do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva para contornar a situação. Apesar disto, os políticos que serão investigados na operação Lava-Jato, podem trazer novas sérias complicações e mais turbulências para o governo. A relação assimétrica só é compatível com a liberdade, a autonomia e a igualdade, o que caracteriza inclusive a relação simétrica, desde que se valorizem os bons aliados políticos e também se respeite a dignidade dos cidadãos em geral. Por outro lado, é uma estratégia equivocada apelar para a necessidade de um reajuste de rumos, porque houve distorções que estão afetando a economia nacional. A culpa e exatamente de quem não teve a perspicácia, em mandatos anteriores, para captar o que deveria ter sido feito. Nesse mar agitado todos os problemas referentes à Petrobrás são agravantes que se multiplicam a cada instante. A peita é uma triste realidade e em proporções nunca vistas na nossa Historia. Não se trata, contudo, de desdourar o lulismo, mas de encontrar soluções urgentes, pois todo está no mesmo barco. Lições devem ser tiradas. Reformas políticas precisam ser feitas. Há estadistas competentes e íntegros em todos os partidos os quais devem cooperar para o bem comum, mesmo porque toda reconstrução é uma construção benéfica, se for feita com sabedoria. Ressalte-se que o Ministro do Supremo Tribunal Federal deixou claro que a abertura de inquérito não representa “juízo antecipado sobre autoria e materialidade do delito”. Muita água vai rolar nos próximos meses, mas que a corrupção seja varrida do Brasil.
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos