Em Cristo somos nova criatura

             Estamos celebrando o XII domingo do tempo comum. Estamos concluindo a 36a. Semana nacional do migrante. Estamos rezando pelas vítimas da Covid 19 em nosso país em união com a nossa Conferência Episcopal.  Neste domingo celebramos também o dia mundial do migrante e do refugiado. O Papa Francisco nos recorda que as pessoas deslocadas nos proporcionam a oportunidade de encontrar o Senhor, mesmo que nossos olhos sintam dificuldade em reconhecê-lo com as vestes rasgadas, os pés sujos, o rosto desfigurado, o corpo chagado e a cultura diferente da nossa. As leituras deste domingo nos fazem refletir sobre o sentido do sofrimento humano e sobre a certeza de que, nas adversidades e tempestades da vida, o Senhor caminha conosco.

             A primeira leitura – Jo 38,1.8-11 –  mostra o trecho do livro de Jó, e serve para preparar o Evangelho deste domingo. Por meio de longo discurso sobre as maravilhas da criação, Deus mostra que Jó sofre de “arrogância atrevida”. Respondendo a Jó na tempestade, Deus se manifesta soberano sobre as forças que geram o mal, aí simbolizadas pelo mar. Apesar de impetuoso e assustador, sua força é quebrada pela areia das praias. Deus é maior e mais forte que todas as tragédias humanas! Todos os fenômenos da natureza estão em Suas mãos e, a nós, cabe respeito e cuidado.

             O Salmo 106 é ação de graças. Com a tempestade em alto-mar, Deus manifesta suas maravilhas de dois modos: mandando a tempestade e depois a acalmando, transformando-a em brisa leve. Jesus assumiu as características de Deus reveladas neste Salmo. É o resgatador, e muda a sorte do povo.

             A Segunda leitura – 2 Cor 5,14-17 – nos diz que a estreiteza de perspectivas e as divisões perdem o sentido diante do essencial, que é o Mistério do Cristo ressuscitado. A força da comunidade cristã é o amor de Cristo. É esse amor que nos impele. O amor é testado para nós em sua morte. Na morte e ressurreição de Cristo, todos morremos a fim de vivermos para Ele. Jesus entrega Sua vida para resgatar a humanidade da desobediência e da dívida, conduzindo-a novamente à vida em Deus. O mundo novo já foi inaugurado na Páscoa. Estar em Cristo é participar dessa nova realidade, superando rivalidades e divisões, pois a força que impele a comunidade à vida é o amor de Cristo levado às extremas consequências.

             O Evangelho – Mc 4,35-41 – nos apresenta um teste pessoal e comunitário da fé e da coragem de quem segue Jesus na hora dos conflitos. É toda a comunidade que se encontra em alto-mar, batida pelo furacão. A Palavra e a ação de Jesus enfrentam os poderes adversos (mar, diabo, doença, mortes…) e manifestam o Reino de Deus. A sua prática provoca duas reações: a fé que faz compreender o mistério revelado e a rejeição de quem não aceita as consequências do seu seguimento. Jesus é alguém a quem precisamos aderir plenamente, como condição única para realizar a travessia, a mudança de uma margem à outra, a verdadeira conversão. Só quem adere plenamente poderá reconhecê-Lo como Filho de Deus, o Messias enviado. Assumir seu projeto muda nosso modo de agir, nos faz passar para outra margem. Passamos a considerar as pessoas e fatos à luz da vida nova que Cristo trouxe a fim de fazer novas todas as coisas. Como nossas comunidades estão se comportando diante das impetuosas tempestades do dia a dia? Como está a nossa fé?

             A missão dos que se dedicam ao serviço do Reino de Deus não é fácil. A vida de discípulos não raro comporta momentos de solidão, oposições, incompreensões do mundo. Seguir Jesus não livra o discípulo do confronto com suas fragilidades e impotências diante de determinadas circunstâncias. Muitas vezes, nossa fé não é suficiente e precisamos ouvir a pergunta de Jesus – “Ainda não tendes fé?” –, porque não conseguimos identificar sua presença amorosa em meio às tempestades da existência. Ele não faz intervenções mágicas em nossa vida, mas está em comunhão conosco sempre, em qualquer lugar e situação.

             Contudo, celebrando do dia mundial do migrante e do refugiado estamos diante dos acontecimentos dramáticos que têm marcado os últimos tempos, sobretudo com as emergências sanitárias advindas da COVID-19 que neste final de semana chegou, aqui no Brasil, ao triste número de meio milhão de falecidos. A Igreja, sempre auscultando as necessidades dos homens e das mulheres nos dias de hoje, em sintonia com o Magistério do Papa Francisco exorta ao cuidado amoroso para com todas as pessoas deslocadas internamente. Vamos tomar consciência de que a presença de outros e outras pode ser acirrar os ânimos do rechaço, da rejeição, da discriminação. Pode cerrar o coração, a porta, a fronteira a tudo e a todos. Às vezes a “zona de conforto” em que nos encontramos tenta superar-nos, dar-nos a ideia de que devemos proteger-nos individualmente. E este é um ponto de reflexão e análise que cada pessoa, cada comunidade, cada paróquia, cada instituição deve colocar-se para superar, para mudar o que for necessário, a fim de empreender este diálogo acolhedor aos migrantes e refugiados que batem à nossa porta, e que são membros da única família humana, com a mesma dignidade de todo o ser humano.  Sejamos acolhedores e nosso corações estejam permanentemente abertos aos migrantes e refugiados, assim seja!

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