É tempo de conversão

    Eis o tempo de Conversão! Com a celebração da quarta-feira de cinzas, iniciamos o tempo forte de exame interior proposto pela Liturgia: o tempo da Quaresma.  É um tempo no qual somos chamados por Deus a mudar algumas atitudes e chegarmos renovados na celebração da Páscoa. É o tempo do deserto, do encontro com o Senhor. Ela nos encaminha para a Páscoa!

    Esmola, jejum e oração: tripé da espiritualidade quaresmal. A oração, sobretudo, deve animar a espiritualidade da Quaresma. Uma oração feita no silêncio do próprio quarto, da interioridade para meditar a Palavra, para deixar que a Palavra compenetre e transforme a nossa vida. E então, seremos capazes de jejum. Que a oração em que pedimos que o Senhor venha ao nosso encontro ilumine nosso itinerário quaresmal, para uma profunda conversão. Lembrando que não é só jejum da carne, dos alimentos, mas de palavras inúteis, do uso do celular em excesso, do uso das redes sociais em excesso. A dimensão da esmola que se torna sensibilidade social, atenção aos mais pobres e solidariedade, de fazer da própria vida um dom aos irmãos.

    Todos os anos, por ocasião da quaresma, o Santo Padre, o Papa, costuma enviar uma mensagem a todos os cristãos logo ao início deste tempo forte de crescimento espiritual. Na mensagem deste ano, a mensagem dirigida pelo Papa Francisco tem como tema a passagem tirada da segunda carta de Paulo aos Coríntios: «Em nome de Cristo, suplicamo-vos: reconciliai-vos com Deus» (2 Cor 5, 20).

    O Papa Francisco recomenda a necessidade de viver o tempo da Quaresma dentro da experiência do essencial de nossa fé, que é a realidade do Querigma, em especial fazendo uma forte experiência da misericórdia de Deus. Só conhece realmente Deus quem experimenta sua misericórdia! Por isso, nesta Quaresma de 2020, quero estender a todos os cristãos o mesmo que escrevi aos jovens na Exortação apostólica Christus vivit: «Fixa os braços abertos de Cristo crucificado, deixa-te salvar sempre de novo. E quando te aproximares para confessar os teus pecados, crê firmemente na sua misericórdia que te liberta de toda a culpa. Contempla o seu sangue derramado pelo grande amor que te tem e deixa-te purificar por ele. Assim, poderás renascer sempre de novo» (n. 123). A Páscoa de Jesus não é um acontecimento do passado: pela força do Espírito Santo é sempre atual e permite-nos contemplar e tocar com fé a carne de Cristo em tantas pessoas que sofrem (Papa Francisco, Mensagem para a Quaresma, ano 2020, n. 1).

    Na mensagem, o Papa ainda reforça uma das ideias fundamentais presente dentro do tempo da Quaresma, que é a urgência à Conversão, que nasce como fruto da necessidade de corresponder ao Amor de Deus derramado abundantemente em nossos corações: Por isso, neste tempo favorável, deixemo-nos conduzir como Israel ao deserto (cf. Os 2, 16), para podermos finalmente ouvir a voz do nosso Esposo, deixando-a ressoar em nós com maior profundidade e disponibilidade. Quanto mais nos deixarmos envolver pela sua Palavra, tanto mais conseguiremos experimentar a sua misericórdia gratuita por nós (n 2).

    Em sua mensagem, o Papa nos faz também considerar de maneira especial o desejo que Deus tem de vir ao encontro de seus Filhos, mostrando sua iniciativa em relação à nossa salvação e ressaltando a oração como caminho excelente para deixar que este encontro se realize: Esta nova oportunidade deveria suscitar em nós um sentido de gratidão e sacudir-nos do nosso torpor. Não obstante a presença do mal, por vezes até dramática, tanto na nossa existência como na vida da Igreja e do mundo, este período que nos é oferecido para uma mudança de rumo manifesta a vontade tenaz de Deus de não interromper o diálogo de salvação conosco (n. 3).

    A Quaresma é um tempo favorável para que nós melhoremos como cristãos e como cidadãos. Só iremos melhorar olhando para o Senhor Jesus que nos amou até dar a sua vida, que preparou a sua missão como os grandes profetas, como o seu povo lá no deserto, purificando-se, orando e entrando em diálogo com o Pai.

    Neste tempo de Quaresma, em união com toda Igreja no Brasil, temos também uma grande oportunidade de vivenciar de maneira prática o espírito de conversão quaresmal, através da Campanha da Fraternidade.

    A Campanha da Fraternidade 2020 é divulgada no cartaz como na figura de Santa Dulce dos pobres, o anjo bom da Bahia, canonizada no ano passado: a temática central será a valorização da vida, tendo um cuidado com os mais necessitados. O tema da campanha é: Fraternidade e Vida – dom e compromisso.  A CF 20 proclama que a vida é dom e compromisso! Seu sentido consiste em ver, solidarizar-se e cuidar (lema). A vida é essencialmente fazer-se dom e estar atento aos tantos necessitados, seja materialmente quanto espiritualmente.

    A Campanha tem como lema: “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (cf. Lc 10,33-34). Somos convidados a partir deste tema e deste lema a cuidar daqueles que estão feridos, esquecidos pela sociedade, que ninguém cuida, que as pessoas fingem que veem e não veem, passam adiante. Somos convidados a sermos bons samaritanos para essas pessoas e cuidar daqueles que se encontram nas mais diversas necessidades, sendo Cristo que passa na vida de todas as pessoas.

    Que no espírito de conversão quaresmal e seguindo o exemplo de Santa Dulce, que possamos pedir ao Senhor que sejamos os bons samaritanos que caminham em meio aos homens, feridos no corpo ou feridos na alma por tantas necessidades. Amamos porque Deus nos amou primeiro e não desiste de nós. Que a vivência da campanha da fraternidade, na vivência do ano missionário em nossa Arquidiocese, faça de nós testemunha vidas da caridade de Cristo. Invoco a intercessão de Maria Santíssima sobre a próxima Quaresma, para que acolhamos o apelo a deixar-nos reconciliar com Deus, fixemos o olhar do coração no Mistério pascal e nos convertamos a um diálogo aberto e sincero com Deus. Assim, poderemos tornar-nos aquilo que Cristo diz dos seus discípulos: sal da terra e luz do mundo (Papa Francisco, conclusão da Mensagem para a Quaresma, 2020).

    Nestes tempos de tantas buscas de Jesus Cristo, nem sempre muito corretas, que nesta quaresma o nosso anúncio querigmático possa entusiasmar a muitos corações a caminharem ao encontro de Jesus Cristo, Deus e homem verdadeiro, e, por conseguinte, a encontra-lO na pessoa de tantos irmãos e irmãs que sofrem como a Igreja faz em seus inúmeros trabalhos e obras sociais.

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