Este Quarto Domingo da Páscoa é conhecido como Domingo do Bom Pastor, pois nele se lê sempre um trecho do capítulo 10 de São João, onde Jesus se revela como o Bom Pastor. Mas, o que isso tem a ver com o tempo litúrgico que ora estamos vivendo? A resposta, curta e graciosa, encontra-se na antífona de comunhão que o Missal Romano traz: “Ressuscitou o Bom Pastor, que deu a vida pelas ovelhas e quis morrer pelo rebanho!” Aqui está tudo!
Na primeira leitura – At 4,8-12 – Pedro não se vangloria pelo milagre feito por suas próprias mãos. Ele dá a Jesus toda a glória e diz: “Ficai sabendo (…) que é pelo nome de Jesus (…) que este homem está curado diante de vós!” Toda a glória somente para Jesus.
Na Segunda Leitura – 1Jo 3,1-2 – Deus chama-nos de filhos e nós o somos de fato! Não é um título concedido interesseiramente por um político: “Caríssimos, desde já, somos filhos de Deus!”.
No Evangelho – Jo 10,11-18 – Pastor é título de quem cuida, por exemplo, da família (pai), da cidade (prefeito), da Igreja (padre) ou de uma associação pública (presidente). Sempre houve bons e maus pastores, infelizmente. Mas Jesus proclama: “Eu sou o Bom Pastor (…). Conheço minhas ovelhas e dou a vida por elas!”. O bom pastor conhece suas ovelhas e chama-as pelo nome e as conduz em segurança para as pastagens e para as aguadas para beber! Ele enfrenta o lobo e defende o rebanho inteiro! Jesus compara-se ao bom pastor e diz: “Eu sou o Bom Pastor. Conheço as minhas ovelhas e elas me conhecem! (…) Eu dou a minha vida pelas minhas ovelhas! (…) Ninguém tira (rouba) as minhas ovelhas, dou a minha vida por elas, Eu a dou por mim mesmo!” Jesus não é um mercenário, pago para trabalhar, Ele é o Bom Pastor!
“Eu sou o bom pastor” – disse Jesus. O adjetivo grego usado para “bom” significa mais que bom: é belo, perfeito, pleno, bom. Jesus é, portanto, o pastor por excelência, aquele pastor que o próprio Deus sempre foi. Pela boca de Ezequiel profeta, Deus tinha prometido que ele próprio apascentaria o seu rebanho: “Eu mesmo cuidarei do meu rebanho e o procurarei. Eu mesmo apascentarei o meu rebanho, eu mesmo lhe darei repouso” (34,11.15). Pois bem: Jesus apresenta-se como o próprio Deus pastor do seu povo!
No Evangelho (Jo 10, 11-18) Jesus se apresenta como o BOM PASTOR. É uma catequese sobre a missão de Jesus: conduzir o homem às pastagens verdejantes e às fontes cristalinas, de onde brota a vida em plenitude. O Bom Pastor aparece numa atitude de ternura com as ovelhas… Ele as conhece, as chama pelo nome, caminha com elas e estas O seguem. Elas escutam a Sua voz, porque sabem que as conduz com segurança. Em contraste com o pastor, aparece a figura dos ladrões e dos bandidos. São todos os que se apresentam como Pastor, ou até falam em nome de Cristo, mas procuram somente vantagens pessoais. Além do título de Bom Pastor, Cristo aplica-Se a Si mesmo a imagem da porta pela qual se entra no aprisco das ovelhas que é a Igreja.
Ensina o Concílio Ecumênico Vaticano II: “A Igreja é o redil, cuja única porta e necessário pastor é Cristo (LG,6). No redil entram os pastores e as ovelhas. Tanto uns como outras hão de entrar pela porta que é Cristo. “Eu, pregava Santo Agostinho, querendo chegar até vós, isto é, ao vosso coração, prego-vos Cristo: se pregasse outra coisa, quereria entrar por outro lado. Cristo é para mim a porta para entrar em vós: por Cristo entro não nas vossas casas, mas nos vossos corações. Por Cristo entro gozosamente e escutais-me ao falar d Ele. Por quê? Porque sois ovelhas de Cristo e fostes compradas com o Seu Sangue”. “… e as ovelhas O seguem, porque conhecem a sua voz” (Jo 10,4).
O bom pastor dá a vida por suas ovelhas. É por isso que o Pai me ama: porque dou a minha vida, para depois recebê-la novamente. Ninguém tira a minha vida; eu a dou por mim mesmo! Tenho o poder de entregá-la e o poder de retomá-la novamente; esse é o preceito que recebi do meu Pai. Amados irmãos, são palavras de intensidade inexaurível, essas! Jesus é o pastor perfeito porque é capaz de dar a vida pelas ovelhas: ele as conhece, ou seja, é íntimo delas, as ama, e está disposto a dar-se totalmente pelo rebanho, por nós! E, mesmo na dor, faz isso livremente, em obediência amorosa à vontade do Pai por nós! Por amor, morre pelo rebanho; por amor ressuscita para nos ressuscitar! Nós jamais poderemos compreender totalmente este mistério! Jesus diz que conhece suas ovelhas como o Pai o conhece e ele conhece o Pai! É impossível penetrar em tão grande mistério! Conhecer, na Bíblia, quer dizer, ter uma intimidade profunda, uma total comunhão de vida. A comunhão de vida entre o Pai e o Filho é total, é plena. Pois bem, Jesus diz que essa mesma comunhão ele tem com suas ovelhas.
Jesus é a porta das ovelhas! Para as ovelhas significa que Jesus é o único lugar de acesso para que as ovelhas possam encontrar as pastagens que dão vida. Para os cristãos, o Pastor por excelência é Cristo: Ele recebeu do Pai a missão de conduzir o rebanho de Deus… Portanto, Cristo deve conduzir as nossas escolhas. Quem nos conduz? Qual é a voz que escutamos? A voz da política, a voz da opinião pública, a voz do comodismo e da instalação, a voz dos nossos privilégios, a voz do êxito e do triunfo a qualquer custo, a voz da novela? A voz da televisão? Cristo é o nosso Pastor! Ele Conhece as ovelhas e as chama pelo nome, mantendo com cada uma delas uma relação muito pessoal.
O Divino Pastor é quem pode, realmente, ajudar, salvar e conservar a vida. Ele afirmou: “Eu vim para que todos tenham a vida e a tenham em abundância” (Jo 10, 10). Para distinguir a Voz do Pastor é preciso três coisas: – Uma vida de oração intensa; um confronto permanente com a Palavra de Deus e uma participação ativa nos sacramentos, onde recebemos a vida, que o Pastor nos oferece.
Neste Domingo celebramos o Dia Mundial de Oração pelas vocações sacerdotais e religiosas. Peçamos ao Senhor, Bom Pastor, que dê à Igreja e ao mundo pastores segundo o seu coração, pastores que, N’Ele e com Ele, estejam dispostos a fazer da vida uma total entrega pelo rebanho; pastores que tenham sempre presente qual a única e imprescindível condição para pastorear o rebanho do Bom Pastor: “Simão, tu me amas? Apascenta as minhas ovelhas!” (Jo 21,15s). Eis a condição: amar o Pastor! Quem não é apaixonado por Jesus não pode ser pastor do seu rebanho! Não se trata de competência, de eficiência, de vedetismo ou brilhantismo; trata-se de amor! Se tu amas, então apascenta! Como dizia Santo Agostinho, “apascentar é ofício de quem ama.