Documentário sobre Bento XVI: Nunca arrependido da renúncia, em paz consigo próprio

    “As renúncias foram uma decisão longa, bem rezada e sofrida, de que nunca se arrependeu”. O papa [emérito Bento XVI] está completamente em paz consigo próprio: a afirmação é do seu secretário particular e prefeito da Casa Pontifícia, o arcebispo Georg Gaenswein, num documentário de 29 minutos realizado pelo jornalista Tassilo Forcheimer, para a Bayerischer Rundfunk, televisão pública local da Baviera, com sede em Munique.

    O trabalho descreve a vida diária de Bento XVI no antigo mosteiro Mater Ecclesiae, no Vaticano, rodeado de livros e de recordações da Baviera. O papa emérito diz que continua a dedicar muito tempo à leitura. E a quem lhe pergunta sobre o estado de saúde, responde que é “um velho no fim da sua viagem”.

    Aos quase 93 anos – nasceu a 16 de abril de 1927 –, Joseph Ratzinger comenta no documentário alguns aspetos do seu quotidiano.  Confessa que segue uma rotina rigorosa, sempre acompanhado por Dom Gaenswein. A sua voz é muito frágil, e tem grande dificuldade em caminhar. “Tinha uma grande voz, agora já não funciona”, afirma. O prelado alemão observa: “Bento XVI é um homem de 92 anos, com uma mente clara, obviamente; mas que já perdeu muito da sua força física”.

    Às 7h30 celebra missa na capela do mosteiro, com Dom Gaenswein e as consagradas que se ocupam da casa. Durante o dia passa muito tempo no escritório, que mais parece uma biblioteca. “A vida do professor de teologia Joseph Ratzinger reflete-se em milhares de livros; diz que para ele todas as fases da sua vida estão contidas nos livros, e ocupa-se deles todos os dias”, refere o realizador do documentário.

    Teologia da Liturgia de Joseph Ratzinger

    “A matéria que escolhi foi a teologia fundamental, porque, antes de tudo, eu queria ir ao fundo da questão: por que cremos? Mas a essa questão, desde o início, outra foi intrinsecamente incluída, a da resposta correta a ser dada a Deus e, portanto, a questão sobre o culto divino. A partir daqui se deve entender o meu trabalho sobre a liturgia”, escreveu Joseph Ratzinger na introdução do livro “Teologia da Liturgia – o fundamento sacramental da existência Humana”.

    “Para aplicar essa nossa renovação e atualização litúrgica prevista pela Sacrosanctum Concilium nos valemos aqui a referência bibliográfica de uma obra preciosa, agora traduzida no Brasil pelas edições da CNBB, de Joseph Ratzinger, disponível nas editoras brasileiras, intitulado “Teologia da Liturgia – o fundamento sacramental da existência Humana” – Obras completas, Volume XI. É uma obra alemã traduzida para o português do Brasil, de grande valia, que resume tudo o que nós temos de mais precioso sobre liturgia. Este volume disponível no mercado, como pão fresquinho, reúne todas as obras pequenas ou grandes de teólogo Joseph Ratzinger, que é nosso Papa emérito Bento XVI, reunindo questões teológicas de vários anos, pois sabemos do rigor e aprofundamento teológico de Ratzinger e ao mesmo tempo a segurança teológica que nos dá para a liturgia, mergulhada a partir do Concílio Vaticano II, vista sempre a partir de Deus e da humanidade que celebra ou o povo celebrativo em festa. Segundo o autor, o texto central desse livro agora em nossas mãos, provêm de uma obra alemã “Der Geist Liturgie. Eine Einführung” (Uma introdução ao Espírito da Liturgia), que constitui o texto central deste livro, que vamos em nosso estudo citar muitas vezes, intercalando com outros aspectos importantes.

    Na qualidade de professor e teólogo, Ratzinger confessa na introdução desse livro: “A liturgia da Igreja tem sido para mim, desde a infância, a realidade central da minha vida e a instrução teológica de mestres como Schmaus, Söhngen, Paschere e Guardini, que se tornaram o centro de meu trabalho. A matéria que escolhi foi a teologia fundamental, porque, antes de tudo, eu queria ir ao fundo da questão: por que cremos? Mas a essa questão, desde o início, outra foi intrinsecamente incluída, a da resposta correta a ser dada a Deus e, portanto, a questão sobre o culto divino. A partir daqui se deve entender o meu trabalho sobre a liturgia” [1].

    Importante aqui frisar que foi em 2008 que essa obra foi publicada em alemão e só agora, 10 anos depois, foi traduzida ao português do brasil pelas edições da CNBB.

    Também no início do livro se traduz o prefácio do editor em língua alemã, o bispo de Regensburg, Dom Gerhard Ludwig, onde compara Bento XVI ao Papa Leão Magno (440-461) a quem devemos a fórmula decisiva para a profissão de fé cristológica do Concilio de Calcedônia (que aconteceu em 451). O bispo de Regenburg diz no prefácio que Bento XVI “combina o conhecimento científico da teologia com a forma viva da fé. Como uma ciência, que tem seu lugar genuíno dentro da Igreja, a teologia pode nos mostrar o destino especial do homem como criatura e imagem de Deus” [2].

    Conclusão

    Sem sombra de dúvida, Joseph Ratzinger é o maior teólogo do nosso tempo, pensador erudito e intelectual ínclito. Como teólogo, professor, escritor e conferencista deixa um legado colossal. Fiel ao patrimônio da fé, coerente com o ensino do magistério, tomado de zelo pelo Evangelho e amor abissal à santa Igreja de Jesus Cristo. Sua renúncia foi o Kairós de Deus para que a sua vida fosse retomada no espaço sagrado da oração, meditação, leituras, escritos, da mística, ou seja, o verdadeiro teólogo faz teologia de joelhos. Vivendo no mosteiro, vive na Escola do Senhor. Aprende e ensina de forma magistral o mistério da fé! Deixa uma obra gigantesca que uni teoria viva e a prática reavivada. Conhecimento e testemunho do reino de Deus é a conexão na vida do Papa emérito. Seu exemplo deve ser seguido na configuração intelectual e da espiritualidade. No decorrer da História Eclesiástica será declarado Doutor da Igreja.

    Frei A. Inácio José do Vale, FCF

    Professor de História da Igreja

    Centro Educacional-Comunidade de Ação Pastoral-CAP

    Sociólogo em Ciência da Religião

    Fraternidade Sacerdotal Jesus Cáritas

    ______________

    [1] RATZINGER, Joseph. “Teologia da Liturgia – o fundamento sacramental d existência Humana” – Obras completas, Volume XI, edições da CNBB, Editor em Língua alemã: Cardeal Gerhard Muller e Editor em Língua Portuguesa Antônio Luiz Catelan Ferreira, Brasília-DF, 2019, introdução do autor, p. 14.

    [1] Idem, Prefácio do Editor da Edição Alemã, p.19.

    Fontes:

    https://www.snpcultura.org/bento_xvi_nunca_arrependido_da_renuncia_em_paz_consigo_proprio.html

    https://www.vaticannews.va/pt/vaticano/news/2020-01/teologia-da-liturgia-de-joseph-ratzinger.html?utm_source=newsletter&utm_medium=email&utm_campaign=NewsletterVN-PT

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