Navegar é preciso; viver não é preciso

    No dia 02 de fevereiro a Igreja celebra a festa litúrgica da “Apresentação do Senhor”. Segundo as prescrições da lei mosaica, os pais deveriam apresentar o filho primogênito no Templo e consagrá-lo ao Senhor. Também acontecia a purificação da mãe do recém-nascido, por isso esta festa, em épocas passadas, era chamada de “Purificação de Maria”. Na apresentação, conforme Lucas 2,22-40, José e Maria encontram o velho Simeão, que ao ver Jesus diz: “meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos: luz para iluminar as nações e glória de teu povo Israel”.

    É uma festa litúrgica de grande conteúdo pois envolve Jesus e Maria. Jesus ao ser declarado luz deu origem ao costume de abençoar e fazer uma procissão com velas. Rito também realizado neste domingo. Neste contexto nasceu a devoção a Nossa Senhora das Candeias, ou Candelária. Isto é ressaltado na celebração da liturgia eucarística. Porém, a religiosidade popular acentua Nossa Senhora dos Navegantes. Devoção largamente propagada a partir das grandes navegações dos portugueses e espanhóis. Nesta riqueza de elementos que se reúnem num dia, lembrei-me de um provérbio: “Navegar é preciso; viver não é preciso”

    “Navegar é preciso; (…)”. Referindo-se à ciência náutica, navegar é uma viagem exata. Os navegadores tinham suas referências precisas nas estrelas e instrumentos que os mantinham na rota planejada. Hoje com os satélites e GPS ficou ainda mais preciso navegar. Porém, quando o navio começa a singrar os perigos da viagem vão aparecendo. Os marinheiros sabiam muito bem que não podiam contar apenas com o plano preciso da viagem, com a técnica, a experiência e a bravura, mas também precisavam da proteção divina. Ter a intercessão de Nossa Senhora dos Navegantes era uma necessidade.

    Sim “navegar é preciso”, mas “viver não é preciso”. “Viver não é preciso” deve ser entendido de que a vida é feita de opções, medos, imprevistos, que a vida não envolve somente o lado racional, mas também o emocional e o espiritual. Viver não é e nunca será uma atividade precisa. Na vida é preciso sonhar, arriscar, ousar, planejar, empreender e realizar.

    Assim como os navegadores tinham e têm pontos seguros para se guiarem e tornarem precisa a navegação, os cristãos também têm referências seguras para direcionarem a vida, fazendo o viver mais preciso e seguro. O velho Simeão declarou que estava diante da “luz para iluminar as nações”. Na viagem da vida ter luz para iluminar o próximo passo é imprescindível. Não basta planos perfeitos sem ter a luz para distinguir o certo do errado, o seguro do inseguro, e ver os obstáculos do caminho. Cristo é a luz do cristão.

    O Simeão também declarou que os seus “olhos viram a tua salvação”. Todo aquele que parte em viagem quer chegar ao destino, quer ancorar num porto seguro. Viver neste mundo não é vagar sem rumo ou para o vazio. O desejo humano é viver uma vida que leva à completude, à perfeição, a um ponto final que seja pleno. Os cristãos denominam isto de céu, de encontrar- se com Deus face a face.

    Bento XVI, na encíclica Spe Salvi, de 2007, escreveu: “A vida humana é um caminho. Rumo a qual meta? Como achamos o itinerário a seguir? A vida é como uma viagem no mar da história, com frequência enevoada e tempestuosa, uma viagem na qual perscrutamos os astros que nos indicam a rota. As verdadeiras estrelas da nossa vida são as pessoas que souberam viver com retidão. Elas são luzes de esperança. Certamente, Jesus Cristo é a luz por antonomásia, o sol erguido sobre todas as trevas da história. Mas, para chegar até Ele precisamos também de luzes vizinhas, de pessoas que dão luz recebida dele e oferecem, assim, orientação para a nossa travessia” (nº 49).

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