Dizer que sofre de depressão é o primeiro passo para a cura

Ato de colocar nossas emoções em palavras tem função terapêutica na doença que atinge 13,3 milhões de brasileiros

“Quem fala se liberta.” Essa é uma das premissas da prática clínica em psicologia. As pessoas tendem a não dar a devida importância ao peso dos ombros que se tira ao desabafar algo que nos aflige. Ao colocar em palavras, damos um nome ao objeto de nosso sofrimento e assim o distanciamos de nós. Fica mais fácil entender que aquilo não precisa fazer parte de nós. Este é um princípio fundamental do processo de cura, por isso tanta gente recorre à psicoterapia para conseguir sanar traumas profundos. Além dos insights direcionados pelo terapeuta, o simples ato de falar é parte do processo terapêutico. Pense no peso que um cristão não tira dos ombros ao se confessar perante o padre.

Mal do século

Acontece que quando se fala de depressão, existem profissionais capacitados para escutar um paciente e recomendar a melhor terapia, seja medicamentosa, seja no divã. E muita gente, diante de sintomas de depressão, tem medo de procurar ajuda ou mesmo de falar sobre o que está sentindo, muitas vezes temendo o estigma associado à depressão de ser taxado como louco.

Segundo um estudo divulgado pelo IBGE no ano passado, o número de maiores de 18 anos que afirma ter recebido o diagnóstico de depressão no Brasil teve aumento de 34% entre 2013 e 2019, saltando de 7,6% para 10,2% da população nacional. O que significa 16,3 milhões de pessoas, porém estima-se que o número de depressivos no país seja muito maior, uma vez que muitos sofrem em silêncio, seja por vergonha de reconhecer a doença ou simplesmente por não saber identificá-la.

Um relatório apresentado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu a depressão como O Mal do Século, que em 2017 assolava ao menos 19% da população mundial (322 milhões de pessoas), com perspectiva de aumento nos anos seguintes.

Como reconhecer 

A depressão apresenta uma série de sintomas como falta de interesse pela vida, falta de motivação nas atividades do dia a dia, apatia, indecisão; sentimentos de medo, insegurança, desesperança, desespero, desamparo e vazio; pessimismo, ideias constantes e desproporcionais de culpa, baixa auto-estima, sensação de falta de sentido na vida, inutilidade, ruína, fracasso, doença ou ideações suicidas.

Como definiu o escritor norte-americano Andrew Solomon no livro O Demônio do Meio-Dia – Uma Anatomia da Depressão (Companhia das Letras, 2001), a depressão seria uma falta de vitalidade generalizada. O autor fez do combate à doença de natureza psicológica sua cruzada pessoal e, à época do lançamento do livro, se apropriou de uma fala atribuída ao ativista Harvey Milk, dirigindo-se a qualquer pessoa que desconfie estar com depressão: “Saia e fale para alguém”. Trata-se de uma doença grave perante a qual não deveria haver qualquer remorso ou culpa. Não há por que sofrer em silêncio. Se desconfiar que esteja com depressão, procure ajuda profissional.

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