Desafios de superação

    Qualquer esforço de superação é sempre um desafio que se faz. Diante da violência que grassa em meio à convivência social observa-se um conformismo generalizado e perigoso das instituições que deveriam amenizar ou ao menos controlar um estado de conflitos. Estamos vivendo momentos de caos social. Não só por aqui, mas no mundo todo, a violência descamba a fraternidade entre humanos. Chegou a hora do basta! Chegou – e com atraso – o momento de acenarmos ao mundo com uma proposta de mudança comportamental. Ninguém mais suporta tanta violência e desamor entre iguais.

    Em boa hora, a Igreja Católica lança mais uma Campanha destinada a provocar reflexões sobre o tema. Pensando em superação da violência crescente, propõe fraternidade, a partir de uma afirmativa bíblica que muitos ignoram: “Vós sois todos irmãos” (Mt 23,8). Muitos torcem o nariz para mais esse movimento da fé cristã, entregues que estão ao descrédito ou aquartelados que pensam estar em seus domínios de segurança e bem viver. Mas o problema não escolhe vítimas. Balas perdidas, explosões circunstanciais, sequestros e ataques surpresas aí estão, ceifando vidas, fazendo suas vítimas sem critérios de escolhas. O próximo pode ser um de nós.

    O que vemos acontecer não é um fato do acaso, mas uma situação de descrédito e destemor humano quanto à sua natureza originalmente solidária. Perdemos essa origem à medida que nos afastamos do respeito e dignidade que o temor a Deus um dia incutiu em nossa raça; esta que difere em tudo das demais criaturas, posto ser o humano consciente de seus deveres de respeito mútuo e construtores da vida social. Se a violência é hoje uma ameaça à raça, um fator de desequilíbrio social, é porque nos afastamos dos princípios basilares de uma cultura humana e sua consequente fraternidade. A Igreja, semeadora que é dessa cultura, nos deve isso. Não a instituição, mas a Igreja que dizemos ser… Isso mesmo, se o caos nos domina, temos grande parcela de culpa!

    Portanto, eis que somos convidados a rever essa nossa responsabilidade social e comunitária. Sete princípios nos são lembrados: 1) Anunciar a Boa-Nova. Sem essa ação, o mundo nunca conhecerá a doutrina que um dia mudou a história entre o antes e o depois, entre a proposta reconciliadora de Cristo e o exacerbado critério das Leis que só fazem barulho, sem provocar mudanças. 2) Analisar as formas de violência. Não só aquelas que atingem diretamente a vida, mas também e com mais critérios, as institucionalizadas e que hoje matam tanto quanto qualquer bala perdida na periferia dos injustiçados. 3) Identificar o alcance da violência. Este não atinge somente vítimas do acaso, mas igualmente seus agentes provocadores, posto que um mundo desigual é gerador da violência em que todos se tornam vítimas. 4) Valorizar família e escola. Ah! Eis um item que diz muito, quando a educação institucionalizada ou politicamente manietada tem por meta destruir conceitos de vida familiar e direcionar suas instituições educacionais de acordo com suas necessidades, realidades e interesses de mercado ou de manutenção dos poderes. 5) Identificar políticas públicas. Quais delas? Aquelas que mantêm a lei e a ordem, de acordo com seus critérios políticos e partidários ou aquelas que visam a promoção da dignidade de seus indivíduos? 6) Estimular as comunidades cristãs e ações pastorais. Ao contrário desse ideal, o que estamos assistindo é um desestimulo à Ação Pastoral da Igreja, cerceada que está em seu proselitismo apostólico. Onde Deus é afastado da realidade humana, com certeza, o Diabo se estabelece e domina. Essa é a mais pura verdade. 7) Apoiar centros de Direitos Humanos, comissões de Paz, instituições que promovam e facilitem o acesso de muitos a uma vida mais digna e humana. Eis o ponto crucial de uma sociedade que faz jus à sua razão primeira de existir: visar o bem comum, com direitos fracionados pela partilha justa e humana. Isso em todo sentido e em qualquer circunstância.

    Enquanto a voz da Igreja puder ecoar em nosso meio, como alerta constante e profetismo necessário, resta-nos uma esperança. Ouçamos ao menos.

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