Curso anual dos Bispos e a formação presbiteral

    Inicia-se nesta segunda feira, dia 27 de janeiro o XXIX Curso Anual para os Bispos, no Centro de Estudos do Sumaré, no Rio de Janeiro, RJ, sobre o tema: “A dinâmica humana e espiritual da formação permanente dos presbíteros”. São 30 anos de existência desse curso! Foi criado por D. Eugênio Salles que, neste ano, cujo centenário (100 anos) de seu nascimento estamos comemorando. Queremos dedicar o curso deste ano a ele que foi o iniciador e incentivador do mesmo. Neste ano temos inscritos 119 participantes entre Bispos e formadores de seminários (devido ao interesse para a formação). A temática está centrada em dois documentos: Ratio Fundamentalis (publicada em 8/12/2016 pela Congregação para o Clero e na Ratio Nacionalis (aprovada pela Assembleia Geral e publicada pela CNBB em 12/10/19 como Documento 110)

    A proposta do curso é oferecer uma série de palestras com oradores de renome para contribuir com a atualização dos bispos. Neste ano queremos refletir sobre a formação inicial e ao longo do exercício do ministério dos presbíteros e sua aplicabilidade em nosso país. O curso é uma forma de reflexão e partilha entre os interessados. A Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro tem uma tradição, que vem desde a época do Cardeal Dom Eugênio Sales, de proporcionar, no período de férias, no início do ano, esse encontro para bispos. É um trabalho que a Arquidiocese faz com muita alegria e vemos que tem sido cada vez mais procurado pelos bispos.

    Os conferencistas deste ano serão 1. SER Dom Jorge Carlos Patrón Wong, Arcebispo Secretário da Congregação para o Clero. Sua atuação é na área que se refere especificamente aos seminários, conforme o Motu Proprio de 16 de janeiro de 2013, pelo Papa Bento XVI, que confirmou à Congregação para o Clero a competência sobre todos os Seminários, exceto aqueles dependentes das Congregações para as Igrejas Orientais ou para a Evangelização dos Povos.  2. SER Dom Frei Jaime Spengler, OFM, Arcebispo Metropolitano de Porto Alegre e 1º. Vice-Presidente da CNBB, especializado em Sagradas Escrituras e com doutorado em Filosofia na Pontifícia Universidade Antonianum. Membro da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica, já foi membro da Comissão Episcopal Pastoral para os Ministérios Ordenados e de Vida Consagrada da CNBB, no quadriênio 2015-2019. 3. Pe. Stanislaw Morgalla, SJ, Professor da Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma e Diretor do Centro de St. Peter Favre, para formadores do Sacerdócio e da Vida Consagrada. Psicólogo, diretor espiritual é autor da obra “Personalidade e maturidade religiosa; uma espiritualidade de doação”. 4. Pe. Luiz Fernando Ribeiro Santana, do clero do Rio de Janeiro, e mestre em Teologia pela PUCRio, onde é professor, com atuação na área de liturgia e espiritualidade, com ênfase no atendimento espiritual aos sacerdotes. 5. Dra. Luciana Campos é Psicólogo, Pedagoga, com Mestrado em Educação pela UFF e Doutorado em Serviço social pela UFRJ. Professora do Seminário São José, de Niterói, publicou o livro “Resiliência e Habilidades Sociais”, em 2014 e em maio de 2017 publicou: “A dor invisível: A Síndrome de Burnout e depressão entre os Religiosos”. Em abril de 2018 publicou: “A Dor Invisível dos Presbíteros”.

    Iniciamos o Curso no dia 27 a noite com a apresentação de todos e com os meus votos de boas-vindas, assim como os avisos da casa. As conferências do dia 28, terça-feira, serão: “O discipulado como: caminho de continua configuração a Jesus Cristo, Bom Pastor”, por SER Dom Patrón; “A antropologia da vocação cristã: uma visão conjunta entre a formação inicial e permanente dos presbíteros”, por Pe. Morgalla; “A formação dos presbíteros na Igreja no Brasil. As atuais Diretrizes: história, características e desafios para sua aplicação, por SER Dom Jaime. No dia 29, quarta-feira, as conferências serão: “Celibato sacerdotal e obediência, como vive-los em meio aos desafios da vida quotidiana”, pelo Pe. Morgalla; “Espiritualidade, vida e ministério do presbítero diocesano como expressão do seu compromisso sacerdotal”, por SER Dom Patrón. No dia 30, quinta-feira, as conferências serão: “As crises vocacionais na vida presbiteral como oportunidades para crescer como pessoa”, pelo Pe. Morgalla; “O desafio do acompanhamento na formação permanente”, por SER Dom Patrón; “Esgotamento na vida sacerdotal: estado atual da questão e caminhos de acompanhamento e superação”, por Dra. Luciana Campos. No dia 31, sexta-feira, a conferência será: “A escuta e a direção espiritual como partes da formação permanente dos novos e dos atuais presbíteros” pelo Pe. Luiz Fernando, encerrando-se com o meu pronunciamento de ação de graças e agradecimento.

    As missas serão celebradas sempre às 7hs da manhã, transmitida ao vivo pela WebTv Redentor e pela Rádio Catedral. No dia 28 presidirá SER Dom Jaime Spengler, OFM, Arcebispo de Porto Alegre e 1º vice-presidente da CNBB e concelebrada no presbitério por Dom Paulo Alves Romão e Dom Vicente Costa. No dia 29 presidirá a Eucaristia SER Jorge Carlos Parón Wong, Arcebispo Secretário da Congregação do Clero e concelebrada no presbitério por Dom João Inácio Müller e Dom Júlio Endi Akamine. No dia 30 a Santa Missa será presidida por SER Dom André Vital Felix da Silva, SCJ, Bispo de Limoeiro do Norte – CE e concelebrada no presbitério por Dom Geremias Steinmetz e Dom Celso Antônio Marchiori. No dia 31 eu irei presidir a celebração de encerramento tendo como concelebrantes no presbitério Dom Karl Josef Romer e Dom João Francisco Salm.

    O tema da formação dos presbíteros foi discutido na 56ª Assembleia Geral da CNBB, em Aparecida – SP (de 11 a 20 de abril de 2018), cujos trabalhos foram norteados, norteados pelo tema “Diretrizes para a formação dos presbíteros na Igreja no Brasil, passando a vigorar em 12 de outubro de 2019. O Documento lançado no ano passado traz orientações para a formação de novos presbíteros no Brasil e a necessidade de formação permanente. Segundo o texto, esse novo presbítero precisa ter características como “coragem de alcançar todas as periferias geográficas e existenciais que precisam da luz do Evangelho, em uma atitude acolhedora e misericordiosa”, destaca o texto.

    O documento foi inspirado na “Ratio Fundamentalis” – O dom da vocação presbiteral e suas quatro características que precisam ser destacadas: a formação deve ser única, integral, comunitária e missionária. Publicado no dia 8 de dezembro de 2016, atualiza as orientações de 1985.

    As atuais Diretrizes visam enriquecer a formação espiritual, humana, intelectual e pastoral dos futuros sacerdotes “com novos impulsos vitais, consoantes com a índole peculiar de nosso tempo”.

    De acordo com o arcebispo de Porto Alegre e primeiro vice-presidente da CNBB, Dom Frei Jaime Spengler, OFM, um dos responsáveis pela elaboração do texto na época, a Igreja no Brasil deve buscar “Homens verdadeiramente apaixonados pelo Evangelho do crucificado/ressuscitado, homens entusiasmados pela proposta do Reino e por isso capazes de se lançar generosamente no trabalho apostólico”, afirmou em uma entrevista ao portal da CNBB.

    A Congregação para o Clero publicou o Dom da Vocação Sacerdotal – Ratio Fundamentalis Institutionis Sacerdotalis – acessível no sítio produzido pela mesma Congregação: http://www.clerus.va/content/dam/clerus/Ratio%20Fundamentalis/O%20Dom%20da%20Voca%C3%A7ao%20Presbiteral.pdf

    No site da Congregação do Clero transcrevemos: “O DOM DA VOCAÇÃO ao presbiterado, conferido por Deus no coração de alguns homens, exige da Igreja propor-lhes um sério caminho de formação; como recordou o Papa Francisco por ocasião do seu discurso à Congregação para o Clero (03 de outubro de 2014) reunida em Plenária, «trata-se de conservar e desenvolver as vocações, para que produzam frutos maduros. Elas constituem um “diamante bruto”, que deve ser trabalhado com habilidade, respeito pela consciência das pessoas e paciência, para que resplandeçam no meio do povo de Deus»[1].

    Já se passaram trinta anos – daquele 19 de março de 1985 – desde que a Congregação para a Educação Católica, então competente na matéria, fez a revisão da Ratio Fundamentalis Sacerdotalis, promulgada a 06 de janeiro de 1970[2], procedendo sobretudo a uma integração das notas à luz da promulgação do Código de Direito Canônico (25 de janeiro de 1983).

    Desde então, foram muitas as contribuições feitas para o tema da formação dos futuros presbíteros, seja por parte da Igreja Universal, seja por parte das Conferências Episcopais e de cada Igreja Particular.

    Primeiramente, é oportuno recordar o Magistério dos Pontífices que nestes últimos trinta anos guiaram a Igreja: São João Paulo II, ao qual se deve a fundamental Exortação apostólica pós-sinodal Pastores dabo vobis (25 de março de 1992), Bento XVI, autor da Carta apostólica em forma de “motu próprio” Ministrorum instituito (16 de janeiro de 2013) e Francisco, pelo impulso e orientações que estiveram na origem do presente documento.

    Assim, a Pastores dabo vobis apresenta de maneira explícita uma visão integral da formação dos futuros clérigos que leve em conta, e com a mesma importância, as quatro dimensões que compõem a pessoa do seminarista: humana, intelectual, espiritual e pastoral. A Carta apostólica Ministrorum institutio procura destacar como a formação dos seminaristas continua naturalmente na formação permanente dos sacerdotes, constituindo com essa uma única realidade; por isso, com tal documento, Bento XVI confiou à Congregação para o Clero, já competente para a formação permanente, a responsabilidade pela formação inicial no Seminário, reformulando os artigos da Constituição apostólica Pastor Bonus (28 de junho de 1988) que tratavam deste tema, e transferindo para tal Congregação a Secção responsável pelos Seminários. Durante o seu Pontificado, o Papa Francisco tem também oferecido um rico Magistério e um constante exemplo pessoal a propósito do ministério e da vida dos sacerdotes, além de ter encorajado e seguido de perto os trabalhos que levaram ao presente documento.” (cf. http://www.clerus.va/content/clerus/pt/notizie/new2.html, último acesso em 25 de janeiro de 2020).

    SER Dom Jorge Carlos Patrón Wong, Secretário da Congregação do Clero enumerou as 4 chaves para compreender “O dom da vocação presbiteral”:

    1. As diferenças com o texto de 1985 e acentos do novo documento

    Dom Patrón Wong explica que “a Igreja é uma instituição antiquíssima”, por isso “na formação de seus ministros existe a continuidade e a novidade”. “Os documentos que regem a formação colocam alguns acentos, tentando responder à realidade atual e tentando incorporar algumas experiências positivas da formação e das conclusões das ciências humanas”, assinala. Para o Prelado, “uma primeira diferença é que sublinha ainda mais a formação integral. Trata-se de formar todo o homem, de modo que os seminaristas possam conseguir um amadurecimento equilibrado em diversos aspectos da sua vida e do seu futuro ministério, começando sempre pela formação da pessoa, ou seja, do coração, do profundo, da interioridade”. Além disso, indica, esta normativa “tem um acento especial sobre o discernimento vocacional, recomendando que seja feito continuamente durante o processo formativo, de modo que os seminaristas cheguem à ordenação sacerdotal mais livres e mais capazes de fazer um verdadeiro discernimento pastoral”. “Também há uma atenção no acompanhamento, destacando a necessidade de que ao longo do processo formativo se cultivem profundas relações de confiança e transparência entre os formadores e os seminaristas, para que efetivamente possam ajudá-los”. O documento também destaca “a importância da comunidade educativa do Seminário. A formação se realiza sempre no âmbito da comunidade cristã e, no caso do Seminário, de uma comunidade educativa constituída por todas as pessoas que colaboram nela: sacerdotes formadores, professores, funcionários, equipe administrativa”.

    1. Processo de formação para os candidatos ao sacerdócio

    Dom Patrón Wong destaca que esta nova normativa “insiste muito no conceito clássico da gradualidade, ou seja, os valores da vocação sacerdotal são aprendidos pouco a pouco, em um processo de maturação que demora um longo período”. “Trata-se de formar um homem, que deve ter bem cimentada a sua identidade cristã, para posteriormente facilitar a configuração com Cristo, Servo, Pastor, Sacerdote e Cabeça. Um processo complexo que exige uma formação cuidadosa”, precisa. Neste processo de formação, indica, “propõem-se quatro etapas, que são praticadas na maioria dos Seminários: a etapa propedêutica ou introdutória, a etapa do discipulado ou filosófica, a etapa de configuração ou teológica e a etapa de pastoral ou de síntese vocacional”.

    1. Inculturação

    O Secretário para os Seminários destaca que, “ao longo de sua história, a Igreja fez parte de diversas culturas: nasceu hebreia, fez-se grega e latina; e logo, balcânica, polonesa, hispânica, gálica; e posteriormente africana, asiática, americana”. Para a Igreja, explica, “a inculturação é uma regra de vida. Jamais destrói as culturas, mas tenta que em cada uma delas esteja presente a pessoa de Jesus e a mensagem do Evangelho se encarne”. “A Igreja vê com muita seriedade as diferentes culturas, ainda mais quando são pouco respeitadas. Por isso, valoriza as vocações indígenas e procura oferecer-lhes uma formação adequada. Além disso, as pessoas que falam as línguas indígenas são cristãos e têm o direito de ter pastores que evangelizem sua cultura”, sublinha.

    1. Os Seminários Menores

    Segundo Dom Patrón Wong, “o Seminário Menor é uma linda instituição”, pois “oferece aos adolescentes uma formação juvenil humana e cristã”. “Paulo VI dizia que eram lugares de trabalho, de oração e de família, semelhantes à família de Nazaré. Muitíssimos adolescentes necessitariam de uma experiência semelhante para conseguir um amadurecimento integral”. O Prelado indica que “o Seminário Menor não é uma casa de formação presbiteral. Na verdade, prepara os adolescentes para que, em algum momento, possam ter a experiência vocacional suficiente para que, se Deus quiser, possam escolher a vida sacerdotal. Trata-se de uma formação prévia, ou remota”. Esta formação, acrescenta, “também está, de algum modo, na pastoral juvenil, nos colégios católicos, nos grupos juvenis e nos movimentos eclesiásticos”, pois “a Igreja está presente de várias maneiras entre os adolescentes, para ajudá-los em seu crescimento humano, espiritual, intelectual e apostólico”. (cf. https://www.acidigital.com/noticias/4-chaves-para-ler-o-novo-documento-do-vaticano-sobre-formacao-de-sacerdotes-99261, último acesso em 25 de janeiro de 2020).

    Leais, nada rígidos, nunca hipócritas e com o “senso do belo”: é o perfil do padre ideal, como traçado no novo documento sobre a vocação presbiteral da Congregação para o CleroRatio fundamentalis institutionis sacerdotalis. Um bom padre deve ter o dom da escuta: “Para implementar o discernimento pastoral, é preciso colocar no centro o estilo evangélico da escuta, que liberta o pastor da tentação da abstração, do protagonismo, da excessiva segurança de si e daquela frieza que o tornaria ‘um contabilista do espírito’ em vez de ‘um bom samaritano’”.
    O padre, adverte o documento, não deve ser um homem “do fazer”: “O pastor aprende a sair das próprias certezas preconcebidas e não pensará no próprio ministério como uma série de coisas a fazer ou de normas a aplicar, mas fará da própria vida o ‘lugar’ de uma escuta acolhedora de Deus e dos irmãos”.

    É oportuno que o XXIX Curso do Bispo trate dos presbíteros porque coincide com o centenário de nascimento de meu amado predecessor, o Cardeal Eugênio de Araújo Salles, que iniciou esta feliz iniciativa e que teve um destacado trabalho em favor das vocações, do Seminário São José e do acompanhamento do nosso presbitério. A sua marca e o seu zelo presbiteral, na coerência, na santidade e na unidade com o Magistério de Pedro devem iluminar nossos dias, na invocação sempre presente e querida de sua figura maiúscula de padre, bispo, cardeal e grande formador do clero.

    Que nosso Encontro de Bispos seja inspirado para que na maturidade da formação presbiteral e na vivência de uma espiritualidade do serviço sacerdotal pleno possam nossos presbíteros verdadeira e coerentemente viver e testemunhar a dinâmica humana e espiritual da formação permanente dos presbíteros.

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