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Cristãos indianos após 10 anos de ataques e discriminação

India. Orissa, September 2012 Project trip of Regina Lynch,Javier Menendez Roz, Teresa Garcia Paquet and Gabriel Garcia)

Os católicos no estado indiano de Odisha, sofreram em 2008 uma terrível repressão por parte de fundamentalistas hindus; pretendiam extinguir a presença do cristianismo naquela região da Índia, perpetrando assassinatos, queima de prédios e casas, além da violação pública de mulheres cristãs; atrocidades como essas são cometidas no distrito de Khandamal, a fim de forçar os fiéis católicos da Igreja local a se converterem ao hinduísmo ou se mudarem dali; revelando, dessa forma, o drama dos Cristãos indianos após 10 anos de ataques e discriminação.

Durante uma recente visita à sede da Fundação Pontifícia ACN, o representante do Fórum de Odisha para Ação Social, Padre Ajay Kumar Singh, defendeu os cristãos oprimidos daquele estado. “Há mais de 10 anos que, dificilmente, se consegue obter justiça para essas comunidades cristãs”, disse o clérigo. Além disso, o padre declarou que os ataques de 2008 foram os piores em 300 anos – “A violência ceifou 101 vidas; mais de 350 igrejas foram destruídas, 7.500 casas foram reduzidas a cinzas e dezenas de conventos, presbitérios e dispensários; além de 13 organizações humanitárias, que também foram atacadas e vandalizadas. Os tumultos se espalharam para 450 aldeias no distrito de Khandamal.”

Com o passar do tempo, edifícios tem sido reconstruídos e as manchetes das notícias mudaram; memórias vão desaparecendo. Mas qual é o estado da comunidade cristã em Odisha e na Índia, após dez anos de ataques sangrentos?

Mudança de governo, crescimento do ódio

Em 2014, seis anos após os ataques em Khandamal, o partido “secularista” do Congresso Nacional Indiano perdeu as eleições. Subiu ao poder o então nacionalista, Partido Bharatiya Janata (BJP); inúmeras acusações tem surgido contra o partido, denunciado por incitar a violência sectária desde 2002 – quando hindus e muçulmanos entraram em confronto violento no estado de Gujarat.  O BJP foi responsável pelos ataques relatados contra os cristãos, que mais do que dobraram nos três anos anteriores a 2017; afinal, os ataques registrados aumentaram de 147 em 2013, para 351 no ano passado, antes da mudança de governo. De acordo com a pesquisa do Padre Singh, os ataques físicos e assédio contra cristãos e outras minorias, apresentam, historicamente, os níveis mais elevados no país. No entanto, há ainda um número de casos que não foram considerados por não terem sido documentados.

O padre evidencia um fenômeno crescente na Índia: existem, há várias décadas, leis que proíbem o abate de vacas (animais considerados sagrados pelo hinduísmo), além da aquisição ou armazenamento de carne bovina, mesmo que dentro de lares não hinduístas. Recentemente, surgiram grupos de milícias e “vigilantes” que invadem casas para verificar o cumprimento dessas leis; resultando em linchamentos ou espancamentos severos para aqueles que as infringem. Os chamados “linchamentos de carne” foram relatados não apenas em Odisha, mas em vários estados da Índia. Segundo os números recolhidos pela Defensoria dos Direitos Humanos, 86% dessas vítimas são muçulmanos que sofreram linchamento; muitos teriam sido pegos transportando ou armazenando carne; cerca de 97% de todos esses incidentes ocorreram nos últimos três anos, desde que o BJP assumiu o poder em 2014.

O sectarismo é um segredo aberto

O judiciário da Índia teria sido fundado em uma constituição que permite a liberdade religiosa e reconhecimento da dignidade de todos os seus cidadãos; embora pareça ter ainda um sistema de classes hierárquico e discriminatório contra cristãos e pessoas pertencem às castas inferiores; afinal, a maioria da população cristã da Índia é formada pelas chamadas castas baixas, aumentando sua desvantagem quando apanhadas em alguma questão legal, seja como reclamante ou acusado.

Em sua conversa com a Fundação Pontifícia ACN, o Padre Singh afirmou também que é comum os tribunais sempre decidirem em favor da parte que professa uma religião de “origem indiana”; além da polícia ser menos propensa a agir em casos de violência perpetrada contra cristãos. Ademais, a natureza extrajudicial das queixas contra os cristãos e a forma como são realizas as investigações, deixam os membros das minorias religiosas sem caminhos concretos para o acesso à justiça; invenções e mentiras são comuns; como o índice de analfabetismo é elevado entre os pobres, há poucos recursos para registrar os casos de injustiça. “É fácil para as autoridades descartar reclamações de injustiça sistêmica anticristã como sendo mentirosas ou exageradas”.

Precursora na discriminação religiosa

Dados recolhidos no Relatório de Liberdade Religiosa publicado pela ACN em 2016, indicaram que, dos 22 países colocados na categoria “Perseguição”, a Índia é um dos seis que apresenta indícios de problemas generalizados e graves causados ​​por Estados autoritários. Portanto, esta é a realidade dos cristãos da Índia. Um cônjuge é vulnerável ao processo de divórcio e à revogação dos direitos dos pais, apenas com base na conversão ao cristianismo. Assim, os católicos não são inquilinos preferidos quando procuram moradia. A lista de discriminações é longa.

“A liberdade de religião precisa ser cuidada”, disse o Padre Singh. “Essas leis anti-conversão são contra os direitos humanos e a dignidade humana. A Índia, que foi signatária da Declaração de Direitos Humanos da ONU, também faz parte do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos; por isso, aceita os direitos humanos que não podem ser descartados”.

O papel da Igreja entre os irmãos perseguidos

“Eu reconheço que a Fundação Pontifícia ACN tem desempenhado um papel muito importante para lidar com as consequências da violência; somos gratos a vocês, por prestarem apoio e solidariedade em favor da sobrevivência das vítimas.”

“Desejamos que haja uma audiência pública internacional para todos aqueles que estão sendo martirizados e prejudicados; ou ainda, que tenham sido atacados; que eles possam ter estas questões melhor conhecidas e que uma lição seja aprendida com isso.”

“Eu temo a próxima onda de violência: poderá ser horrível. Não pode haver um segundo Khandamal repetido na Índia”, conclui o Padre Singh.

 

Fonte: ACN

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