CONSELHOS DO PAI TOBIT

                Qualquer que seja o assunto, “nunca permita que o orgulho domine o teu espírito ou tuas palavras, porque ele é a origem de todo mal” (Tob 4,14). Eis o orgulho. Eis a fonte profícua, a raiz de toda e qualquer maldade humana.

                Não vou aqui dissertar sobre um tema de moral ou ética, pura e simplesmente. Não é minha intenção arvorar-me em um doutorado que não possuo. Seria presunção da minha parte, outra forma de orgulho, que alimenta nossa vaidade. A bem da verdade, não sei sequer o que pretendo com o assunto em pauta. Mas vamos em frente.

                Resolvi abordá-lo à luz dos conselhos de um pai ancião, Tobit, que no leito da própria morte orientou seu filho, Tobias (aquele do livro bíblico, cujas citações aqui presentes você encontrará no quarto capítulo, seguindo os versículos referentes). Seus conselhos estão eivados da humildade que esse momento proporciona. A morte se avizinha, está à porta! Que se danem nossas vaidades, o orgulho pessoal, as conveniências… São conselhos do pai moribundo, porém temente a Deus. Conselhos de um homem de fé.

                “Ouve, meu filho, as palavras que te vou dizer”. Eis o desejo de um pai que se despoja de tudo, especialmente de sua sabedoria e espiritualidade, a melhor das heranças que um pai pode legar a um filho.

                Primeiro: “Honrarás tua mãe todos os dias de tua vida”. Oh, Deus, como o mundo está distante desse princípio! Quantos filhos às margens dos padrões familiares, sem o aconchego de um lar, sem a presença materna a lhes conduzir os primeiros passos! “Conserve sempre em teu coração o pensamento e Deus” (4). Ao menos isso, pois que é cada vez maior a distância entre a fé e a vida.

                Assim, quem sabe, verás as necessidades dos mais próximos. “Dá esmolas… não te desvies de nenhum pobre, pois assim fazendo, Deus tampouco se desviará de ti” (7). Ah, segredo sábio e santo! Só os despojos da morte para nos ensinar a razão de nos despojarmos de nós mesmos, de nossas mesquinharias e ilusões que acumulamos em vida. “Se tiveres muito, dá abundantemente; se tiveres pouco, dá desse pouco de bom coração” (9). Obrigado, pai Tobit, porque a esmola é prática dos vivos, não dos mortos.

                Então molde tuas ações na prática do bem, sem olhar a quem. “Guarda-te de jamais fazer a outrem o que não quererias que te fosse feito” (14). Queres mais? É claro o princípio da convivência fraterna, a origem da justiça divina sem revide, sem retaliações. Se é desagradável a ti, também o será a outrem. Se isso dói em ti, te fere, te magoa, certamente será da mesma forma ao semelhante. As regras da convivência humana, distantes da lei do talião, do olho por olho (pois assim estaríamos todos cegos) é o caminho mais coerente da fraternidade que sonhamos.

                Conselhos básicos, primários! Conselhos de alguém que parte e leva consigo a sabedoria de uma existência. Eis, portanto, o último conselho, aquele que deveria ser o primeiro na busca dos valores que almejamos em vida: “Bendize a Deus em todo o tempo, e pede-lhe que dirija os passos, de modo que os teus planos estejam sempre de acordo com a sua vontade” (20). Depois dessa, só mesmo sendo surdo para não entender a clareza desse apelo. Que nossos planos estejam em sintonia com os planos de Deus! Nunca desprezes uma voz de experiência, uma lição de casa, em especial aquela da casa paterna sabiamente governada pela sintonia com a vontade de Deus. Um conselho paterno, com esses princípios, é um conselho do próprio Deus.

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